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MYLTON SEVERIANO E PALMÉRIO DÓRIA ASSINAM O PRIMEIRO LIVRO A TRATAR DA PARTICIPAÇÃO DOS GRANDES JORNAIS NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010, E, SEGUNDO OS PRÓPRIOS AUTORES, DEVIDO AO TEOR DA OBRA, VOCÊ NÃO DEVE OUVIR FALAR MUITO SOBRE ESSE LIVRO NOS JORNALÕES
Rodolfo Borges_247 – A bala de prata da eleição de 2010 foi uma bolinha de papel. Uma bolinha de papel que surpreendentemente acertou a cabeça do então candidato José Serra com o peso de dois quilos – pelo menos de acordo com as primeiras notícias veiculadas pelos principais jornais do país. É com essa história que os jornalistas Palmério Dória e Mylton Severiano abrem “Crime de Imprensa”, o primeiro livro a tratar das eleições de 2010 sob a ótica do jornalismo. E, pelo tom satírico dado pelos autores ao assunto, a avaliação não é lá muito lisonjeira.
Palmério e Mylton, jornalistas com história e passagem pelos maiores veículos de imprensa do país, prometem um “retrato da mídia brasileira murdoquizada”, mains interessada em negócios do que em notícias, e reconhecem, em tom de desafio, que não devem conseguir uma única resenha sobre o livro nos grandes jornais. “'Honoráveis Bandidos' não teve nenhuma, não vejo por que esse teria”, disse Palmério ao Brasil 247, referindo-se ao livro lançado em 2009 pela dupla e que traça outro retrato – o do Brasil na era Sarney –, sem mostrar muita preocupação. “O livro (Honoráveis Bandidos) frequentava os jornais pela lista dos mais vendidos”, brinca o jornalista.
Crime de Imprensa ficou pronto na última sexta-feira (28/10) e começa a ser distribuído nesta semana pelas livrarias do país (também pode ser comprado pelo site da editora, Plena Editorial), mas quase não sai. Os autores receberam negativas de três editoras – uma delas nem quis sentar para conversar depois de conhecer o assunto – e já se preparavam para lançar apenas a versão digital do livro quando a Plena Editorial comprou a briga. “Nossa ideia é lançar o livro nas próximas semanas, com atenção especial para a estudantada”, diz Palmério, que promete mais do que um mero relato sobre o desempenho dos grandes noticiários nas eleições de 2010.
As análises dos autores sobre o último pleito surgem situadas numa perspectiva histórica que recupera a participação da imprensa na política brasileira desde 1954, “o 1964 que não deu certo”, lembra Palmério, em referência à tensão política que resultou no suicídio de Getúlio Vargas – os protagonistas dos jornais da época eram Carlos Lacerda e Samuel Wainer. O tom histórico é reforçado pelo prefácio do livro, assinado por Lima Barreto, em texto recuperado que mostra como a imprensa nacional vem se comportando de forma parecida há algum tempo. Mino Carta reforça o time e dá o mote do livro em citação estampada na capa: “Na maioria dos casos a mídia é ponta-de-lança para grandes negócios”.
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Para os autores do livro, a grande diferença entre os dias de hoje e as décadas passadas é a existência da “blogosfera”, que possibilita a circulação de opiniões e versões divergentes do noticiado pelos grandes jornais. Com visões tão críticas sobre grupos e famílias tão poderosas – um terceiro livro está em produção, mas é sigiloso, para que os afetados não tentem evitar sua publicação –, uma pergunta se impõe: como é que os autores se sustentam? “A gente sobrevive. Aliás, acho que o melhor termo para nos definir é esse: sobreviventes”, define Palmério, que publica “Crime de Imprensa”, também, para provar que ainda há espaço para as grandes reportagens. Nem que seja fora dos grandes jornais.
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