terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O "MENSALÃO" E A DITADURA DA IMPRENSA CONSERVADORA



 
Retrato do Brasil: a farsa do "mernsalão" e a ditadura da mídia conservadora
Por Emir Sader

“O editorial da revista 'Retrato do Brasil' (fev/2012), com o título “Com a faca no pescoço, ou sem a faca?”, expõe, mais uma vez, o instinto ditatorial da grande mídia conservadora: ela pretende fazer o papel de polícia, tribunal e algoz de suas vítimas. E pressiona o STF a desrespeitar os autos e ir além dos delitos realmente praticados no chamado mensalão.

No final do ano passado, o jornalista [tucano] Augusto Nunes relembrou, no site da [ultradireita] “Veja.com”, detalhe significativo da primeira plenária do Supremo Tribunal Federal que tratou do caso do mensalão, a sessão de aceitação da denúncia que abriu o inquérito naquela corte. Nas palavras de Nunes: “Às nove e meia da noite de 28 de agosto de 2007, o ministro Ricardo Lewandowski chegou ao restaurante em Brasília ansioso por comentar com alguém de confiança a sessão do Supremo Tribunal Federal que tratara da denúncia do então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre o escândalo do mensalão. Por ampla maioria, os juízes endossaram o parecer do relator Joaquim Barbosa e decidiram processar os 40 acusados de envolvimento na trama. Sem paciência para esperar o jantar, Lewandowski deixou a acompanhante na mesa, foi para o jardim, na parte externa, sacou o celular do bolso do terno e, sem perceber que havia uma repórter da “Folha de S. Paulo” por perto, ligou para um certo Marcelo. Como não parou de caminhar enquanto falava, a jornalista não ouviu tudo o que ele disse durante a conversa de dez minutos. Mas qualquer uma das frases que anotou valia manchete.”

Depois dessa abertura, num texto mais longo, Nunes cita algumas das frases de Lewandowski: “A tendência seria amaciar para o Dirceu”, “A imprensa acuou o Supremo”, “Todo mundo votou com a faca no pescoço”, “Não ficou suficientemente comprovada a acusação”. 

Ao relembrar a história, Nunes ataca Lewandowski por sua declaração de que o julgamento poderá ser realizado apenas em 2013, pois ele terá de proferir um voto paralelo ao de Barbosa, será o revisor oficial do voto deste na sessão plenária e terá de ler os 130 volumes dos autos um a um – em suas próprias palavras –, porque não poderá “condenar um cidadão sem ler as provas”. Nunes disse, em seu comentário, que Lewandowski “se puder, vai demorar seis meses para formalizar o que já está resolvido há seis anos: absolver os chefes da quadrilha por falta de provas”. E concluiu, com uma espécie de conclamação ao público da “Veja.com”, o qual ele chama de “o Brasil decente”: “Para impedir que o STF faça a opção pelo suicídio moral, “o Brasil decente” deve aprender a lição contida na conversa telefônica de 2007. Já que ficam mais sensatos com a faca no pescoço, os ministros do Supremo devem voltar a sentir a carótida afagada pelo fio da lâmina imaginária.”

Em sua catilinária, Nunes repete o que a grande mídia mais conservadora diz desde meados de 2005, quando o escândalo começou, a partir de duas entrevistas de denúncia na “Folha de S. Paulo”. O denunciante, o então deputado federal e atual presidente do PTB, Roberto Jefferson, falou de uma mesada, um “mensalão”, paga regularmente a deputados de partidos da base aliada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que votassem com ele. Nunes e outros editorialistas de mesma opinião querem o julgamento do mensalão imediatamente e a condenação dos acusados, especialmente de José Dirceu, apontado como o “chefe da quadrilha”. Eles acham ter sido o caso mais do que bem apurado, por eles. E acham, também, que é preciso por na cadeia os que eles consideram culpados.

Felizmente, no Brasil ainda não é assim. O julgamento será feito não pela mídia, mas nos termos da lei, numa sessão plenária do STF, instituição em que corre o processo. Depois da aceitação da denúncia, em 2007, foi aberta a Ação Penal nº 470, e os réus foram ouvidos e apresentaram suas testemunhas. No segundo semestre do ano passado, todos – acusação, defesa e relator – expuseram suas considerações finais. Faltam, agora, o voto inicial de Barbosa e o voto do revisor, Lewandowski, para o julgamento começar, o que talvez aconteça ainda neste semestre.

O que está em discussão, efetivamente? A nosso ver, examinando o conteúdo do processo, Nunes não tem razão, mesmo que sua opinião seja mais ou menos a mesma de uma autoridade indiscutível no caso, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para quem o mensalão é “o maior crime político da história da República”. Não é estranho que Gurgel e Nunes tenham opiniões parecidas. No Brasil, está acontecendo esse fenômeno na política. Alguns políticos, e mesmo procuradores e magistrados, processam o que a mídia investiga. E como ela investiga mal, vê-se algo como neste caso: o procurador-geral, num dos aspectos centrais da Ação Penal nº 470, tentando sacramentar o julgamento já feito pela grande mídia mais conservadora. Como diz Nunes, o caso “já está resolvido há seis anos”.

No País, felizmente, a grande mídia ainda não tem o poder legal de decidir quem deve ou não ser condenado e preso. Os julgamentos ainda não são feitos a partir do que a mídia mais conservadora escreve, embora ela se empenhe nesse sentido. Os julgamentos são realizados com base nos autos. Ainda existe o devido processo legal, que obriga a provar as acusações com depoimentos, fatos, laudos periciais. E, a nosso ver, os termos da denúncia do procurador-geral usados para justificar sua pretensão de ter revelado “o maior crime de nossa história” alinhavam um conjunto de indícios precários, alguns manifestamente ainda não investigados quanto à sua ligação com a tese principal da acusação.” 

[OBS deste blog ‘democracia&política’: complementando o bom artigo acima, acrescento alguns casos de corrupção abafados e não cobrados pela “grande” mídia, sobre o mesmo tema “mensalão”. Apresento trechos extraídos do Wikipedia  (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mensal%C3%A3o_mineiro) e  (http://pt.wikipedia.org/wiki/Esc%C3%A2ndalo_do_Mensal%C3%A3o_no_Distrito_Federal_) : 

1) “Mensalão tucano”, também chamado [eufemicamente) de “mensalão mineiro”, ou ainda “valerioduto tucano”, é o escândalo de corrupção que ocorreu na campanha para a eleição de Eduardo Azeredo (PSDB-MG) - um dos fundadores e presidente do PSDB nacional - ao governo de Minas Gerais em 1998, e que resultou na sua denúncia pelo Procurador-Geral da República ao STF. A denúncia foi baseada no Inquérito nº 2280 que a instrui. Azeredo é acusado de "peculato e lavagem de dinheiro". O Procurador-Geral da República denunciou, também, 15 políticos pelos mesmos crimes de peculato e lavagem de dinheiro e afirmou que o esquema foi montado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para injetar dinheiro público na campanha a governador do tucano Eduardo Azeredo (PSDB-MG). As investigações atingem o então secretário do governador mineiro, o tucano Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à presidência da república em 2010. O Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia criminal por cinco votos a três. Votaram pela aceitação os ministros Ricardo Lewandowski, Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto e Marco Aurélio, que acompanharam o voto do relator Joaquim Barbosa, tornando Eduardo Azeredo réu pelos crimes de peculato (roubo de dinheiro público) e lavagem de dinheiro. Desde então, nunca mais o assunto foi abordado pela mídia



Senador Eduardo Azeredo, então Presidente Nacional do PSDB 
2) “Mensalão dos Democratas” (DEM), escândalo do também eufemicamente tratado na mídia como “Mensalão no Distrito Federal”, “Mensalão do GDF”, “Mensalão do Democratas de Brasília”, é o escândalo de corrupção que surgiu no final de novembro de 2009, descoberto pela Polícia Federal, através da “Operação Caixa de Pandora”. O principal envolvido, o então governador José Roberto Arruda (DEM), estava cotado para ser o vice-presidente de José Serra, governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB, nas eleições de 2010. Em agosto de 2010, a Polícia Federal concluiu o relatório final da “Operação Caixa de Pandora”, que aponta o ex-governador José Roberto Arruda como chefe de uma organização criminosa para desviar recursos públicos por meio de empresas contratadas por seu governo.”



Serra e Arruda, pretendentes à presidência e vice-presidência do Brasil!!!FONTE: revista “Retrato do Brasil”, edição n° 55, fevereiro de 2012. Transcrito no portal “Vermelho”. (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=174861&id_secao=6). [Imagens do Google e trechos do Wikipedia, obtidos nos endereços acima citados, adicionados por este blog ‘democracia&política’]

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