sexta-feira, 18 de maio de 2012

Petralhas que gostam de ser apedrejados


Ex-Cansei, o habilidoso João Doria cativou o PT

Ex-Cansei, o habilidoso João Doria cativou o PTFoto: Edição/247

OPOSITOR DE PRIMEIRA HORA DO GOVERNO LULA, EMPRESÁRIO JOÃO DORIA JR. SOUBE COMO LANÇAR PONTES PARA ABORDAR O GOVERNO DILMA; EPISÓDIO DO EMPRÉSTIMO DE JATINHO A FERNANDO PIMENTEL TEM COMO MOLDURA AS MELHORES RELAÇÕES DELE COM PETISTAS COROADOS COMO ALUÍZIO MERCADANTE E JAQUES WAGNER; NA SEGUNDA 21, SERÁ ANFITRIÃO DE ALEXANDRE TOMBINI, DO BC

18 de Maio de 2012 às 14:16
247 – Na segunda-feira 21, o empresário João Doria será anfitrião, em São Paulo, do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, num almoço-debate com os integrantes do Lide. Se, porventura, Tombini vier a fazer o trajeto entre Brasília, onde mora, e a capital paulista, num jatinho de Doria, isso não soaria como inaquedado e, para a oposição, um grosso escândalo? Pois é. O caso da confortável viagem do ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, nas asas de Doria, entre a Bulgária e a Itália, ano passado, pode ser enquadrado na mesma categoria.
Você pode torcer o nariz para o estilo francamente janota de Doria, mas não dá para dizer que ele não sabe como chegar onde quer. Nos últimos tempos, com receio de fazer do seu LIDE, o  Grupo de Líderes Empresariais que preside, uma ilha isolada e distante do continente de poder dominado pelo PT, uma a uma ele lançou pontes na direção do governo Dilma. E atravessou a todas elas. A proeza de ter um dos ministros mais próximos da presidente dentro do seu jatinho, enviado à Bulgária para carregar Fernando Pimentel para Roma, à fim de dar peso político ao evento Meeting Internacional, é apenas uma mostra da intimidade que ele vem desfrutando entre petistas coroados. O ministro da Educação, Aluizio Mercadante, por exemplo, já virou seu amigo pessoal, convidado para praticamente todos os eventos que a Doria Associados realiza – e aos quais o ministro faz questão de comparecer e discursar. Ambos se acostumaram a assistir, lado a lado, jogos decisivos do Santos Futebol Clube, paixão que tem em comum. O governador da Bahia, Jaques Vagner, é outro que tem com Doria uma relação bastante próxima, anfitrião, em Ilhéus, do principal momento do recheado calendário anual da Doria Associados, o Fórum Empresarial de Comandatuba. Ali, centenas de empresários são reunidos em torno de um cenário paradisíaco para tratar de temas que dependem, para o seu desenvolvimento, diretamente da vontade política do governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, faz questão, nos últimos anos, de falar ao menos uma vez a cada período de doze meses diante do Lide.
Nem sempre, porém, os petistas tiveram espaço com o rigoroso Doria. Na Era Lula, o empresário lançou o Cansei, movimento que, sem meias palavras, atacava o que considerava ser uma situação de corrupção endêmica no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A lógica era a de que, estafados com as notícias de escândalos na administração petista, os empresários participantes apoiavam o final antecipado da gestão. Antes, durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso, os petistas mal pisavam nas calçadas dos salões nobres em que as atividades organizadas pela Doria Associados se realizavam.
Filiado ao PSDB, iniciado na política pela mão do ex-governador Mario Covas, que dedicou-lhe a presidência da Paulistur no tempo em que foi prefeito nomeado de São Paulo, Doria foi cogitado pelo governador Geraldo Alckimin, no início deste ano, para concorrer à Prefeitura de São Paulo, no hiato aberto pela relutância, àquela altura, de José Serra assumir sua própria candidatura.
No período mais agudo de oposição de Doria ao governo do PT, alguns petistas mais próximos a Lula tentar incentivar uma espécie de dissidência do Lide, de modo a terem o seu próprio grupo de empresários amigos, mas não prosperou. Habilidoso e cativante, Doria percebeu a manobra e tratou de fazer as suas correções.
Doria, que prega a transparência, teve como primeira reação negar que tivesse enviado o jatinho para transportar Pimentel da Bulgária para a Itália. O ministro diz o contrário, ao afirmar que aceitou a, digamos, gentileza de Doria em razão de não ter, ele próprio, em meio a uma viagem oficial da presidente Dilma, outra maneira de atender ao convite do empresário. É certo que, com sua presença no Meeting Internacional, Pimentel acrescentou peso político e administrativo a um evento que tratou de temas econômicos diretamente associados à ação governamental. A rápida viagem, se depender do oposicionista PPS, pode custar o cargo a Pimentel, denunciado nesta sexta-feira 18 ao Conselho de Ética da Presidência da República, cujo código de normas veda a aceitação, pelas autoridades da alta administração, de favores desse tipo.

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