terça-feira, 15 de maio de 2012

Tyson, o showman



O ex-campeão mundial de boxe troca os ringues pelos palcos de 

Las Vegas, onde canta, dança e conta sua história de vida

Flávio Costa

Assista ao resumo de sua carreira – dentro e fora dos ringues – e episódios polêmicos em vídeo preparados por ISTOÉ Online :
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O ex-campeão mundial de boxe troca os ringues pelos palcos de Las Vegas, 
onde canta, dança e conta sua conturbada história de vida
Iron” Mike, Garoto Dinamite, a Fera, o “Homem mais Malvado do Planeta”. Todos esses epítetos serviram nos anos 80 e 90 para identificar o mais jovem e furioso dos boxeadores que já tiveram a honra de envergar o título mundial dos pesos-pesados. Hoje, aos 45 anos, longe dos ringues e numa versão menos explosiva, Mike Tyson ensaia alguns passos de dança, soca inofensivamente o ar, canta um clássico do compositor Nat King Cole e revela a sua conturbada história em um monólogo que estreou no mês passado nos Estados Unidos. O ex-astro dos ringues tenta se vender como protagonista de um épico de redenção, mas o que se destaca no show de 75 minutos é muito xingamento, frases entrecortadas e relatos de orgias, violência e abuso de drogas. “Eu era um cheirador gordo”, revela, sobre seu vício em cocaína.

“Havia um menino/um menino muito estranho e encantado...”, Tyson começa a apresentação cantando desgraciosamente um clássico de Cole, “Nature Boy”. O show “Verdade Incontestável – Ao Vivo” ficou em cartaz durante uma semana no MGM Grand Hotel, em Las Vegas, onde o ex-lutador esmurrou dezenas de adversários – foram 44 nocautes em 51 vitórias. “Eu nocauteava os filhos da p... em 30 segundos”, afirma Tyson, em roupa de gala. “Eu realmente sou um animal, caras. Apenas me visto bem.” Na terra dos cassinos, o êxito foi garantido. Os ingressos da área VIP – US$ 117,49 cada um (R$ 230,57) – esgotaram-se rapidamente. “Muitos de vocês se perguntarão: ‘Meu Deus, o que ele está fazendo!?’ Para ser sincero, eu me pergunto a mesma coisa”, diz. A terapia no palco tem sido bastante lucrativa. Tanto que ele pretende levar o show para a Broadway, em Nova York, e para Londres (Inglaterra).

Mike Tyson foi o último grande astro da história do boxe, hoje um esporte cada vez mais relegado a segundo plano e com a popularidade ameaçada pela vertiginosa ascensão do MMA. A trajetória de miserável criminoso adolescente de Nova York a campeão mundial de boxe aos 20 anos, com 19 nocautes, atraiu holofotes, capas de revista, mulheres e lhe rendeu bolsas de luta que chegavam a US$ 30 milhões – a quantia que Tyson recebeu para morder a orelha de Evander Holyfield, na revanche pelo título dos pesados, na arena do MGM Grand Hotel, mesmo lugar onde ele procura se manter em evidência contando, entre outras coisas, como sua mãe, prostituta e alcoólatra, amava mais a garrafa do que o próprio filho.
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O monólogo para endinheirados fãs de lutas e turistas em Las Vegas é mais uma cartada para voltar à ribalta. Antes de subir ao palco, ele estrelou um estranho reality show sobre corrida de pombos, virou tema de um documentário e fez pontas em filmes, como a franquia “Se Beber, Não Case”. Uma reviravolta para quem, em 2003, no auge do ostracismo, havia decretado falência. Nenhum assunto controverso deixa de ser tocado no roteiro escrito pela terceira mulher, Kiki. O ex-pugilista, porém, está longe da total sinceridade, como atesta a revista “Time”: “O único personagem no drama também é um empecilho à narrativa. Como intérprete, Tyson força a mão e tem um hábito nervoso de dizer ‘merda’ no fim de praticamente todas as frases.” 

Tyson se mostra mais assertivo quando detona seu ex-promotor de lutas, o controverso Don King. “Quando eu encontrei Don, não sabia que estava me reunindo com o diabo.” O público vibra. “Você está indo muito bem, Mike”, ouve-se da plateia. O ex-boxeador sai-se ainda melhor ao contar as passagens polêmicas de sua carreira. Órfão de mãe aos 16 anos, ele foi adotado pelo lendário treinador Cus d’Amato, que assumiu sua tutela, lhe apresentou os livros e o poliu para o ringue. O tutor morreu antes de o pupilo se sagrar campeão. “Mas ele massageou a minha mente”, afirma Tyson. Com o título, sua roda-viva pessoal deu mais um giro. Orgias com 24 mulheres numa só noite, internações em clínicas para tratar do vício em cocaína e a ostentação da riqueza, pois Tyson esbanjava. Era capaz de gastar, em uma tarde, US$ 150 mil na loja da grife Versace e torrar US$ 4,5 milhões em carros e motos. Em 1992, dois anos após perder o cinturão pela primeira vez, veio a grande queda. Ele foi condenado pelo estupro de Desiree Washington, vencedora de um concurso de beleza. “Eu merecia ir para a cadeia por um monte de coisas. Mas eu não fiz isso, e nunca vou admitir que fiz.” Passou três anos em uma penitenciária, mas a prisão não aplacou sua voracidade sexual. Na mesma semana em que sapateava em Las Vegas, a imprensa americana revelou que ele engravidou uma guarda de penitenciária. “Na prisão as coisas acontecem. Mas ela não teve a criança”, declarou Tyson, pai de oito filhos. Em 2009, ele perdeu a filha Exodus, de 4 anos, vítima de um acidente doméstico.

Ao sair da cadeia, o ex-pugilista chegou a reconquistar o título, mas perdeu o cinturão para Evander Holyfield em 1996. No ano seguinte, durante a revanche, aconteceu a vergonhosa mordida, que ele tenta justificar como um revide a uma cabeçada de Holyfield cujo golpe havia ferido seu supercílio. Tyson põe a culpa no juiz da luta – “Ele me odiava.” Ainda hoje, a desculpa soa inconvincente. “Eu espero que você tenha conhecido um pouco mais sobre mim – Mike Tyson. Espero que você tome algo para si mesmo. Essa é a minha verdade incontestável, e isso é tudo o que eu ­tenho.” As luzes se apagam, mas Kid Dinamite, um pouco mais manso, continua em cena.

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