terça-feira, 26 de junho de 2012

A crise do setor aéreo



DEZENAS DE EMPRESAS AÉREAS BRASILEIRAS FALIRAM E O ESTADO NÃO MOSTRA O MENOR ÍMPETO DE COMBATER ESSE VERDADEIRO SUICÍDIO QUE ACONTECE, INVARIAVELMENTE, NESTE MERCADO

Dezenas de empresas aéreas brasileiras faliram e o Estado não mostra o menor ímpeto de combater esse verdadeiro suicídio que acontece, invariavelmente, no setor.
Com efeito, temos cerca de 60 aeroportos, ao passo que os Estados Unidos contam com mais de 1.000 e a Europa supera 3.000, com nítidas diferenças, pois voam durante o inverno, com temperaturas baixas e constantes neves.
No Brasil, ao contrário, uma neblina forte é motivo de fechamento dos aeroportos e adiamento de voos, e mais uma vez se instaura o caos aéreo.
Ficou comprovado que nenhuma empresa aérea brasileira sobrevive sem turbulências depois de sua primeira década de funcionamento, os fatores são os mais variados, desde a irracionalidade da rede, o tamanho do Brasil, a falta de infraestrutura, o peso da burocracia.
Uma nação que pretende estar entre aquelas do primeiro mundo necessita, inadiavelmente, de um setor aéreo pujante.
Não temos sequer uma empresa aérea brasileira, exclusivamente, que realize voos para o exterior e, hoje, o contingente de brasileiros rumo ao estrangeiro é enorme.
Constantes déficits operacionais são marcantes, e mesmo que se projete um custo menor, nada disso se incorpora ao setor, e o atravancamento da malha aérea conta também com a ausência total de infraestrutura na ligação do transporte multimodal.
Enquanto no exterior, feito o desembarque, logo se pega um trem ou qualquer outro meio rápido de transporte, aqui precisamos dos ônibus ou de reduzido número de táxis.
A dúvida cresce ainda mais em tempo de realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos.
Ao invés de estádios de futebol, deveríamos priorizar aeroportos de Primeiro Mundo, com boas instalações, deslocamentos de cargas e bagagens, e oferecer aos consumidores locais e internacionais um transporte de segurança, com equipamentos e serviços de terra compatíveis.
No entanto, o que vemos são taxas aeroportuárias elevadas, custos incompatíveis, frequentes atrasos ou cancelamentos.
A própria operação na América do Sul é dificultosa, tanto que uma aérea já decidiu que não mais voará com destino ao Chile.
Recentemente, a Tap disse que não ficaria mais em Viracopos, ao passo que a Pluna também teria tomado a mesma decisão, pela falta de dutyfree, o que incomoda o turista pela falta de opção de mercadorias estrangeiras.
E, apesar da noticiada privatização feita pelo governo, a passo de cágado, os problemas são incontáveis, daí porque a grande maioria das empresas aéreas nacionais não consegue ter fôlego ou capacidade econômico-financeira para superar os impasses gerados pela falta de visão e amplitude num setor chave da economia.
A construção de mais aeroportos é fundamental, com número de pistas correspondentes aos transportes de passageiros e de carga, um País que pretende dar saltos de qualidade não pode impor restrições e continuar se movimentando pelas estradas, por caminhões e ônibus, exclusivamente, consumindo petróleo e derivados, com grave afetação ao meio ambiente.
Na era da tecnologia, e com a força da Embraer nesse contexto, o Brasil perde terreno e não reage ao desafio internacional de ter uma companhia aérea independente, que possa usufruir das comodidades de infraestrutura e, seguramente, contar com slots nos principais aeroportos do exterior. Ficamos na dependência da boa vontade das parcerias e alianças.
Ninguém dúvida que o setor aéreo patina, várias empresas americanas foram à concordata, a japonesa também atravessa fase de recuperação, a italiana fora absorvida por um consórcio, participando o Estado, igualmente a vizinha Argentina.
Esse retrato de crise que abala as grandes empresas aéreas, ao contrário, deve ser um incremento para que o Governo brasileiro e seus empresários pensem na consolidação de uma marca nacional para rasgar o espaço aéreo internacional e, dessa forma, termos uma companhia exclusivamente destinada aos demais continentes, pois, dessa maneira, adquiriremos experiência e faremos a diferença.
Carlos Henrique Abrão é desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo

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