segunda-feira, 30 de julho de 2012

EDITORIAL I: QUEM NOS JULGA? QUEM NOS INFORMA




Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises

Geraldo Elísio

 “Não trabalhamos apenas para ganhar dinheiro, mas para encontrar o significado de nossas vidas. O que fazemos é grande parte do que somos”. – Alan Ryan

César de Alencar Bicalho foi um jovem estudante e depois professor e filósofo contestador muito atuante em Belo Horizonte na década de 70. Por primeiro, detestava ser “xará” do apresentador de auditório da Rádio Nacional do Rio de Janeiro a quem acusava de ser “dedo duro” do golpe civil militar de 64. O seu auditório era o mundo e o comportamento dos seres humanos a plateia. Modesto, se auto-intitulou o “filósofo municipal” de Beagá, aplicando “bordunas filosóficas”, título de um dos inúmeros jornais mimeografados que ele criou para aguilhoar situações merecedoras de críticas. Da mesma forma como usava as cores precedidas de bandeiras para nomear os documentos mimeografados, traduzindo o seu estado de espírito ou visão filosófica e que não raro deixavam irados esquerdistas e direitistas.

Sendo o “filósofo municipal” como tal tinha lá suas excentricidades. Quando ficava “roxo de raiva”, “branco de susto”, “amarelo de medo”, os jornais de pré-nomes bandeiras podiam variar de matizes com a mesma facilidade com a qual os pintores passeiam os seus pincéis pelas paletas em busca da texturização de uma tela. Mas um dia por uma razão banal, em frente a muitas pessoas que participavam de uma exposição de arte da pintora Yara Tupinambá tendo como cenário uma galeria da Caixa Econômica Federal a bandeira foi tinta de vermelho, não da “fraternidade”, mas do sangue de um segurança particular criminoso e imbecil, com apenas três dias de treinamento no Parque Municipal, que pôs fim a troco de nada à vida dele com um disparo a queima roupa que o atingiu na boca silenciando para sempre o “filósofo municipal” que não estava armado sequer de um palito nem esboçou o mínimo gesto de reação, pois era manso feito um cordeiro.

Mas a sua excentricidade maior foi a criação do “pensatório”, uma casa de cachorro onde o “filósofo municipal” enfiava a cabeça, se é mesmo que Freud explica tudo, penso eu, para tentar entender o mundo cão. “Branco de espanto” gostaria de ouvir do “filósofo municipal”, alguns fatos de hoje, o que certamente exigiria dele enfiar a cabeça no “pensatório” para me responder com um mínimo de lógica o que é próprio da filosofia. Indagaria basicamente quem me julga e aos outros brasileiros, da mesma forma como quem nos informa?


Depois que a revista Carta Capital da última semana divulgou que o valerioduto abastecia também o ministro Gilmar Dantas (segundo o jornalista Ricardo Noblat), e que se utiliza de “capangas”, conforme foi dito de público via TV do Judiciário pelo seu colega o ínclito ministro Joaquim Barbosa, além de outros meritíssimos e meritíssimas, bem como respeitáveis (?) órgãos de comunicação e “coleguinhas” fico a pensar na expressão “bandidos de toga”, cunhada pela corregedora do povo ministra Eliana Calmon e no vocábulo “PIG”, criado pelo Stanley Burburinho, informante do jornalista Paulo Henrique Amorim?

Perguntar, além de obrigação de repórter não ofende. Diante de tudo isto o que poderá ocorrer se for feita uma varredura abrangente a envolver os cartórios da primeira instância e todos os demais dos tribunais revisores até a última corte, aquela que a partir do próximo dia dois irá dar início ao julgamento do “mensalão”.


Sem entrar em questão de mérito e principalmente abominando a generalização que por si somente já é uma injustiça, o que pensar do desembargador José do Carmo, o também presbítero que ao que parece esqueceu Marcos 11:15, 11:16 e 11:17, quando na Bíblia fala sobre Jesus expulsando os vendilhões do templo:

“Marcos 11:15 E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.

Marcos 11:16 Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo;

Marcos 11:17 também os ensinava e dizia: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores”.


Cristo segundo o Livro Sagrado fez um azorrague, derrubou as mesas dos cambista e deixou clara a sua indignação. Quando ele voltar, de acordo com as Escrituras, penso tem muita gente para ser azourragada. Mas isto é um pensamento meu. E falando em pensamento será que ao criar a imprensa Gutemberg pensou em informar ou desinformar. Há um boato corrente em Minas Gerais que a dita grande imprensa sonha com o dia em que nada ocorra no mundo para que ela possa circular apenas com os cadernos de pequenos anúncios, a publicidade e as colunas sociais com os elogios cronificados.

Quem nos julga? Quem nos informa? O meu, o seu, o nosso destino depende disto. Quem legisla e executa o nosso futuro. O momento é adequado para reflexões.

O “filósofo municipal” a quem a Justiça não fez justiça, depois de alguns minutos de cabeça posta no “pensatório” responderia. Mas ele não está mais entre nós. Então, como diz no samba a Beth Carvalho, “responda quem souber”. Limito-me a imagina que há algo de podre no reino da Dinamarca.  O que me atinge, mesmo morando no Brasil.

Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

geraldo.elisio@novojornal.com

http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=43782




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