domingo, 15 de julho de 2012

Não pode parar por aí


Cassação do senador Demóstenes Torres representou a primeira 

punição do caso Cachoeira. Mas as investigações sobre os demais 

parlamentares envolvidos no esquema precisam continuar

Pedro Marcondes de Moura
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FIM DE LINHA
Cassado por 56 votos a 19, Demóstenes Torres fica
proibido de se candidatar até 2027, quando terá 66 anos
Na quarta-feira 11, o painel do Senado Federal registrou pela segunda vez na história da Casa a cassação de um de seus integrantes: o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Apesar da eloquência do parlamentar em negar sua relação com o grupo criminoso, a maioria dos seus colegas preferiu dar ouvidos às interceptações da PF de suas conversas nada republicanas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Nem a votação secreta foi capaz de lhe salvar. Foram 56 votos pela cassação contra 19 e cinco abstenções. Sacramentada a derrota em plenário, Demóstenes perdeu seis anos de mandato. E fica proibido de se candidatar até 2027, quando terá 66 anos. Às vésperas do recesso no Congresso Nacional, que está previsto para começar na quarta feira 18, espera-se que a cassação de Demóstenes não signifique um ponto final nas investigações sobre os tentáculos políticos do esquema de Carlinhos Cachoeira. 

O problema é que líderes do Congresso avaliam que a CPI tende a perder força. A não ser que surjam futuras revelações bombásticas. “A pressão da opinião pública por punição deverá se reduzir”, disse um senador da base aliada. Além disso, em agosto, depois do recesso parlamentar, o Congresso volta esvaziado devido às eleições municipais. Não bastassem os prognósticos nada alvissareiros para o segundo semestre, no mesmo dia em que Demóstenes assistiu à sua derrocada política, a Corregedoria da Câmara analisou os casos de três deputados federais do Estado de Goiás supostamente vinculados ao esquema do contraventor. Os processos contra dois deles, Sandes Júnior (PP) e Rubens Otoni (PT), foram arquivados. O parlamentar do Partido Progressista teria recebido R$ 150 mil de intermediários do grupo do contraventor, segundo acusação do PSOL. Já o petista Rubens Otoni aparece em vídeo com o contraventor negociando uma doação de R$ 100 mil para sua campanha à Prefeitura de Anápolis em 2004. Otoni diz não ter recebido o valor.
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ENROLADOS 
O prefeito petista de Palmas, Raul Filho (abaixo), e o governador do
Tocantins, o tucano Siqueira Campos (ao lado), estariam
envolvidos com o esquema de Carlinhos Cachoeira
Outro investigado, o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB) não teve a mesma sorte. Apontado como “uma pessoa com larga relação com o contraventor”, ele teve o processo por quebra de decoro parlamentar aprovado pela Corregedoria. De acordo com investigações, ele tinha suas despesas pessoais pagas por Cachoeira e mantém sociedade com envolvidos na organização, investigada pela CPI. A Corregedoria ainda irá analisar a situação de Stepan Nercessian (PPS-RJ). Ele assumiu ter recebido R$ 175 mil de Cachoeira, na sua versão, como um empréstimo. “Só se a Casa for muito corporativa, não teremos um desenlace semelhante ao do senador Demóstenes para alguns parlamentares daqui”, diz o deputado Ivan Valente (SP), do PSOL. Para que haja cassação, o caso ainda precisa tramitar por outras duas comissões antes de chegar ao plenário. Em uma delas, em mais uma demonstração da dificuldade dos parlamentares em cortar na própria carne, o ex-delegado da PF Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) conseguiu o arquivamento da denúncia contra ele por envolvimento com um integrante do esquema.
“Só se a Casa for muito corporativa, não teremos 
um desenlace semelhante ao do senador 
Demóstenes para alguns parlamentares daqui”
Deputado Ivan Valente, do PSOL
No Senado, a saída de Demóstenes criou outro problema. Em interceptações da Polícia Federal, Cachoeira diz ao empresário Wilder Morais (DEM-GO), herdeiro da cadeira de Demóstenes na Casa, que foi ele que o alçou ao cargo de primeiro suplente na chapa do senador cassado. O relacionamento entre os dois parece bastante próximo nas conversas. Ex-marido de Andressa Mendonça, a atual mulher do contraventor, Wilder também precisará dar explicações sobre a omissão de boa parte de sua fortuna pessoal na declaração de bens que apresentou em 2010 à Justiça Eleitoral. Nada, no entanto, deve ser feito antes do recesso parlamentar, admitem os senadores integrantes da CPI. Nessa toada, Demóstenes corre o risco de ser o único a ir para o cadafalso. Enquanto deputados e senadores descansam, a situação de Demóstenes se agrava em outra frente. Na quinta-feira 12 ele se apresentou na Procuradoria da Justiça de Goiás, para ocupar o antigo cargo. Lá recebeu a notícia de que será investigado na Corregedoria e poderá perder o emprego. Enquanto isso, Demóstenes reivindica uma licença-prêmio de três meses, que pode lhe render cerca de R$ 240 mil.
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fotos: Ailton de Freitas/Ag. O Globo

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