Do Correio Braziliense
História no STF
Carlos Alexandre
Em dois dias, o Brasil testemunhará momento histórico: Joaquim Barbosa assume a Presidência do Supremo Tribunal Federal. O acontecimento de tamanha importância permite diversas leituras, compatíveis com o personagem complexo que, nos próximos dois anos, ocupará o mais alto cargo de um dos poderes da República. Dono de biografia singular e fascinante, o ministro apresenta currículo que o credencia com louvor a ocupar posto de tal magnitude. A admirável história pessoal — negro, filho de pedreiro e de dona de casa, aluno de escola pública — já seria suficiente para inspirar milhões de brasileiros.
Por seu lado, a ascensão de Joaquim Barbosa deve ser
vista pelo significado que representa em um país que passou mais de 300
anos sob o regime da escravidão. Um negro comandar a mais alta Corte de
Justiça do país, na mesma semana de homenagens ao herói Zumbi, simboliza
o avanço incontestável de uma nação que acumula uma dívida incalculável
com múltiplas gerações de brasileiros subjugados ao longo de séculos.
A chegada do ministro negro à Presidência do STF
ocorre, igualmente, semanas após a ampliação do sistema de cotas sociais
no ensino superior. Apesar das críticas e ressalvas, os resultados
demonstram que, do ponto de vista dos estudantes, a universidade
significa oportunidade real e preciosa de conquistar posição mais digna.
É certo que as universidades oferecem contribuição limitada para nossos
problemas educacionais — o desafio consiste em melhorar a qualidade do
ensino fundamental e médio, além de estimular cursos
profissionalizantes. Mas as políticas inclusivas constituem fator de
transformação social que não pode ser menosprezado. Pelas próximas
décadas, a sociedade brasileira terá como desafio permanente criar
maneiras de reparar tão longo período de injustiça e dominação sobre
parcela significativa de brasileiros.
A trajetória do menino de Paracatu também remete à história de outro negro, este havaiano. Por duas vezes, Barack Obama conseguiu a façanha de ocupar o cargo mais importante de uma nação que, há pouco mais de meio século, era marcada pela segregação racial. Esses dois personagens são exemplos concretos da força maior da democracia — dar oportunidade a todos os cidadãos.
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