sexta-feira, 5 de abril de 2013

Dilema ético de Ronaldo na Globo já foi caso de demissão na Band 216





Mauricio Duarte
Do UOL, em São Paulo


Assim que Ronaldo foi anunciado pela TV Globo como comentarista da emissora durante a Copa das Confederações, a questão de que ele iria avaliar o desempenho dos clientes na 9ine, sua empresa de marketing esportivo, foi imediatamente levantada. A discussão ética em torno do tema, no entanto, não é nova e já existe pelo menos um precedente conhecido em que jornalistas e comentaristas tiveram que abdicar de uma das duas funções por serem conflitantes.

Reportagem publicada na edição de janeiro de 1996 da revista "Placar" com o título "Piratas da TV" abordou o caso de jornalistas e comentaristas esportivos que usavam de sua influência no meio do futebol para agenciar jogadores. Na reportagem, Eli Coimbra, Luciano Junior e Octávio Muniz, então funcionários da TV Bandeirantes,  são citados como sócios da empresa Sports General Business, a SGB, que tinha como clientes Elivélton e Zé Elias. De acordo com a revista, Luciano chegou até a ganhar um carro Alfa Romeo do primeiro por ter arranjado sua transferência do futebol japonês ao Corinthians.
Colega de trabalho dos acusados na ocasião, o narrador Silvio Luiz disse à publicação que se sentia "constrangido" em dividir a mesma emissora com eles. A opinião do folclórico locutor sobre a questão continua a mesma e não é diferente em relação a Ronaldo.

"Depois daquela época isso até parou um pouco. Mas no Brasil não se tem mais respeito e ética por nada. Não é ético nem honesto. Os anunciantes do Ronaldo estão na Globo. Você acha isso ético? É a mesma coisa que o Wágner Ribeiro comentar um jogo do Neymar", afirmou ao UOL Esporte, fazendo alusão ao empresário do craque Santista.

Ampliar


A carreira de Ronaldo em fotos600 fotos

600 / 600
O jogador Ronaldo, do PSV Eindhoven, cabeceia bola durante treino da seleção brasileira no estádio Ramat Gan, em Israel Rogério Assis/Folha Imagem
Segundo foi anunciado na última quarta-feira, o "Fenômeno" trabalhará nas transmissões dos jogos da Copa das Confederações, que acontecerá em junho. É certo que comentará partidas nas quais Neymar, com certeza, Lucas, provavelmente, e Leandro Damião, talvez, estarão em campo. Os três são clientes da 9ine.

Em entrevista ao "Esporte Espetacular", da TV Globo, o maior artilheiro das Copas do Mundo se defendeu. "'Acho que já critiquei o Neymar. Minha opinião, independente da agência, é minha opinião, não vou faltar com ética com meu público e comigo mesmo. Na verdade, posso ser mais duro conhecendo ele, porque vivi algo parecido com o que ele está passando. Tenho minha opinião e ela será autêntica", disse.

No caso levantado pela "Placar" em 1996, todos alegaram que trabalhavam com marketing esportivo, especialmente os integrantes da SGB. A revista, no entanto, reuniu material que provava que os profissionais da Bandeirantes não apareciam no contrato social da empresa, mas sim como beneficiários das comissões dos negócios realizados.
Entre vários outros casos, a publicação diz que, em outubro de 1995, Eli Coimbra foi à Santa Catarina para cobrir um jogo entre Corinthians e Criciúma. Retornou com fitas de lances do zagueiro Alexandre Lopes, então com 21 anos, e uma autorização do clube catarinense para intermediar sua negociação com o time do Parque São Jorge. Um mês depois, a venda foi concluída por R$ 500 mil.

Na edição seguinte da revista, a TV Bandeirantes, em resposta ao que havia sido publicado,  informou que compartilhava com o pensamento de que as funções exercidas na emissora eram incompatíveis com as de empresários de atletas e que a confiança da empresa em seus funcionários havia sido "arranhada". A decisão da cúpula da emissora foi dar um ultimato aos profissionais para que eles escolhessem uma das duas atividades, ou seriam demitidos. Eli Coimbra preferiu dedicar-se à SGB, enquanto Luciano e Octávio se desligaram do meio empresarial e seguiram como jornalistas do veículo.

CASO ENVOLVENDO COMENTARISTAS TEVE REPERCUSSÃO NACIONAL

  • Outro citado na reportagem da revista "Placar" é Luis Orlando, que à época era apresentador de um programa esportivo na CNT e ao mesmo tempo representava o artilheiro Tulio, do Botafogo. Segundo o texto, ele "gastou passagens, telefonemas, fax e muita lábia para convencer dirigentes do Botafogo de que a redenção estava nos pés de Túlio – na época desacreditado e exilado no frio suíço. A comissão do persistente jornalista atingiu US$ 150 mil". Além disso, seus jogadores eram constantemente elogiados em seu programa.

Octávio Muniz responde às acusações da reportagem da Placar

  • "Sobre a expressão "usavam de sua influência no meio do futebol para agenciar jogadores" também não condiz com a verdade, afinal, jamais, em tempo algum, sob nenhum pretexto ou hipótese agenciei qualquer jogador de futebol ou de qualquer outro esporte e desafio, sob as penas de acionar judicialmente quem o faça de forma mentirosa, a provar algo contra mim".
  • "Quanto a não constar no contrato social, é verdade, nunca constei, e nem poderia, porque repito, não era sócio e não restou provado nada por parte da citada publicação, e nem poderia, sobre qualquer recurso auferido por mim, porque tal/tais fato(s) nunca aconteceram. Jamais recebi qualquer recurso que não fora aqueles advindos de meu salário à época"
  • "Nunca fui sócio da SGB como é possível constatar numa simples busca pela internet na Junta Comercial".

Parceira de Ronaldo ganha contrato de R$ 8 mi para estádio da Copa


  • Em outubro de 2012 uma reportagem do UOL Esporte mostrou que uma empresa parceira do ex-jogador Ronaldo, dirigente do COL, ganhou um contrato de cerca de R$ 8,5 milhões para um dos estádios do Mundial. A Marfinite Arenas fornecerá assentos da Arena Fonte Nova, que está na Copa das Confederações e no Mundial. A empresa foi contratada por meio de uma concorrência privada feita pelo Consórcio Arena Fonte Nova, composto pela Odebrecht e pela OAS. Não houve licitação porque a obra é tocada por meio de uma PPP (Parceria Público Privada). Tanto o COL quando a 9ine, agência de Ronaldo, negaram qualquer participação dele no negócio ou na elaboração de regras relacionadas a especificações de estádios. Fato é que o ex-jogador decidiu não se licenciar de suas funções na agência ao assumir o cargo no COL, no final do ano passado. Abriu mão de um salário e permaneceu na gestão da empresa. Meses antes de Ronaldo entrar no comitê, em setembro de 2011, a 9ine tornou-se a agência de publicidade da Marfinite Arenas. O principal motivo para a contratação foi a presença de Ronaldo. Leia a história completa aqui.
  • http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/04/04/dilema-etico-de-ronaldo-ao-comentar-jogos-de-clientes-ja-foi-caso-de-demissao-na-band.htm

Nenhum comentário: