domingo, 14 de julho de 2013

Os caminhos de Francisco no Brasil

ISTOÉ teve acesso ao aposento franciscano que o papa ocupará no Rio de Janeiro e mostra como será sua rotina no País, o cardápio preparado pela chef que já atendeu Madonna e o superesquema de segurança

Mariana Brugger e Tâmara Menezes
 

O papa Francisco chega ao Brasil na segunda-feira 22, para dar início à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), mais franciscano do que nunca. Pelo menos é isso o que revelam os aposentos que ocupará durante os seis dias que permanecerá no Brasil. Na quinta-feira 11, ISTOÉ visitou o quarto número cinco, no primeiro andar da Residência Assunção, o casarão colonial que abriga os arcebispos do Rio de Janeiro e que será temporariamente a morada do pontífice. A simplicidade impera. Nas paredes de cor creme, a única decoração é um crucifixo de madeira sobre uma cama de solteiro sem cabeceira, com apenas um travesseiro. Não há tapetes, o piso é de tacos de madeira e cortinas de voil branco filtram a luz proveniente de três janelões que se abrem para a Mata Atlântica. Além da cama, uma cadeira de balanço, um pequeno frigobar e uma escrivaninha compõem o mobiliário do aposento de Francisco. Os lençóis e toalhas têm bordados o brasão da Arquidiocese, já que o papa dispensou o símbolo do Vaticano. O banheiro de aproximadamente quatro metros quadrados foi reformado recentemente. Ganhou acabamento com porcelanato branco e uma ducha de aço inox. As orações serão feitas na Capela Nossa Senhora de Assunção, a cerca de cinco metros do dormitório. As refeições serão em conjunto com os 30 cardeais que estarão hospedados em um prédio anexo, num refeitório com 120 lugares e louças de porcelana branca, também com o brasão da Arquidiocese.

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SIMPLICIDADE
O quarto onde ficará o papa Francisco, na Residência Assunção não possui tapete,
as paredes são decoradas apenas com um crucifixo e está a cinco metros da capela

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Defensor de uma Igreja mais humilde, o papa Francisco dá o exemplo reduzindo ao máximo os custos de sua estadia no Brasil, para o megaevento católico que reunirá cerca de 2,5 milhões de fiéis. Para a missa que encerra a JMJ, por exemplo, pediu apenas água. Nos dias em que ficará hospedado na Residência Assunção, Francisco determinou que fosse providenciado um cardápio bem simples. Será atendido pela irmã Terezinha Fernandes, encarregada da cozinha, que servirá arroz e feijão, pão de queijo, churrasco e doce de leite ao pontífice. Na mesma linha, o artista sacro Cláudio Pastro criou cálices em latão, apenas com banho de prata na parte externa e uma fina camada de ouro na interna, como manda o protocolo católico. Uma peça muito mais modesta do que as que costumavam usar os papas que o antecederam.
Para chegar à Residência Assunção, o papa passará pela estrada que é também um dos acessos ao Cristo Redentor, ponto turístico que Francisco verá do helicóptero, no sábado 27, durante um dos trajetos da JMJ. Embora não tenha pedido, o papa, de 76 anos, terá um cardiologista presente em todos os seus compromissos. Será o pernambucano Roberto Hugo, que já adianta o diagnóstico: “Talvez ele seja o mais saudável da comitiva que o acompanha.”

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POCELANA
A louça que o papa usará tem o brasão da
Arquidiocese do Rio, e não do Vaticano

A mensagem que o Papa divulgará durante a JMJ, acreditam religiosos e estudiosos ouvidos por ISTOÉ, deverá ser um apelo para que os jovens valorizem menos as coisas materiais e fortaleçam os laços espirituais. O jornal espanhol “El País” noticiou que Francisco vai falar sobre as manifestações que estão acontecendo em todo o Brasil e afirmará que as “demandas levantadas por maior justiça não contradizem o Evangelho”. O arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, também presidente do Comitê Organizador Local (COL) da JMJ, disse à ISTOÉ que não sabe se os protestos estarão ou não no discurso papal, mas como a CNBB se posicionou de forma favorável às manifestações, o santo padre deverá seguir o mesmo caminho. “Ele tem uma preocupação social, quer uma vida melhor para as pessoas, e deve falar sobre isso nos discursos”, acredita. Mais convicto, o padre Luís Correa, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio e jesuíta, da mesma ordem de Francisco, lembra que “o papa já disse em outras ocasiões que o cristão tem que se meter na política, não pode lavar suas mãos.” A proximidade entre argentinos e brasileiros também pode ser explorada. “Somos países de injustiças, que passaram por regimes de exceção, que querem uma Igreja voltada para o despojamento”, afirma dom Sérgio Castriani, arcebispo de Manaus, que esteve com o papa recentemente. Partiu de Francisco a vontade de visitar favelas e se encontrar com menores infratores. Por isso, sua agenda inclui a comunidade Varginha, em Manguinhos, que recebeu uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) recentemente, e conversas com internos do Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas.

O papa, já famoso por quebrar protocolos, é uma preocupação da segurança. “Tudo foi feito em contato com o Vaticano”, conta José Monteiro, diretor de operações da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge), ligada ao Ministério da Justiça. Além dos agentes deslocados para a cidade, a Marinha e o Exército também cuidarão de pontos estratégicos, como a orla do Rio, a Baía de Guanabara e a Baía de Sepetiba. Equipes especiais treinadas em combater terrorismo e  atentados de ordem nuclear, biológica, química e radiológica integram o gigantesco esquema (leia quadro ao lado).

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CARDÁPIO
A chef Monique Benoliel, que atendeu Madonna, vai oferecer
ao papa queijo coalho e vinho Salton Talento 2007

A postura carismática do papa Francisco inspirou alguns mimos que são quase desobediências. “O papa é o meu chefe, mas imagina se eu vou servir só água para ele! Sou simples também, mas quero mostrar que a culinária brasileira é a melhor do mundo”, conta a chef Monique Benoliel, responsável pelo bufê que servirá os aposentos do pontífice no dia da missa, no domingo 28, em Guaratiba. No cardápio, vai entrar brigadeiros, bobó de camarão, espetinho de queijo coalho, doce de abóbora com coco e sucos de frutas 100% nacionais. Monique, que é judia, é chef requisitada de grandes eventos, como o Rock in Rio – e dela pode-se dizer que já serviu do sagrado ao profano. “Atendi, por exemplo, a Madonna”, diz, em referência a uma artista que vive às turras com a Igreja. Como todo bom cristão, Francisco aprecia vinho tinto. Aqui, ele e sua comitiva degustarão o “Salton Talento 2007”, 60% cabernet sauvignon, 30% merlot e 10% tannat, produzido no Rio Grande do Sul. Durante a Jornada, o Papa se dirigirá ao público sempre em português.

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