segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Os novos limites da pressão


Depois de seis anos de estudo, especialistas americanos elevam o

nível de pressão arterial considerado seguro para pessoas acima 

de 60 anos

Mônica Tarantino
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BENEFÍCIOS 
Para o médico Machado, a revisão respeita as diferenças
naturais de pressão entre os grupos etários
O controle da pressão arterial elevada é um desafio mundial. Ela é o principal fator de risco para infartos e acidentes vasculares cerebrais, as maiores causas de mortalidade atuais. Nos Estados Unidos, apenas 50% dos hipertensos mantêm a pressão nos níveis certos. No Canadá, o país campeão em resultados, 70% alcançam os patamares recomendados. No Brasil, esse índice fica em torno de 20%. 
Preocupados em melhorar a compreensão de médicos de todas as especialidades e da população sobre o manejo da pressão arterial, um grupo de 17 experts americanos divulgou, na semana passada, o novo consenso sobre os níveis seguros de pressão. O documento, que era aguardado desde 2007, foi publicado na edição online do “The Journal of the American Medical Association” (Jama) na quarta-feira 18. 

A principal mudança é o alargamento dos limites considerados para pessoas acima de 60 anos. A partir de agora, o nível máximo aceito para esse grupo é de 150 mmHg para a pressão sistólica (o número mais alto). Antes, era de 140 mmHg. A pressão diastólica (o valor menor) foi mantida em 90 mmHg.

O aumento se deve a pesquisas bem consolidadas. “Um conjunto importante de evidências científicas está mostrando que idosos tendem a ter pressão mais elevada devido ao endurecimento das artérias natural da idade”, diz Carlos Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Com a nova medida, milhares de pessoas que teriam indicação de tomar remédio para controlar pequenas elevações na pressão sistólica não precisarão usar comprimidos.
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 Para a faixa de idade entre 30 e 59 anos, não houve alterações: a pressão aceitável é aquela inferior a 140/90 mmHg. Essa determinação vai de encontro a uma ideia generalizada de que quanto mais baixa a pressão, mais protegido o indivíduo está de acidentes cardiovasculares. A revisão dos americanos não encontrou dados que dessem suporte a esse conceito. “Constatou-se também que faltam estudos mais aprofundados em populações abaixo dos 30 anos”, diz o cardiologista mineiro Marcus Malachias, diretor do Instituto de Hipertensão Arterial de Minas Gerais.

Os autores do consenso americano também não encontraram informações substanciais para justificar metas mais baixas para os pacientes com hipertensão associada à doença renal crônica e diabetes. Por isso, estabeleceram uma recomendação que prevê níveis de menos de 140/90 mmHg inclusive para esse grupo. Antes, eles eram menores do que isso. “Essas orientações influenciarão as diretrizes brasileiras de hipertensão a serem publicadas em 2014”, afirma o cardiologista Luiz Bortolotto, de São Paulo. Em janeiro, ele assumirá a presidência do departamento de hipertensão da SBC e estará à frente da elaboração do consenso brasileiro.
foto: Rogerio Albuquerque

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