quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Entidades denunciam Globo por falsificação sobre palestinos em novela




Persio, o personagem palestino

Não à falsificação histórica sobre os palestinos na novela da Globo

Nós, organizações reunidas na Frente em Defesa do Povo Palestino-SP, nos comitês de outros estados, bem como demais entidades abaixo-assinadas, repudiamos veementemente a forma como os palestinos são representados na novela “Amor à Vida”, da TV Globo.

Sua resistência legítima à ocupação e apartheid israelenses que já duram 66 anos é retratada como terrorismo contra vítimas inocentes nos diálogos entre um personagem palestino, Pérsio (Mouhamed Hartouch), e uma judia (Paula Braun).

Todas as vezes em que é feita referência à Palestina, fala-se em guerra, o que pressupõe dois lados iguais disputando um território.

Na verdade, é uma distorção da realidade: tem-se um opressor e ocupante (Israel) e um oprimido (palestinos).

Em nenhum momento, a novela faz referência ao muro do apartheid, aos inúmeros postos de controle a que estão submetidos os palestinos, bem como às leis racistas que lhes são impostas e à limpeza étnica e ataques contínuos contra eles.

O diálogo que inaugura essa farsa é permeado por desinformação e manipulação da verdade.

Rebeca chega a afirmar que há muitos casais judeus e palestinos em Israel, como conviria a qualquer Estado democrático.

A verdade é que Israel foi criado em 1948 como um Estado exclusivamente judeu, um entrave à democracia, já que esses têm tratamento diferenciado.

Desde então, a própria convivência está comprometida.

O apartheid imposto aos palestinos impede até que vivam no mesmo bairro.

Os palestinos que vivem onde hoje é Israel (território palestino até 1948, ano da criação desse Estado exclusivamente judeu) são considerados cidadãos de segunda ou terceira categoria, discriminados cotidianamente, e as leis que valem para eles não são as mesmas que valem – e privilegiam – os judeus.
O apartheid é explícito e amparado por uma legislação que fere o direito internacional.

Em 1948, ano que na memória coletiva árabe é conhecido como “nakba”, a catástrofe, foram expulsos de suas terras e propriedades cerca de 800 mil palestinos e aproximadamente 500 aldeias palestinas foram destruídas para dar lugar a Israel.

Massacres cometidos por grupos paramilitares sionistas, contra agricultores palestinos desarmados e sem treino militar, são hoje comprovados.

Os palestinos têm sido desumanizados desde o início da colonização de suas terras.
Essa contextualização histórica também ficou fora da telinha.

O autor de “Amor à vida”, Walcyr Carrasco, reforçou, assim, mitos que são denunciados por vários historiadores, inclusive israelenses, como Ilan Pappe, em seu artigo “Os dez mitos de Israel”.

Entre eles, o mito de que a luta palestina não tem outro objetivo que não o terror e que Israel é “forçado” a responder à violência.

Segundo ele, a história distorcida serve à opressão, à colonização e à ocupação.

“A ampla aceitação mundial da narrativa sionista é baseada em um conjunto de mitos que, ao final, lançam dúvidas sobre o direito moral palestino, o comportamento ético e as chances de qualquer paz justa no futuro. A razão é que esses mitos são aceitos pela grande mídia no Ocidente e pelas elites políticas como verdade.”

O Brasil não é exceção.

Na contramão da campanha global por boicotes ao apartheid israelense, o governo federal se tornou nos últimos anos o segundo maior importador de tecnologias militares da potência que ocupa a Palestina e porta de entrada dessa indústria à América Latina.

E sua cumplicidade com a opressão, a ocupação e o apartheid a que estão submetidos os palestinos é justificada a milhares de espectadores desavisados da novela da Globo, através de um discurso que reproduz a versão falsificada da história e se fortalece perante a representação orientalista – em que os árabes seriam “orientais” bárbaros e atrasados, ante cidadãos “pacíficos e civilizados”.

Como detentora de concessão pública (o espaço eletromagnético está na Constituição Federal, como um bem do povo) e ciente de que as telenovelas moldam comportamentos, ideias e conceitos ou ajudam a reforçar preconceitos e discriminações, a Globo comete erros históricos graves, injustiças ao povo palestino em particular e aos árabes em geral e um desrespeito ao seu público ao desinformá-lo.

Denunciamos publicamente essas distorções e exigimos que a Globo se retrate nos próximos capítulos de “Amor à Vida”, programa de maior audiência da TV brasileira.

Frente em Defesa do Povo Palestino-SP / BDS Brasil

Centro Brasileiro de Estudos do Oriente Médio

Comitê Brasileiro de Defesa dos Direitos do Povo Palestino

Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino do Rio de Janeiro

Centro Cultural Palestino do Rio Grande do Sul

Comitê Gaúcho de Solidariedade ao Povo Palestino

Sociedade Árabe Palestino Brasileira de Corumbá

Comitê Democrático Palestino – Brasil

Comitê Pró-Haiti

Tribunal Popular

GTNM-SP – Grupo Tortura Nunca Mais do Estado de São Paulo

Ciranda Internacional de Comunicação Compartilhada

Rede Mulher e Mídia

Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social

Associação Islâmica de São Paulo

UNI – União Nacional das Entidades Islâmicas

ICArabe – Instituto da Cultura Árabe

FST-SP – Fórum Sindical dos Trabalhadores-SP

CSP-Conlutas – Central Sindical e Popular

Anel – Assembleia Nacional dos Estudantes Livre

UJC – União da Juventude Comunista

PCB – Partido Comunista Brasileiro

PSOL-SP – Partido Socialismo e Liberdade

PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Mopat – Movimento Palestina para Tod@s

Coletivo Periferia, Nossa Faixa de Gaza

Coletivo de Mulheres Ana Montenegro

União da Juventude Comunista – Brasil

Marcha Mundial de Mulheres

Movimento Mulheres em Luta

Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe

http://www.viomundo.com.br/denuncias/entidades-denunciam-globo-por-falsificacao-sobre-palestinos-em-novela.html

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