terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A violência que envergonha e choca

Passo quase todo dia pensando em política, discutindo política, debatendo com meus muitos interlocutores os mais variados assuntos da atualidade. Mas algo me preocupa, tira meu sono. Não consigo me acostumar com a violência que campeia e que está ceifando a vida de nossos jovens as centenas de milhares e ninguém faz nada, ninguém diz nada e fica por isso mesmo.

Moro na sétima cidade mais violenta do mundo e apesar do noticiário sensacionalista do mundo cão apresentado nos programas policialescos das emissoras de Fortaleza e da dura realidade que os corpos inertes caídos no chão, abatidos por balas de pistolas .40, 380, armas de grosso calibre e de uso restrito das forças armadas com os quais dia sim e outro também me deparo em qualquer parte da cidade por onde passo, sem nenhum exagero, não consigo me acostumar e nem encarar isso como sendo parte da disputa do tráfico, acerto de contas entre marginais ou sublimar como muita gente faz ao se convencer de que isso acontece com quem é bandido, com cidadão não, portanto não precisamos nos preocupar.

Nesse domingo que passou fiquei chocado com uma cena absolutamente melancólica quando em pleno evento de pré carnaval, o pão e circo que as autoridades públicas oferecem para anestesiar o povo ao patrocinar diversão a uma juventude que não tem nenhuma perspectiva, num espaço totalmente desprovido de policiamento, bandidos do tráfico aproveitando da ocasião aparecem do nada em uma moto, desce e dispara várias vezes no rosto de um adolescente que mal completara 16 anos para o desespero e clamor de familiares impotentes diante de tamanha barbaridade.

A polícia só aparece no local depois do fato consumado para isolar a cena do crime e chamar o "rabecão" veículo automotor que faz o apanhado dos cadáveres nas ruas da cidade. Incontáveis cadáveres. Somente de Janeiro para cá mais de 400 crimes de morte aconteceram nas ruas de Fortaleza. Números que superam os mais belicosos conflitos em áreas conflagradas pela guerra no mundo inteiro. Nem na palestina morre tanta gente.

Não há um só lugar em Fortaleza que se possa dizer aqui estamos seguros e em paz. Aquele jovem podia ser até um bandido, feito algo de muito errado, mas nada justifica que alguém tire a vida de um ser humano. Execuções extra judiciais acontecendo em plena luz do dia, a noite, por bandidos do tráfico e grupos de extermínio da polícia em resultado da disseminação e do uso desenfreado da droga do diabo, o craque. Hoje mesmo, no centro de Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, mais um crime de morte que quase presenciei.

Um homem foi assassinado em uma saidinha bancária porque se recusou entregar 30 mil reais que acabara de sacar em um banco. Estamos convivendo em meio a psicopatas, numa sociedade doentia. Essas pessoas estão indo embora no esplendor de sua juventude e não há uma política pública efetiva que ponha um freio nessa calamidade.

Fui dormir muito mal e estou ainda muito mal porque ali poderia ser um filho meu. Não vejo ninguém preocupado com isso.

Vale a pena gastar tantas energias nesse cabo de guerra ideológico que polariza o debate político enquanto nossa juventude é dizimada silenciosamente e todos assistimos calados?

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