terça-feira, 18 de março de 2014

Contra os pulhas, os documentos da ditadura que comprovam a honradez de Brizola


18 de março de 2014 | 14:17 
Autor: Fernando Brito
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Durante cinco décadas, gerações de pulhas sucederam-se na arte de atacar a honra de Leonel Brizola.
Em metade deste tempo eu fui testemunha desta sanha.
De David Nasser a Rodrigo Constantino – embora o segundo não tenha sequer sob análise microscópica o talento do primeiro, assemelham-se no padrão “reservatório da Cantareira” em matéria de qualidades morais -, alguns poderosos sempre contaram com os que emprestavam suas penas levianas para atacá-lo sem qualquer pudor.
Eram fazendas e fazendas que, quando visitadas, como fez, na Veja, o repórter Marco Damiani, mostravam que eram menos, muito menos, do que viera como herança para o casal que formara com D. Neusa.
Hoje, o blog (excelente) do Mário Magalhães, autor da não menos excelente biografia de Carlos Marighela – “O guerrilheiro que incendiou o mundo” –  relata e publica o que os documentos da Comissão de Inquérito formada pelo golpe militar – com todo o poder na mão e todo ódio no coração – pôde apurar sobre irregularidades de alguém que já fora deputado estadual, prefeito de Porto Alegre e Governador do Rio Grande do Sul, além do mandato de deputado federal que lhe foi, então, cassado.
Nada, absolutamente nada.
David Nasser (num gesto que Brizola, quando perguntado se tinha arrependimento, dizia que batera, sim, mas num canalha) levou um belo soco no queixo quando os dois se encontraram em 63, no Aeroporto Santos Dumont.
Mas não é assim que se resolvem as coisas, até porque não haveria munheca suficiente para dar em todos da extensa lista.
Leia o post de Mário Magalhães.

Ditadura esquadrinhou patrimônio de Brizola e concluiu: ele era honesto

 Mário Magalhães
De 18 de fevereiro de 1970 a 22 de abril de 1971, no decorrer de 429 dias, uma comissão criada pela ditadura esquadrinhou exaustivamente o patrimônio do então exilado Leonel de Moura Brizola (1922-2004). Com declarações de Imposto de Renda, extratos de contas bancárias e registros de imóveis urbanos e rurais à mão, a subcomissão gaúcha da Comissão Geral de Investigação (CGI) concluiu que os bens do ex-governador do Rio Grande do Sul eram compatíveis com sua renda. A investigação foi arquivada e, implicitamente, a ditadura chancelou a honestidade de um dos seus mais figadais inimigos.
Em 1964, o ex-governador Brizola era deputado federal pelo governista Partido Trabalhista Brasileiro, mesma agremiação de João Goulart, seu cunhado. Como o presidente, Brizola foi cassado pela ditadura (1964-85) nascida com o golpe de 1º de abril. Ele insistiu na resistência aos golpistas, mas não convenceu Jango. Ficaria no estrangeiro até a anistia, em 1979. Em 1982, elegeu-se governador do Rio de Janeiro, Estado que voltaria a administrar ao triunfar no pleito de 1990.
A apuração sobre o patrimônio de Brizola consta de um processo de 18 páginas, hoje sob guarda do Arquivo Nacional. A revelação histórica é de autoria do repórter Guilherme Amado, no jornal “O Globo”. O fac-símile integral da documentação pode ser lido clicando aqui.
Assinada por um tenente-coronel (provavelmente do Exército; a reprodução não permite ler claramente o nome), a resolução 045/70, de 18 de fevereiro de 1970, decidiu “instaurar, ex-ofício, investigação sumária para apuração de enriquecimento ilícito correspondente” a Leonel Brizola e outros cidadãos.
O relatório de 22 de abril de 1971 trouxe o parecer sustentando que “os ganhos do indiciado poderiam, em princípio, dar os frutos emergentes”.
Em palavras de gente: os salários de Brizola lhe permitiriam ter acumulado uma casa em Porto Alegre (comprada em 1953), uma fazenda em Viamão (em 58), os saldos nas contas bancárias e outros eventuais bens registrados em suas declarações de renda anuais de 1959 a 68 (só não encontraram a de 61).
O relatório não faz menção ao fato de que o patrimônio da família era imensamente maior, devido às propriedades de Neusa Goulart Brizola (1921-93), mulher do investigado e irmã de Jango. A família Goulart, dona de estâncias, era rica.
O arquivamento foi ainda mais eloquente porque a CGI não fazia investigações “sobre” determinada pessoa. No caso dos opositores, fazia “contra”. Depois de deixar o Brasil à força, Brizola montara desde o Uruguai iniciativas mal sucedidas de guerrilha contra a ditadura.
A CGI fora criada em 1968. Seu propósito, como recorda o Arquivo Nacional, era promover “investigações sumárias para o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, inclusive de empregos das respectivas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista”.
Uma das alegações dos golpistas de 1964 era o combate à corrupção. Poucos políticos foram tão odiados pela ditadura como Leonel Brizola. Conforme a CGI do próprio regime sacramentou, não se tratava de um corrupto. 
http://tijolaco.com.br/blog/?p=15552

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