terça-feira, 29 de abril de 2014

Luciano Huck merece uma banana podre

Quando fui  até Lins fazer minha matrícula em 1973 – não parece que eu sou tão velho, né? – meu primo Dito Artioli, que era veterano, falou para tomar cuidado com o Buda, um japonês enorme, também aluno, que vendia material de desenho técnico. Prancheta, régua T, normógrafo, tudo ele tinha. Muito mais caro do que nas lojas. Buda, na verdade, estava apenas trabalhando para pagar a sua mensalidade, mas tinha fama ruim. Uma piada de mau gosto é que, no ano passado, ele fora visto vendendo leite e água no incêndio do edifício Andraus, na Av. São João, que teve a morte de 16 pessoas. Depois, a fama de Buda cresceu. Disseram que estava também no edifício Joelma, em 1974, com 191 mortos. Humor negro, típico de estudantes.

Me lembrei de Buda ao ver que Luciano Huck aproveitou-se da comoção mundial pela atitude de Daniel Alves – que comeu a banana que um imbecil lhe atirou em ato racista – para fazer uma camisa sobre o tema. Ele, que nunca tocou no assunto, que nunca se posicionou sobre nada espinhoso, sobre nenhuma questão social, vai faturar um dinheirinho. Um dinheirão. O Buda lutava pela subsistência. O Huck não precisa de um tostão. Poderia fazer alguma doação enorme – para nós e mínima para ele – a alguma entidade que luta contra o racismo. Deve existir alguma, longe de partidos, longe de ideologia. Mas, para que doar, se podemos faturar?

Quando houve os deslizamentos em Friburgo, o Huck criou uma engenhosa maneira de doação. Quem quisesse ajudar poderia faze-lo através de seu site Peixe Urbano. Não me lembro como era. Os cliques dariam algum dinheiro aos desvalidos e também ao milionário do Lata Velha.

É vergonhoso, demonstra falta de sensibilidade.

É preciso faturar sempre? Em cima de tudo?

Quanto ao Daniel, eu achei o ato dele legal, demonstrou rapidez de raciocínio, mas não sei se é o modo mais bacana de enfrentar o racismo. Na verdade, ele passou a seguinte mensagem: “não vamos entrar nessa de racismo, isso é tão imbecil, não tem de ligar, vamos passar por cima''. Não acho que seja assim. Prefiro a atitude de Etoo que saiu de campo. Só voltou porque foi contido por alguns jogadores. É uma atitude mais forte, de enfrentamento. Reconheço, porém, que o ato de Daniel Alves teve muito mais repercussão, serviu para desnudar a imbecilidade do gesto.

E Neymar? Cada mergulho é um flash não? Não podia fazer uma foto de apoio apenas. Não, tinha de haver uma campanha por trás, uma agência vendendo sua imagem. Será que ele realmente estava apoiando Daniel Alves? Tomara que sim, não vou julgá-lo. Pelo menos, fez algo e ajudou na divulgação e ridicularização do racismo.

O troféu Banana Podre vai mesmo para o Huck.

http://blogdomenon.blogosfera.uol.com.br/2014/04/29/luciano-huck-merece-uma-banana-podre/

Nenhum comentário: