Filme 'Getúlio' estreia na quinta-feira
Rio - Tony Ramos ainda guarda na
memória a morte de Getúlio Vargas. O ator era um menino, ia fazer 6
anos, quando o presidente deu um tiro no peito e entrou para a história
em 24 de agosto de 1954. “Nesse dia, minha avó estava preparando uma
massa de bolo para o meu aniversário, que era no dia seguinte, dia 25.
Lembro-me de ela dizer: ‘Minha nossa Senhora, morreu doutor Getúlio!’ Eu
perguntei: ‘Quem, vó?’ Ela falou: ‘O presidente do Brasil, meu filho.’
Aí, foi aquela comoção, minha mãe também veio chorando. Não tem como uma
criança esquecer isso”, conta o ator que, 60 anos depois, interpreta o
polêmico presidente no longa ‘Getúlio’.
Com direção de João Jardim e roteiro
de George Moura, o filme estreia no dia 1º de maio, Dia do Trabalho — o
que não deixa de ser uma homenagem ao presidente que instituiu a
legislação trabalhista no país. Para Tony Ramos, é o seu primeiro
personagem histórico no cinema, num ano especial, quando ele completa
cinco décadas de carreira. As contradições de Getúlio — um ditador que
governou o país por 15 anos, foi deposto e voltou ao poder pelo voto
popular — atraíram o ator para o projeto, mas ele teve dúvidas.
Outra preocupação de Tony era não fazer um filme chapa-branca. O thriller político retrata os últimos dias de vida de Getúlio, a pressão que sofreu para renunciar após o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges) e que culminou com seu suicídio, mas sempre tendo a seu lado a figura da filha, Alzira (Drica Moraes), seu braço-direito no governo. “De fato, não tem chapa-branca”, atesta o ator. “O filme propõe várias reflexões sobre política, traições, conspirações, decepções, surpresas e, fundamentalmente, contradições. Muitas vezes, o Getúlio é contraditório”, acrescenta.
Para o ator, a imagem de Getúlio era
apenas a de um ditador. Mas, após iniciar as pesquisas para o longa,
descobriu facetas pouco conhecidas do governante. “A que mais me
impressionou é que ele era um homem interessado em música, teatro,
adorava filosofia, discutia Schopenhauer. Ao mesmo tempo, comecei a
descobrir um homem que era de conversa ao pé do ouvido, não era de dar
murro na mesa, podia ter um destempero ou outro, mas era um homem que
conversava como converso com você”, conta. “Se fiquei simpático a ele?
Não, fiquei neutro. Hoje, consigo ficar neutro, analiso o período
ditatorial horroroso, imperdoável, mas quero entender o que muitos
brasileiros ainda hoje dizem, que ele foi fundamental para esta nação. E
eu acredito nisso, sim.”
Elenco filmou por 51 dias no Palácio do Catete, que foi sede da presidência e hoje é museu
O elenco filmou 51 dias no Palácio do
Catete, que foi sede da presidência e hoje funciona como museu. Tony
diz que foi importante estar no local onde a história aconteceu e conta
que, certo dia, recebeu a visita no set de duas netas de Getúlio. “São
duas senhoras que chegaram no finzinho das filmagens e depois
reencontrei numa das sessões fechadas do filme. Para mim, bastou uma
observação delas: ‘Vovô ficava sentado assim e o senhor nos traz vovô à
mente agora.’
Você vai ter os conceitos mais variados de Getúlio, mas
uma gama enorme de pessoas vai dizer: ‘Esse pensou o país como nação e
pensou mais no país do que nele próprio’. Já ouvi muito isso”, relata.
Para encarnar o ditador, Tony passou por uma
transformação e tanto. Raspava todo dia o cabelo com navalha, para ficar
com as entradas laterais de Vargas. Além disso, usou enchimento para
ficar barrigudo. “Levava duas horas e meia, todas as manhãs, para ficar
pronto. Mas, depois da primeira semana, a gente se adapta. Eu ia comer
com a roupa mesmo, não queria mais tirar. Ela me dava o peso, me ajudava
na disciplina do personagem”, garante.http://odia.ig.com.br/diversao/2014-04-26/tony-ramos-conta-como-foi-encarnar-getulio-vargas-no-cinema.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário