segunda-feira, 26 de maio de 2014

Cabeça Branca, o primeiro embaixador do Narcosul



Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, 
um dos embaixadores do Narcosul 

Foto: Reprodução
Em dezembro de 1999, aos 40 anos, o paranaense Luiz Carlos da Rocha ostentava desde os 30 o grisalho que lhe rendera o apelido de Cabeça Branca. Conquistara também a fama de frio, eficiente, discreto e inteligente que até hoje o acompanha. Levava consigo um laptop, um Movistar de quase meio quilo e o ativo mais valioso no subterrâneo das drogas: uma recheada agenda de telefones. Um dos nomes na lista era o de Jorge Rafaat Toumani, um sul-mato-grossense um ano mais jovem, instalado desde aquela época em Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

Rafaat até hoje tem um diversificado leque de fornecedores de maconha à mão. Mora há anos na cidade, onde é chamado de “empresário”. Naquele mês, os dois traficantes trocaram telefones e, numa reunião em Pedro Juan, acertaram detalhes como combinar a logística e os clientes de Luiz Carlos com os fornecedores e a expertise de traficar na fronteira de Rafaat.

Jorge foi fundamental para Luiz Carlos se tornar Cabeça Branca. Não o dos cabelos prateados, mas o Cabeça Branca que hoje controla uma lucrativa logística de envio da cocaína produzida no Peru e na Bolívia para a fronteira do Paraguai e, de lá, para clientes no Brasil e no exterior. Ao longo da primeira década dos anos 2000, outros traficantes dos dois países, mas também da Bolívia, da Colômbia e do Peru firmaram pactos semelhantes. Naquela virada de século, sem se dar conta, a dupla lançou a pedra fundamental do Narcosul.
Policial federal brasileiro acompanha a queima de maconha em Pedro Juan Caballero, feita pela Senad paraguaia

Policial federal brasileiro acompanha a queima de maconha em Pedro Juan Caballero, feita pela Senad paraguaia Foto: Divulgação / Polícia Federal
A corrupção de agentes públicos é a marca do paranaense nascido em 11 de julho de 1959. Agentes da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai admitem que talvez esteja aí a razão para ele nunca ter sido preso lá, onde mora. Seu principal ativo, além da antiga agenda telefônica, é uma sofisticada logística de entrega de cocaína. Combina aviões, caminhões e carros para tirar a droga do Peru e da Bolívia e, via Paraguai, introduz a droga no Brasil.

Segundo a Polícia Federal brasileira, Cabeça Branca compra no Chapare boliviano e no Vrae peruano. Uma investigação da PF aponta entregas de quatro toneladas mensais ao PCC a grupos de Portugal e Espanha. O traficante tem contra si dois mandados de prisão expedidos pela Justiça brasileira. A Justiça paraguaia nunca o processou

Cabeça Branca tem pelo menos três fazendas de gado no Paraguai. De acordo com um relatório da Senad, todas estão em nome de laranjas. A menor fica a 120km de Pedro Juan Caballero, com seis mil cabeças de gado em 1.500 hectares. A segunda está a 250km de Pedro Juan, tem 2.000 hectares e 10 mil cabeças. A maior fica no departamento de San Pedro, com 2.000 hectares e outras 10 mil cabeças. A Justiça brasilera já bloqueou quatro imóveis seus, inclusive no Rio.

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