segunda-feira, 19 de maio de 2014

Como Serra tratou seus aliados como jornalistas de ficção

Jornal GGN - José Serra negou a pretensão de segundo posto nas eleições presidenciais, ao lado de Aécio Neves, na chapa do PSDB. Em sua página do Facebook, afirmou: “nunca fui pré-candidato a vice. Também inexistem ‘interlocutores’ atuando em meu nome. Da minha boca, nunca ninguém ouviu nada a respeito”. Para essa informação bem difundida em jornalistas ligados à sua imagem, Serra disse que as suposições pertencem ao “jornalismo criativo”, no “terreno da ficção”.
A referida informação no jornalismo, caracterizado por Serra como criativo, teve início na coluna de Sonia Racy – interlocutora mais que frequente dele – em 23 de abril de 2014. Sob o título "Flash da vez", Sonia informava que a idéia da dupla Aécio-Serra tinha sido de Fernando Henrique Cardoso.
Antes mesmo de a possível chapa Aécio-Serra dominar as colunas da grande imprensa, Eliane Cantanhêde deu sequência às suas fontes da oposição, no dia 4 de maio: “ninguém acreditava, mas a possibilidade de José Serra ser candidato a vice na chapa de Aécio Neves é real e está crescendo” – assim iniciou a coluna na Folha de S.Paulo.
Curiosamente, a coluna extravasava as mágoas de Serra com Aécio: "Serra poderá dar a Aécio o que Aécio negou a Serra em 2010, com enorme impacto negativo na campanha tucana de então". Mas, segundo Serra, ele não procurou nenhum jornalista para falar sobre o tema.
Cantanhêde abriu caminho para a matéria divulgada no Painel, no mesmo jornal, dois dias depois. “Serra e Aécio dizem não ter conversado pessoalmente sobre o assunto, mas já foram abordados por interlocutores dentro e fora do tucanato para tratar do tema”, reportou a jornalista Daniela Lima. 
O balão foi subindo. A ponto de serem encomendadas pesquisas em alguns estados e testando Serra como vice.
Segundo a Folha, Aécio manteve-se fora da situação, enxergando-a com incredulidade.
Foi quando Sonia Racy, em sua coluna “Direto da fonte”, no Estado de S.Paulo de 11 de maio, apontou: “os defensores da ideia de ter José Serra na vice de Aécio usam, como argumento, a matemática: Serra teve 40 milhões de votos em 2010. ‘Marina, que é supervalorizada por todos, conseguiu a metade’, argumenta tucano de alta plumagem”.
Daí, a repercussão correu dentro e fora do noticiário, da grande mídia à blogosfera.
A criatividade jornalística, se assim foi, teve resultados práticos. Foi a primeira vez a se falar na campanha puro-sangue da dobradinha, que mais tarde mostrou em palanque a reaproximação que o “terreno da ficção” havia gerado. Uma pequena amostra, em um compromisso de pré-campanha de Aécio em Cotia, na última sexta (16), José Serra esteve presente – e como que evitando especulações, o pré-candidato cortou: a imagem só materializava apoio. “É uma honra para qualquer político do país aparecer ao lado de Serra”, disse.
Dora Kramer premeditou a reaproximação. No mesmo dia, mas antes de o evento ocorrer, suacoluna no Estadão ditava: “o que se depreende pelo ambiente no PSDB é que hoje uma composição entre Aécio e Serra seria possível, mas não de todo provável.”. “Mas há contas a serem feitas. Pragmáticas, com vistas a chegar à vitória. Se a conclusão for a de que o nome de José Serra é imprescindível para atrair de modo definitivo o eleitorado de São Paulo, a condição eleitoral objetiva estará dada”, apresentou.
E é com vistas a essas contas que os testes foram lançados. Remetidos a pesquisas em alguns estados; encaminhados na imagem de palanque pré-campanha; e o teste foi lançado pelos interlocutores na grande imprensa: usada como termômetro. Dependendo do resultado, bastava usar dialética contra a “criatividade” dos jornalistas.
Depois que Serra "entregou" seus jornalistas para livrar-se da autoria do boato, os desmentidos surgiram timidamente. A coluna Radar, da Veja, informou que a fonte seria o deputado baiano Jutahy Magalhães, que não dá um passo sem informar seu chefe José Serra.
Na publicação desta segunda (19) do Estadão, a origem do que levou o veículo a repassar tais informações foi à mostra: “a teoria de que o ex-governador seria um bom nome para a vice de Aécio nasceu de aliados de Serra”, informou. Antes disso, Dora Kramer já havia informado que "pessoas próximas ao ex-governador é que levantaram a lebre e não foram desestimuladas por ele".
http://jornalggn.com.br/noticia/como-serra-tratou-seus-aliados-como-jornalistas-de-ficcao

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