sexta-feira, 16 de maio de 2014

Protestos contra o Mundial têm adesão menor do que os de categorias profissionais

Após um ano, número de manifestantes registrou queda

Tiago Dantas, Tatiana Farah, Sérgio Roxo, Demétrio Weber, André de Souza, Vinicius Sassine e Caio Barretto Briso


Manifestação “Não vai ter Copa” no Rio
Foto: Domingos Peixoto / O Globo
Manifestação “Não vai ter Copa” no RioDOMINGOS PEIXOTO / O GLOBO


SÃO PAULO, BRASÍLIA E RIO - As manifestações convocadas nos últimos dias para mostrar insatisfação com os gastos da Copa do Mundo tiveram hoje menos adesão do que os protestos promovidos país afora por sindicatos grevistas e associações de classe. Em São Paulo, por exemplo, cerca de 1.200 pessoas se reuniram na Avenida Paulista, no fim da tarde, para protestar contra o Mundial. Mais cedo, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) juntou 6 mil manifestantes e bloqueou cinco vias de grande fluxo. No Rio, os protestos feitos por professores, em greve, e rodoviários foram mais populares do que o feito contra a Copa do Mundo, na Central do Brasil. O ato realizado no início da noite ganhou força após a adesão de parte dos outros movimentos. Em Brasília, não mais de 300 pessoas participaram dos atos realizados tanto pela manhã quanto pela tarde contra o Mundial. Apesar disso, houve momentos de tensão nos protestos contra a Copa tanto em São Paulo quanto no Distrito Federal.

O governo avaliou que os protestos que aconteceram nesta quinta-feira em diversas capitais do país não surtiram o efeito esperado pela oposição, que esperava ver muitos manifestantes na rua. No entendimento do governo, "faltou gente". Internamente, a presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores comemoraram o fato de que poucas pessoas protestaram. Mesmo assim, o governo continua cauteloso quanto à Copa, pois acredita que as manifestações podem ganhar mais adesões.

Na capital paulista, o protesto contra o Mundial começou às 17h, na Avenida Paulista, e tinha como destino o estádio do Pacaembu. Por volta das 19h30, um pequeno grupo de mascarados furou o cordão de isolamento da Polícia Militar e ateou fogo em latas de lixo. Depois quebrou os vidros e invadiu pelo menos uma concessionária de veículos. Por volta das 21h, quando a manifestação chegou ao fim, a polícia contabilizava 27 pessoas detidos - 20 deles com martelos e coquetéis molotov - e quatro feridos.

O ato havia sido convocado pela internet pelo Comitê Popular da Copa em São Paulo, organização formada por vários movimentos sociais, mas muitas pessoas com rosto coberto e roupas pretas se juntaram ao evento. Com o início do tumulto, no entanto, o protesto se dividiu em dois. Uma parte dos manifestantes continuou a passeata, de forma pacífica, até o Pacaembu, e outros abandonaram o ato por causa do vandalismo. A estação de metrô Paulista ficou fechada por 20 minutos.

Até as 21h, haviam sido registrados dois focos de confusão. O primeiro foi na Rua da Consolação, onde um grupo destruiu os vidros de uma concessionária, em frente ao Cemitério da Consolação, e depredou alguns veículos. Duas agências bancárias também foram atacadas. Alguns manifestantes ainda obrigaram passageiros a descer de um ônibus que passava pela via, e outros colocaram fogo em sacos de lixo. A PM reagiu disparando balas de borracha e bombas de efeito moral.

- Eles chegaram chutando a porta, gritando e quebrando tudo. Fui lá para dentro, então eles não me viram. Se não, podiam ter me agredido - disse o porteiro da concessionária, Diogo Silva.

O segundo foco de tumulto aconteceu na Avenida Paulista, onde uma guarita da PM foi destruída por vândalos.

Manhã caótica

O dia em São Paulo começou com trânsito complicado por causa da adesão às outras manifestações. Todas, entretanto, aconteceram sem tumulto. A maior foi organizada por cerca de 5 mil professores da rede municipal de ensino, em greve desde o último dia 23, que fizeram uma passeata que interditou vias importantes da cidade, como a Avenida 23 de Maio, no fim da tarde. A multidão saiu da porta da Secretaria Municipal de Educação e seguiu até a Prefeitura de São Paulo. Eles reivindicam reajuste salarial.

Pela manhã, cerca de 6 mil integrantes do MTST se dividiram por cinco pontos da capital paulista, incluindo os arredores da Arena Corinthians, o Itaquerão, palco do jogo de abertura da Copa do Mundo, no dia 12 de junho. Eles atearam fogo a pneus e reivindicaram tanto moradias do Minha Casa Minha Vida quanto a desapropriação do terreno do acampamento "Copa do Povo", que fica perto do estádio. O movimento prometeu realizar outro grande protesto, desta vez unificado, na próxima quinta-feira. Outra entidade de sem-teto fechou por uma hora e meia a rodovia Anhanguera, uma das mais importantes da cidade.

Também em campanha por reajuste salarial, os metroviários de São Paulo fizeram uma passeata pela manhã na região central da capital. O destino foi a Secretaria de Transportes Metropolitanos do governo estadual. Na madrugada, o grupo caminhou com tochas pela região. No bairro da Mooca, na Zona Leste, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi da Cruzes levou às ruas cerca de 100 trabalhadores. Eles cobravam melhorias de salário e de condições de trabalho.

Em Brasília, militantes do MTST ocuparam pela manhã a sede da Terracap, companhia imobiliária do governo do Distrito Federal e proprietária do Estádio Nacional Mané Garrincha, sede de jogos da Copa. O prédio fica próximo ao Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal. Segundo a PM, cerca de 200 pessoas participaram do ato em frente ao prédio, mas a ocupação do hall de entrada do edifício durou apenas 20 minutos.

A Polícia Militar chegou a entrar em confronto com os manifestantes com o uso de spray de pimenta e cassetetes, para que a entrada do prédio fosse liberada. Segundo o comandante do 3º batalhão da PM, coronel Marcus Koboldt, não mais de 30 manifestantes invadiram a Terracap. A PM pediu que eles saíssem do local e, após uma negativa do grupo, os PMs usaram sprays de pimenta e cassetetes. 

Segundo o comando da PM, às 9h40, o grupo já estava fora do prédio. Três manifestantes teriam agredido policiais, segundo o comandante da operação. Um dos manifestantes mostrou marcas de cassetete.

O protesto em frente ao edifício continuou, vetando a entrada dos funcionários da Terracap no prédio. Dos participantes da manifestação, a PM calcula que algo próximo a 80% eram mulheres e crianças.

- Uma total irresponsabilidade por parte das mães ao colocarem essas crianças em risco - criticou o coronel Koboldt.

O grupo reivindicava terrenos para a moradia de 1.600 famílias e protestava também contra a Copa do Mundo.

- O governo gasta bilhões de reais com estádios: cadê a moradia, cadê a saúde, cadê a educação? - questionava o vigilante Elienildo Araújo, de 36 anos, integrante do movimento.

No começo da noite, um grupo de 100 manifestantes partiu da rodoviária do Plano Piloto em direção ao estádio Mané Garrincha. Ao chegarem ao local, fixaram 12 cruzes com os nomes dos operários mortos na construção dos estádios da Copa. O protesto foi pacífico.

Diferentemente do ano passado, quando as manifestações foram marcadas pela rejeição aos partidos políticos, a maioria dos participantes do protesto realizado ontem em Brasília era ligada ao PSTU e ao PSOL. Havia também integrantes do MTST e do Comitê Popular da Copa.

'Educação padrão Fifa'

A manifestação contra a Copa do Mundo realizada hoje no Rio teve cerca de 1.300 participantes, segundo a Polícia Militar. Eles caminharam da Central do Brasil até a porta da prefeitura, na Cidade Nova, fechando a Avenida Presidente Vargas durante quatro horas. Apesar da presença de um grupo de 50 mascarados, muitos deles com pedras portuguesas nas mãos, apenas um pequeno tumulto aconteceu nas proximidades da prefeitura.

Policiais do Batalhão de Choque chegaram a atirar bombas de gás lacrimogênio, e os protestantes se dispersaram. Mais tarde, eles voltaram à Central do Brasil. O grupo empunhava faixas e bandeiras contra os gastos com a Copa, pedia educação e saúde pública "padrão Fifa". Gritava palavras de ordem exigindo o fim da Polícia Militar.

Quem sofreu foram as pessoas que tentavam voltar para casa. Além da marcha contra a Copa, outras duas manifestações realizadas no Centro - de rodoviários e professores da rede pública em greve - interditaram ruas e avenidas. No fim do dia, integrantes dessas categorias acabaram se juntando a quem protestava contra o evento esportivo e engrossando a adesão a ele.


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