domingo, 14 de setembro de 2014

O dia em que Alexandre Quem? julgou ter demolido Celso Furtado


 
Participei de um evento que teve, na rodada anterior à minha, um debate com a participação do economista Alexandre Rands, um dos ideólogos de Eduardo Campos.
 
Naquele momento me causou péssima impressão - que registrei em um post. Agressivo, deslumbrado, trazendo para a cena nacional seus embates provincianos com o PT de Pernambuco, é como se fosse um Roberto Freire da economia.
 
Na entrevista a O Globo, ele se supera.
 
Sem jamais ter conseguido sair dos limites do Estado, sem ter conseguido firmar reputação, resolve emular os economistas de mercado paulistano no que eles têm de mais superficial: a agressividade vazia.
 
A sem-cerimônia com que ataca as ideias de Celso Furtado ou as chamadas escolas desenvolvimentistas é de um ridículo sem tamanho. Um estado que nos forneceu Tânia Bacellar não merecia ser representado na cena nacional por um Alexandre Quem qualquer, que só ganhou relevância pela amizade com Eduardo Campos.
 
De O Globo
‘Dilma trata empresários como prostitutas’, diz coordenador econômico do programa do PSB
Alexandre Rands disse que Marina assumiu de cara propostas como autonomia do Banco Central
POR ALEXANDRE RODRIGUES
14/09/2014 7:00
 
RIO — Faltavam 15 minutos para o economista e empresário Alexandre Rands, de 51 anos, falar num debate sobre propostas dos candidatos à Presidência da República, em São Paulo, quando recebeu um telefonema. A notícia era a do desaparecimento do avião de Eduardo Campos, cujo programa econômico ele estava coordenando. Quando a morte do candidato do PSB se confirmou, naquele dia 13 de agosto, Rands desistiu da palestra, cancelou todos os compromissos dos dias seguintes e voltou ao Recife, onde dirige uma empresa de consultoria e de centros de telemarketing. “Minha missão acabou”, pensou o economista, que perdera não só o interlocutor mais frequente de seu celular nos últimos meses. Eles eram amigos desde que, aos 13 anos, o ex-governador de Pernambuco começou a namorar sua prima, Renata. Quando começou a construir sua candidatura à presidência, Campos procurou o ex-companheiro de chapa no diretório acadêmico da faculdade de economia da Universidade Federal de Pernambuco para iniciar conversas com economistas e empresários em todo o país. Irmão do ex-deputado Maurício Rands, coordenador do programa de governo do presidenciável, Alexandre Rands acabou com a missão de condensar o capítulo econômico, assumido integralmente por Marina Silva na cabeça da chapa do PSB. Poucos dias depois da tragédia, Rands já estava de novo viajando pelo país para defender propostas do programa econômico da candidata, mas agora, ressalta, apenas como “um dos colaboradores”.
 
Diferente da linha direta que tinha com Campos, ele mantém com Marina uma relação mais distante, que passa por intermediários como o irmão e Eduardo Giannetti, o guru econômico da candidata. Em entrevista ao GLOBO, Rands conta que houve consenso entre os economistas do PSB e da Rede em praticamente todas as etapas de elaboração do plano econômico da candidatura, finalizado ainda antes da morte de Campos. Por isso, diz, Marina assumiu logo de cara propostas como a autonomia do Banco Central. Ele estima que, num eventual governo, Marina poderá fazer a economia crescer 4% no fim do mandato.
 
Doutor em economia pela Universidade de Illinois (EUA), ele admite ter feito investimentos em sua empresa com juros subsidiados do BNDES, mas faz uma crítica dura ao atual modelo de incentivos ao setor produtivo de Dilma Rousseff (PT), a quem acusa de manter com o empresariado uma relação contraditória: “Trata o empresariado como uma prostituta. Quer estar com ele, desfrutar de suas benesses, mas depois denigre sua imagem”. Para Rands, o problema está na predominância no governo da escola de pensamento econômico da Universidade de Campinas (Unicamp), onde Dilma foi doutoranda, representada por nomes como Aloizio Mercadante (ministro da Casa Civil), Luciano Coutinho (presidente do BNDES) e Marcio Pochmann (ex-presidente do Ipea que atua na campanha de reeleição da presidente). “Campinas é hoje uma ilha que parou no tempo”.
 
O GLOBO: Quando Campos morreu, sua adesão a Marina foi automática?
 
Alexandre Rands: Em momento nenhum duvidei que votaria nela, mas questionei se teria o mesmo engajamento. Esse entusiasmo fui ganhando quando vi ela assumir o programa, estabelecer a relação com o PSB. Hoje, eu me sinto no mesmo projeto. É uma relação diferente da direta que eu tinha com Eduardo, mas Marina assumiu o nosso programa na área de economia sem mudar nada, até porque foi fruto de um consenso.
 
Que diferença haveria entre um governo de Campos e um de Marina na economia?
 
Pouca. O que faria, talvez, uma diferença, seria a experiência de Eduardo em Pernambuco. Talvez ele faria as mudanças na gestão, que é uma coisa fundamental, mais rapidamente. Nisso, a perda foi grande. Mas Marina tem o mesmo compromisso. Pode ser que não consiga fazer na mesma velocidade, mas é questão de aprendizado. Ela tem uma qualidade: sabe ouvir.
 
Petistas e o próprio PSDB acusam o programa econômico de Marina de ser uma cópia de ideias tucanas. Qual a diferença?
 
O PSDB adora dizer que a gente está copiando. De fato, numa discussão, vamos concordar em 80% das coisas. Não é porque os economistas de Marina são tucanos, mas simplesmente porque hoje em dia existem alguns consensos na teoria econômica. Estão em todas as universidades americanas, em 98% das europeias, em 95% das asiáticas e 97% das brasileiras. Só uma universidade aqui não tem articulação internacional, não traz e não manda ninguém para o exterior: a de Campinas (Unicamp). Ela é endógena. No entanto, tem uma força no governo Dilma que não tinha no de Lula, que era muito mais próximo do que Marina defende hoje. Os economistas de Campinas não consideram todo o desenvolvimento da teoria econômica desde a década de 1960. Dilma pensa com a cabeça de Campinas, que hoje é um lugar isolado, fora do mundo. Uma ilha que parou no tempo. Pela primeira vez, cada candidato tem propostas de desenvolvimento baseada em concepções diferentes.
 
Quais são essas concepções?
 
A dos tucanos é a de que o grande problema do Brasil é o arranjo institucional inadequado. Acham que, destravando as amarras, o investimento em educação, por exemplo, vem a reboque do crescimento. Na visão de Marina, as reformas institucionais são importantes, mas mais importante ainda é o impulso da educação, que aumenta produtividade, para crescer no longo prazo. Para os tucanos, bastaria manter o gasto sob controle e crescer. Depois, isso se resolve. A gente acha que tem que investir agora. O curto prazo é mesmo garantir estabilidade, previsibilidade e começar a retirar as amarras. Por isso dizem que somos parecidos com o PSDB. Mas, para desenvolver um país, é preciso investir em capital humano.
 
E qual é a terceira concepção?
 
Na visão de Dilma, desenvolvimento é feito por demanda (consumo). É impressionante porque, mesmo com pleno emprego, ainda mantêm isso, junto com a a visão estruturalista de privilegiar um ou outro setor com políticas discricionárias. A lógica dela é que o governo tem de reestruturar a economia. E sempre faz isso a partir da demanda. Exemplo é o setor automobilístico, visto como de alta produtividade. O governo fica tentando aumentar o crédito para estimular a demanda. É um modelo econômico altamente inflacionário, baseado no (economista) Celso Furtado. A escola de Campinas, e grande parte da esquerda brasileira, não conseguiu se libertar de Celso Furtado. Só que é um modelo que gera uma crise dentro dele próprio. O que são R$ 500 bilhões do Tesouro no BNDES para subsidiar empresário? Isso é usar a estrtura do Estado para injetar dinheiro direto na veia dos grandes empresários. Tem coisa mais de direita do que isso?
 
O modelo de Celso Furtado não faz mais sentido?
 
Não faz mais sentido hoje, pelo menos. A questão inclusive é se já fez sentido. Esse é um modelo que sai da política para gerar uma argumentação na economia. Mas, lá atrás, quem seguiu modelo diferente se deu melhor. Um exemplo é a Coreia do Sul, que na década de 1960 era mais pobre que o Brasil e vivia igualmente sob sistema autoritário. Lá, a ditadura industrializou, mas sobretudo investiu na educação.
 
Mas defensores da atual política industrial e do papel do BNDES gostam justamente de usar como exemplo a Coreia. Qual a diferença?
 
A diferença é que a Coreia gastava 10% dos seus recursos para promover setores industriais e 90% para garantir educação, oportunidades iguais, para todos. E esses 10% não serviam para o camarada ir para festa com empresário. Lá, o governo dava prazo e meta. Depois de dez ou quinze anos sem resultado, a empresa quebrava. Havia contrato e um Estado independente. Aqui, temos um governo subjugado ao empresariado. Dilma detesta os empresários, mas todas as políticas são para eles fazerem o que bem entenderem. O governo bate, mas depois convida para um drinque. Trata os empresários como prostitutas. Quer estar com eles, desfrutar de suas benesses, mas depois vai criticar, denegrir sua imagem.
 
Se os empresários lucram, como explicar a resistência deles à reeleição de Dilma?
 
Seguindo o exemplo: você acha que a prostituta confia nos homens que recebe? Chamaria um deles para a festa de aniversário do filho? Claro que não. Só tem interesse e medo.E tem outra coisa: um homem agrada três, quatro, dez prostitutas, mas não a todas as outras que não estão participando da festa.
 
Há uma parte do empresariado que se sente excluída?
 
Sim, uma boa parte. Não adianta só dar crédito barato do BNDES. Eu mesmo fiz investimentos na minha empresa com linhas de 5% ao ano do BNDES. Se fossem juros de 8% eu teria investido? Sim, do mesmo jeito. Essa diferença foi transferência direta para o empresariado. Não precisava disso. O governo escancarou o subsídio desnecessariamente. Foi generosidade demais. Mas, o mesmo empresário que se beneficia disso tem que enfrentar a Receita, o INSS, a regulação instável, o licenciamento demorado, as greves... Enfrenta em tudo essa lógica autoritária de Dilma que se espalha pelo governo. Por que, só com um crédito aqui e outro ali, vai gostar do governo? É um governo que joga a burocracia contra o empresariado, que está sitiado. O Brasil está impossível. É um país cheio de oportunidades, que tem um mercado imenso, uma cultura fácil. Mas a dificuldade de agir é muito grande. Abrir negócio, fechar, pagar imposto, tudo é muito difícil. É preciso acabar com essa relação doentia do governo com os empresários, que torna custoso demais crescer.
 
O senhor diz que educação é a chave para o crescimento, mas o governo atual tem como bandeira o aumento do número de universitários e escolas técnicas. O que Marina propõe de diferente?
 
Hoje, o governo não gasta o suficiente e gasta mal. Eficiência não é uma preocupação do PT na educação e nem nas outras esferas. As universidades federais não têm metas, não são cobradas. No ProUni, as privadas são pouco fiscalizadas. É preciso investir em qualidade e reforçar o ensino básico. Por isso, escola de ensino integral tem prioridade total na visão de Marina. Se o jovem passa mais tempo em casa e menos na escola, aprende mais coisa em casa. Temos que inverter isso. Nosso capital humano tem deficiências que não são apenas de conhecimento técnico. Para terem disciplina ou ganhar uma visão de mundo mais ampla, os jovens precisam ficar mais tempo na escola.
 
O senhor se considera um neoliberal?
 
Não. Quem fala isso não sabe o que é neoliberalismo. Gente que leu apenas um livro na vida, o do (economista britânico John) Keynes, e nem conseguiu entender até hoje. O neoliberal acredita que as forças de mercado e um sistema totalmente democrático resolvem tudo. Entre os tucanos, há neoliberais. Entre nós, em torno de Marina, até há alguns. Mas a maioria dos que são tachados (pelo PT) de neoliberais são os que os que acreditam que o mercado é eficiente na maioria das áreas, mas não em todas. Há aquelas que precisam da mediação do Estado. O neoliberalismo não consegue, por exemplo resolver o problema da pobreza na velocidade necessária. Não defende tanto investimento em educação, como é a base de Marina. Acha inclusive que deveria ser privada. Há uma distância imensa entre nós e o neoliberalismo. O que não acreditamos mesmo é em mágica.
 
Marina defende a autonomia do Banco Central com mandato fixo. O que isso faria diferença para o atual presidente do BC, Alexandre Tombini?
 
Ele teria subido os juros antes. Não teria reduzido o compulsório. Fez isso porque Dilma deu um grito e ele teve de fazer. Mas se ele fosse o presidente de fato, não faria. Um mandato fixo faria com que ele não ficasse subjugado à presidente. Ele poderia dizer para ela: cuida do seu quadrado e eu cuido do meu.
 
Campos defendeu reduzir a meta de inflação dos atuais 4,5% para 3% até 2018. Isso não penalizaria o mercado de trabalho, como diz Dilma?
 
Não. Dilma trabalha com uma teoria de curto prazo. Se dissermos agora que o BC vai reduzir a inflação a 3% no ano que vem isso aconteceria. Mas conduzir a economia gradualmente para esse patamar é possível. A presidente Dilma só precisava de um tempinho para ler mais. Não precisa de muita teoria. Todos os estudos empíricos mostram que países com inflação mais baixa crescem mais. Inflação atrapalha o crescimento. Eu discuti essa meta com Eduardo com parâmetros responsáveis. Chegar a 3% em quatro anos é possível. Isso poderia gerar um crescimento de mais longo prazo.
 
Marina foi criticada ao dizer que pré-sal e hidrelétricas de grandes reservatórios não seriam prioridades. Isso não seria desperdiçar vantagens comparativas do Brasil em nome de alternativas arriscadas?
 
O pré-sal está aí, uma descoberta que é fruto de uma estratégia de Petrobras e deve continuar. Quando a gente compra um carro, não discute se tem ou não roda. A gente pressupôs que o pré-sal é algo estabelecido. Vai ser feito. Sobre hidrelétricas, a ideia de grandes reservatórios não foi discutida a fundo. Acho que nem a Rede tem uma posição definitiva. O que eles dizem, e estão corretos, é que é preciso questionar se realmente precisamos de mais reservatórios. Não conseguimos superar com solar, eólica ou biomassa? Vamos tentar. A ideia é elencar as fontes de energia por impacto ambiental e ir alocando. Hidrelétricas sem grandes reservatórios está acima nessa prioridade do que com reservatório, que está acima de termelétrica... E assim vai. Mas ninguém vai ser irresponsável porque o autoritarismo não faz parte da tática de Marina e nem do PSB. Não vi ter uma presidente batendo na mesa dizendo que vai ter que ser assim, mesmo com todo mundo sabendo que é irracional.
 
Marina é criticada por apresentar propostas que aumentam gastos sem apontar origem dos recursos. Não é uma contradição em relação ao discurso de austeridade fiscal?
 
O orçamento tem hoje R$ 253 bilhões de recursos discricionários (não-obrigatórios). Calculamos que é possível abrir no Orçamento em torno de R$ 210 bilhões, em várias brechas. Só o fim desse grande balcão de emendas para angariar votos no Congresso vai resultar em R$ 100 bilhões. Nós queremos reclassificar esses gastos. Hoje, Bolsa Família é discricionário. Se a presidente ficar mal-humorada, pode acabar. Em segundo lugar, fizemos estimativas de que se, na Previdência, houver maior fiscalização para acabar com distorções e sonegações, o rombo de R$ 50 bilhões do ano passado fica positivo. A boa gestão acaba com o deficit.
 
O crescimento da economia no governo Dilma ficou abaixo de 2% ao ano. Qual seria a marca atingida por Marina aplicando suas propostas?
 
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O ano que vem vai ter um crescimento medíocre de novo e o segundo ano de governo ainda será difícil. Mas acho que, no quarto ano, Marina conseguiria algo em torno de 4%. O começo será difícil por causa das caveiras dentro do armário. A prática do governo Dilma é jogar dívida e gasto para fora do Orçamento. Acha que pode enganar. Esse abacaxi está crescendo com aumento de restos a pagar, adiamento de repasses para a Caixa... Tudo isso nós vamos ter que jogar no Orçamento.
 
O mercado financeiro rejeita a reeleição da presidente Dilma. Parecia mais ligado a Aécio, mas agora sinaliza para Marina. Roberto Setubal, presidente do Itaú-Unibanco, fez elogios a ela. É importante ter apoio do mercado para vencer as eleições?
 
Não acho que seja tão importante. Interessa mais do que tudo apresentar as ideias. O importante é ser sincero, dizer o que se quer fazer. Se o banco gostar, tudo bem. Mas não estamos aqui para agradar banco. Marina não seria como Dilma, que gosta de prometer coisas para agradar determinados setores. O que pauta Marina não é o ódio de nenhum setor, mas o que acha que é bom para o povo brasileiro. Assim como Lula, ela é uma legítima representante do povo. Se em algum momento agrada ou desagrada algum setor, isso não a afeta. Ela não quer penalizar ninguém, mas não vai sacrificar a maioria pelos interesses de uma minoria. Se o setor financeiro apoiar, ótimo. Se não, paciência.
 
 
 
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