domingo, 21 de setembro de 2014

O high society paulistano e o racha entre votar em Aécio ou em Marina

Alô, alô, marciano: Tá cada vez mais down the high-society…

21 de setembro de 2014 | 19:30 Autor: Fernando Brito
aeciolites
Imperdível a coluna de Monica Bergamo, hoje, na Folha.
Dispensa comentários que desenhem mais claramente  a tragédia de São Paulo, e a do Brasil.

Marina e Aécio dividem o tradicional reduto tucano do high society de SP

O high society paulistano rachou. Sempre um bloco sólido e praticamente homogêneo nas eleições, socialites, empresárias e profissionais liberais de classe A/B da cidade, a maioria do circuito Jardins-Higienópolis-Vila Nova Conceição, seguem unidas na rejeição ao PT. Mas divergem, neste ano, sobre como tentar bater a presidente Dilma Rousseff nas urnas. Votar em Marina Silva, uma novidade? Ou em Aécio Neves, do já velho e conhecido PSDB?
Os primeiros sinais da divisão surgiram quando Rosangela Lyra, ex-diretora da Dior no Brasil, organizou um encontro com coordenadores da campanha de Marina Silva, há duas semanas. A lista de convidadas era extensa. Nem todas apareceram.
“Eu fui convidada, mas não fui lá. Imagina!”, diz Deuzeni Goldman, a Deuza, mulher do ex-governador de SP, Alberto Goldman, do PSDB. “Sou amiga da Rosangela e tudo. Mas só tinha tucana [na reunião], pelo que eu sei. Todas as que estão indo para a Marina. Gente que sempre foi fechada com a gente, de repente não sei o que é que deu nesse pessoal. Uma loucura.”
Deuza foi rápida: na semana passada, ajudou a socióloga Maria Helena Guimarães a organizar um encontro com o próprio Aécio Neves.
“Sou Aécio até o fim. É uma via segura. Marina é uma incógnita”, diz ela à repórter Eliane Trindade. “Depois de 12 anos de corrupção, o Brasil não merece uma presidente que não tem maioria no parlamento. Como ela é pura, não vai fazer aliança, não terá meios de governar. Está achando que é mágica. Com uma varinha de condão, entra lá e resolve tudo. Não é possível que o brasileiro médio não entenda isso. As pessoas menos esclarecidas até podem embarcar nessa onda de comoção, de que ela é uma predestinada. Mas a candidatura não tem consistência. Meu marido está perplexo.”
“Marina sempre foi ligada ao PT, sempre foi oportunista”, afirma Deuza. “Foi vereadora, senadora, ministra do Lula e ficou quietinha na época do mensalão. Deixou o partido para tentar ser presidente pelo PV. Saiu para fundar a Rede, não conseguiu e foi parar no PSB, que apoiou o Lula e a Dilma por 12 anos. Ninguém sabe o que ela pensa de verdade.”
Ela volta a falar do encontro de Marina. “Eu vi que a [publicitária] Bia [Aydar] foi, a [socialite] Ana Paula Junqueira também. Ela era amiga do Aécio, de passar férias em Angra. É muito louco. Ana Paula quer entrar pra política não sei há quanto tempo. Ela disputa e nunca consegue, quem sabe viu uma brecha aí [com Marina]. Mas, enfim, isso não vem ao caso.”
Ana Paula diz que vota em Marina “para tirar a alternância de PSDB e PT no poder”.
Deuzeni fica aliviada ao saber que os argumentos dos marineiros não convenceram Bia Aydar, que já trabalhou com Fernando Henrique Cardoso e Aécio: “Ainda bem”.
Bia Aydar explica: “Eu adoro duas pessoas que estão com a Marina, o Álvaro de Souza [ex-presidente do Citibank], que amo de paixão, e o Waltinho [Walter Feldman, coordenador da campanha]. Pensei: se tanta gente que conheço fala que Marina é a salvação, isso e aquilo, quero ouvir”. Ouviu. Pouco entendeu. “Não respondiam lé com cré.” Quando Feldman falava, “ficava claro. Mas os outros [marineiros] era coisa muito utópica, sabe? Muito Marina? As pessoas querem votar nela pra não votar no PT. ‘Tô cheia, vamos votar no diferente.’ Mas não me convenceu. Voto no Aécio.”
Já Rosangela diz que a maioria das convidadas saiu convicta de que Marina é “a melhor opção”. “Quem veio ao encontro veio com a ideia de que ia votar na Marina porque, dos males, o menor. E saiu dizendo que vai votar nela por ser a mudança que a gente quer. Com a Marina não vai ter essa história de 40 partidos com listinha pedindo cargos. Ela quer governar o Brasil como uma empresa.”
No encontro, os marineiros foram questionados se, por exemplo, os conselhos defendidos por Marina não são “excesso de democracia” que leva “a própria democracia ao caos”. “Valeu a pena esclarecer”, diz Rosangel
Caso Marina não vá para o segundo turno, aí sim Rosangela vota em Aécio. “Eu já falei que Dilma basta. Se para o segundo turno for o pastor [Everaldo], eu vou no pastor, entendeu? O Brasil não merece mais esse governo. Não quero a continuidade.”
Já para o governo de SP, ela vota em Geraldo Alckmin, “com todas as minhas forças”. Se ele for eleito, o PSDB completará 19 anos no poder. “Essa continuidade é fantástica para o Estado. Não é que eu quero mudança porque eu enjoei, não. Quero mudança do que não funciona.”
A dona da loja de móveis Ornare, Esther Schattan, foi aos dois encontros, de Marina e de Aécio. Ela já tinha ido a uma reunião com Eduardo Campos, “encantador também, como todos os políticos. E Marina tem uma fé incrível. Cada um que você ouve, acredita. Esse é o dom deles”.
Esther segue indecisa. A presença do economista André Lara Resende, que foi presidente do BNDES no governo de Fernando Henrique Cardoso, na equipe econômica de Marina Silva embaralha ainda mais as coisas. “Tem tucanos com Marina e com Aécio.” O ideal, diz, seria que “os dois se juntassem. Aí, ganhavam disparado, seria 100% dos nossos votos já no primeiro turno”. Por enquanto, “está todo mundo no muro”.
“Eu acordo Marina, vou dormir Aécio e acordo Marina de novo”, diz a designer Elisa Stecca. “Gosto infinitamente quando penso no ministro da Fazenda dele. O Armínio Fraga [anunciado para o cargo pelo tucano] é o ponto forte do Aécio. Mas ele tem um discurso pobre. Quero votar a favor de algo e não só contra o PT.” Marina tem “mais a ver comigo”, diz. Mas “dá medo. É uma incógnita”.
As pesquisas que mostraram Aécio Neves ganhando pontos, na semana passada, animaram a agropecuarista Carmen Célia Goulart Monteiro a reverter votos de amigas indecisas ou que “marinaram”. “A maioria pensou no voto útil contra o PT. Mas Aécio está reagindo”, dizia ela, uma das primeiras a chegar ao PSDB, onde ocorreu o encontro com o candidato.
A empresária Mariana Laskani foi aparentemente resgatada na reunião tucana. “Muitos amigos me ligaram para dizer para não votar no Aécio porque corria o risco de a Dilma ganhar. Fiquei em dúvida. Mas sempre fui Aécio, Alckmin e [José] Serra.” A amiga Mariana Berenguer reforçava: “Vou votar nele pela equipe. Conheço Armínio Fraga, ele é brilhante.”
A advogada Marcela Monteiro de Barros, do projeto “Sonho Brasileiro da Política”, prefere Marina. Mas seu marido, Roberto Coelho Neto, da Enabler Investments, está na corrente do voto útil. “Ele é super Aécio. Só que vai votar na Marina –não porque prefira, mas por ela ter mais condições, no segundo turno, de enfrentar a Dilma. Vi muita gente migrando do Aécio para ela por causa disso.”
Marcela vive na ponte aérea Rio-SP e diz que os encontros com candidatos se multiplicaram. “Eu soube de um que a Patrícia Villela, a mulher do Ricardo Villela, vice-presidente do Itaú, fez para o Aécio e para a Marina. Vi muita gente fazendo encontro para eles. E, sinceramente, ninguém para a Dilma.”
A coluna conversou com mais de 30 mulheres desse círculo social. Só encontrou duas que declaram voto em Dilma: Eleonora Rosset, amiga de Marta Suplicy e mulher do dono da Valisere, Ivo Rosset (“sou Dilma e não vou mudar”). E Roberta Luchsinger, herdeira do Credit Suisse e mulher do deputado Protógenes Queiroz (PC do B-SP).
“Dilma é firme, honesta”, diz Roberta. “Ela enfrentou o Obama, a Marina segue o [pastor] Malafaia. Quando dizem que, se a Dilma ganhar, o Brasil vira Venezuela, respondo que, com a Marina, vai virar Vietnã. Quem acha que Dilma é ditadora não conhece a Marina. Será um retrocesso. Eu me mudo no outro dia. Uso minha cidadania suíça e vou embora do Brasil.” 
http://tijolaco.com.br/blog/?p=21413

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