domingo, 14 de setembro de 2014

“Vocalizador” de Marina quer elevar meta de inflação. É a confirmação do “tarifaço”


14 de setembro de 2014 | 12:35 Autor: Fernando Brito
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Hoje, a Folha revela que o economista Alexandre Rands, um dos integrantes da turma de “vocalizadores” que Marina mandou conversar com a nata do setor financeiro, reunida pela Merryl Lynch-Bank of America, prometeu ali elevar a “meta de inflação”  - um dos integrantes do sacro “tripé macroeconômico” – caso a candidata convertida ao mercado chegue ao governo.
O episódio lembra-me a história que ouvi certa vez e jamais me saiu da cabeça. Depois de um prolongado cerco, um rei resolveu entregar sua cidadela. Foi, com uma pequena embaixada, negociar pessoalmente com o chefe do exército que o ameaçava, junto aos muros da cidade. E, antes de qualquer coisa, pediu-lhe que as conversações fossem em grego, conhecido apenas pelos “cultos”  e não em aramaico, língua do povo que se espremia na amurada para ver e ouvir o que se dizia.
Elevar a meta de inflação é uma espécie de “porteira aberta” para um choque tarifário, porque libera os efeitos da elevação dos preços administrados: gasolina, energia, planos de saúde, água e escoto, gás de cozinha, tarifas em geral e uma série de outros…
São 23 itens, no total, que representam um peso de quase 25% no cálculo total da inflação pelo IPCA.
Claro que há necessidade de fazer, de forma controlada e gradual, permanetes reajustamentos nestes preços.
O que é totalmente diferente de dar um “choque de preços”, em nome da “liberdade de mercado”.
É o que, já há alguns dias, Luís Nassif nos advertia sobre as declarações de outro “guru” marinista, Eduardo Giannetti.
Isso, é obvio, aumenta a inflação e é por isso que, para “dar credibilidade”, como diz Rands, a meta seria elevada. E para evitar que ela também “estourasse”, claro, seria necessário  ”nivelar”  os dois outros suportes do “tripé”.
Juros para cima, porque com inflação mais alta necessário elevá-los para duas coisas: manter o nível real de remuneração do capital e “segurar” a inflação via  redução do crédito.
Dólar para o alto, também, porque isso também contribuiria para frear o consumo, os gastos no exterior, melhorar a balança comercial e, sobretudo, tornar mais baratos e atraentes para o capital internacional os ativos no Brasil.
metasA comparação feita pela matéria da Folha, mencionando o fato de, no primeiro ano do governo Lula, ter sido elevada a meta de inflação é totalmente esdrúxula: ali a “meta” foi ajustada à realidade de desvalorização cambial (53%) e à taxa de inflação (12,53%)  já registradas no final do governo FHC, durante o ano de 2002.
Não é absolutamente comparável, pois a inflação tinha sido mais que o dobro do teto fixado então (de 5,5%), enquanto hoje, mesmo se considerarmos o acumulado em 12 meses, a desvalorização está 0,01%  (isso mesmo, um centésimo de ponto percentual) acima do teto.
Basta alguém olhar o gráfico das metas e do comportamento da inflação ao longo dos anos que verá, mesmo sem conhecimento mais profundo de economia, que se trata de duas situações totalmente diferentes. E a expectativa da inflação futura, em vermelho, não é a do governo, mas a do próprio setor financeiro, através do Boletim Focus.
O que os “vocalizadores” de Marina anunciam, pura e simplesmente, um conjunto de medidas que, como aquela rendição do rei, não pode ser dito na língua do povo: um “tarifaço”, o aumento dos juros e a elevação do dólar.
Esta aí porque esta gente parece falar grego.
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