quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A crise hídrica e a eleição presidencial


Do blog do Marcio Valley
Sentia no ar eleitoral um odor desagradável que vinha incomodando fortemente, mas cuja origem até agora me escapava. Sei que são comuns os golpes eleitorais midiáticos. Situações de escândalos historicamente vêm sendo reiteradamente criadas pela imprensa às vésperas das eleições. Até já nos acostumamos a aguardar a chamada "bala de prata" da imprensa, aquela capaz de matar o lobisomem petista na boca da urna. "O que será que a Veja vai publicar no dia anterior à eleição?", pergunta-se a sociedade antes de toda eleição. Não fosse trágica essa atuação da imprensa, a situação seria ridícula, vergonhosa. Obtiveram sucesso em algumas eleições, perderam em outras.
Nas eleições de 1989, para beneficiar Fernando Collor de Mello, o candidato do PRG (Partido da Rede Globo), inventaram a participação do PT no sequestro do empresário Abílio Diniz, participação essa desmentida imediatamente após eleições como demonstração de existência de uma imprensa livre e isenta, que desmente as notícias falsas... sempre que o prejuízo causado já atendeu aos seus interesses. Ainda em 1989, a Globo confessadamente manipulou as imagens do debate travado entre Lula e Collor para dar a aparência de vitória collorida.
Em 2002, ante a perspectiva de vitória de Lula e com a crise econômica nos calcanhares do Brasil, dissemina-se violentamente a ideia de que a subida do PT ao governo pioraria o quadro econômico, fazendo-se, ainda, conexões disparatas de ligações petistas com as FARC, com o marxismo radical. Aliás, é nesse momento que nasce a Veja de ultra-direita fundamentalista.
Em 2006, criou-se a "crise do mensalão", que arrefeceu logo após as eleições. Alckmin, candidato tucano, tentou ao máximo aproveitar-se da onda de escândalos, praticamente chamando Lula de corrupto e ladrão nos debates. A sensatez do povo, todavia, prevaleceu.
Em 2010, tivemos a apresentação midiática escandalosa de um escroque de Campinas, criminoso pobretão de cuja biografia, então, já constavam duas condenações criminais, uma por interceptação de carga roubada e outra por posse de moeda falsificada. Ele, que havia saído dois anos antes da prisão, foi apresentado pela imprensa como representante de um empreendimento privado no valor de nove bilhões de reais (à época). Tal criminoso condenado duplamente denunciou um suposto esquema de corrupção no governo, apresentando, como prova, e-mails nos quais ele efetuava requerimentos à Casa Civil. Apesar da absoluta leviandade da acusação, as manchetes produziram os estragos habituais, inclusive a exoneração da então secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Como sempre, as denúncias não foram comprovadas. Após o período eleitoral as manchetes sobre o assunto simplesmente secaram e, no ano seguinte, o "empresário" se retratou de todas as acusações. Ainda em 2010, passou à história do jornalismo brasileiro as ridículas manchetes assustadas acerca da "bolinha de papel", fato apresentado, e obviamente sustentado pelos tucanos, como um atentado à integridade física do candidato do PSDB, José Serra.
Em 2012, o tema do mensalão foi ressuscitado, pois, por "pura coincidência", o Supremo Tribunal Federal programou o julgamento para ocorrer simultaneamente ao período eleitoral, e de forma televisionada para todo o Brasil, fazendo a festa da imprensa e atendendo aos interesses tucanos. 
Agora, nessa eleição de 2014, a situação eleitoral aparentava, estranhamente, ser diferente das anteriores, a começar pela ausência da bala de prata antes do primeiro turno. Porém, tentou-se criar esse clima, no segundo turno, com o escândalo da Petrobras, repetindo a imprensa a velha e gasta tática de basear suas manchetes em declarações não confirmadas partidas de criminosos confessos. É importante destacar que novamente o poder judiciário se presta a participar de manipulações eleitoreiras, ajustando seu calendário de inquirições à agenda eleitoral, além de indicar aos depoentes o que dizer ou não em seus depoimentos, como forma de não perder o comando do processo criminal, pois caso algum deles mencionasse o nome de uma autoridade federal com foro privilegiado, e eles iriam mencionar, o processo deveria ser remetido ao STF. Mesmo assim, trata-se da fabricação de um escândalo menor para um partido já acusado de participar de sequestro de bilionário e de ser representante de um grupo terrorista armado. A acusação parecia até leve e, de certa forma, fácil de administrar e de refutar.
Mas aquele cheiro no ar... aquele odor desagradável persistia. Por quê?
O que primeiramente chamou minha atenção foram as denúncias de problemas em urnas eletrônicas. Foram além do normal, inclusive eu mesmo tendo presenciado, o que nunca ocorreu, relatos de problemas na seção eleitoral onde voto. Foi um tal de dizerem que a urna não indicava, com o sinal sonoro, a conclusão do voto, ou de que não aceitava o número desse ou daquele candidato, ou, ainda, de que o eleitor, ao chegar para votar, era noticiado de que já havia notado.
Depois disso, veio a espantosa, na verdade inacreditável, ascensão do Aécio Neves, somente detectada após a contagem dos votos. Quando escrevo inacreditável estou utilizando a palavra em sua real acepção de "não acredito". Nem mesmo a boca de urna, pesquisa levada a efeito após o voto do eleitor, conseguiu captar essa ascensão.
Por fim, apresentam-se algumas pesquisas eleitorais recentes indicando uma situação absolutamente inédita na história das legítimas democracias que observam o estado de direito. Sinalizam elas que os eleitores de todos os demais candidatos resolveram, misteriosamente, votar em peso no Aécio Neves, contrariando a lógica tradicional de repartição dos votos, ainda que com preponderância de um dos contendores.
Bom, agora o fedor tornou-se insuportável.
Após refletir por longo tempo sobre essa conjuntura, cheguei a uma conclusão que vou compartilhar, previamente alertando de que é um tanto conspiratória. Creio, contudo, ser verossímil.
Temo que esteja pavimentado o caminho para um golpe branco, produzido através da manipulação das urnas eletrônicas.
E, por que, estariam tentando fazer isso? Por puro desespero. Explico.
Felizmente o eleitor brasileiro tem demonstrado uma relativa imunidade aos escândalos midiáticos. Há uma percepção de que eles sempre são produzidos no período eleitoral, o que evidencia a sua natureza manipulatória. O povo vem demonstrando não ter nada de ignorante, como sugere nosso ex-presidente sociólogo, FHC.
Em outras palavras, nada garante que o povo escolherá Aécio Neves, pelo contrário, é mais provável sua derrota.
Numa situação de normalidade, a elite midiática continuaria a sua sanha manipulatória, imaginando que, um dia, isso acabaria por resultar no "defenestramento" do PT pelo voto. E isso, de fato, é possível, pois é notório que o sentimento antipetista vem ganhando intensidade, alcançando inclusive setores beneficiados pelo governo do PT.
Há também o inevitável cansaço eleitoral. Um dia o PT sairá do governo.
Ocorre que essa não é mais uma situação de eleição normal. Talvez seja a última na qual o PSDB possui reais chances de ascender ao governo federal. Explico novamente.
Há um fato que está ocorrendo à vista de todos, mas cuja percepção é extremamente mitigada, contida, em função da atuação parcial da imprensa. Esse fato é capaz de produzir, torço para que não, a maior tragédia já ocorrida na história do Brasil, capaz de prejudicar severamente a vida de vários milhões de brasileiros inocentes, talvez até de provocar uma convulsão social de proporções ainda desconhecidas.
Esse enorme problema vai estourar em nossas caras muito, mas muito em breve, provavelmente dias ou semanas após a contagem dos votos.
Trata-se da crise hídrica de São Paulo.
Se não houver uma solução rápida para esse problema gigantesco, e pelo que tenho lido ainda não há, a água simplesmente vai acabar em São Paulo. O cenário de uma megalópole, como São Paulo, sem água... bom, vocês podem imaginar. Serão milhões de pessoas desabastecidas do segundo elemento mais importante para a vida humana, depois do ar para respirar.
Caso esse cenário de tragédia ocorra, ainda que parcialmente, é muito possível que o PSDB nunca mais obtenha sucesso eleitoral no estado mais importante do país, o único de fato importante no cenário político que ainda lhe resta, depois da derrocada tucada em Minas Gerais.
Isso tornaria o partido escolhido pela imprensa, imediatamente, um nanico eleitoral que carregará a pecha de ter produzido, depois de um inédito apagão elétrico, um ainda pior apagão hídrico. Suas chances de disputar a presidência estariam definitivamente sepultadas.
Ao meu ver, esse é o desespero atual que pode conduzir à tentativa extrema de obter o poder a qualquer preço, ainda que ao preço de conspurcar a democracia e sujar para sempre esse bom sistema de apuração de votos em urnas eletrônicas (seria melhor se fornecesse a confirmação do voto em papel para ser colocado em uma urna física, o que coibiria fraudes, mas ainda assim é bom).
E o pior é que, se isso ocorrer, dificilmente será objeto de investigação. Experts sérios irão às tevês debater sobre o incrível sucesso de Aécio, sempre lembrando que as pesquisas eleitorais... ah, as pesquisas eleitorais, já indicavam um ascensão do tucano do primeiro para o segundo turno.
Pode parecer uma "teoria da conspiração", mas sempre me lembro de que a maior artimanha do demônio é nos convencer de que ele não existe.
Pode não ser nada, mas, em certos casos, todo atenção é pouca.

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