quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Os cátaros

Um pouco da história de perseguição religiosa aos cristãos que tomaram a peito a determinação de levar um modo de vida distoante da corrupção do catolicismo romano. Trecho extraido de O Livro Negro do Cristianismo.

Embora conhecidos por vários nomes — albigenses, patarinos, concorrenzzianos10 —, preferiam ser chamados de "cátaros", os "puros", do grego katharos. Eram ascetas e pacifistas, e seus sacerdotes não possuíam riquezas. Os cátaros tinham uma concepção dualista do mundo, herdada dos bogomilos:11 o espírito é o bem e a matéria é o mal. Rejeitavam a doutrina da encarnação (já que a matéria é má, Deus não podia ser Jesus encarnado), o matrimônio, a procriação, e observavam longos e rigorosos jejuns. Praticavam uma espécie de batismo espiritual com a imposição das mãos. Tinham um "clero" próprio formado por "maiores" (bispos), presbíteros (padres) e diáconos. Além disso, distinguiam entre "perfeitos" (os plenamente adeptos à seita, com todas as obrigações vinculadas) e "crentes" (uma espécie de "simpatizantes" a quem os cátaros permitiam a adesão formal aos ritos da Igreja Católica).

A heresia cátara era muito difundida na França meridional, a ponto de quase prevalecer sobre o catolicismo. Várias comunidades estavam presentes também na Itália e na Espanha setentrional, nos territórios eslavos e em Constantinopla. Os cátaros (como os primeiros cristãos) estavam presentes sobretudo nos centros urbanos. A população era conquistada por seu ascetismo e moralidade, muito maior do que a do clero ortodoxo. Aceitavam apenas uma parte das Sagradas Escrituras e consideravam a Igreja de Roma uma criatura do demônio. Assim, em 1167, fundaram uma verdadeira Igreja alternativa, com um concilio internacional numeroso no sul da França.12 Os cátaros gozavam do apoio dos nobres provençais, que sonhavam em se apoderar dos bens da Igreja e temiam seu poder.

Em 1179, o Terceiro Concilio de Latrão estendeu os benefícios previstos para os cruzados da Terra Santa a quem empunhasse armas contra os hereges do sudoeste da França. Era a primeira vez que se ordenava uma Cruzada contra os cristãos.13

Em 1208, o papa Inocêncio III, preocupado com o crescimento contínuo da influência dos cátaros, renovou o chamado à Cruzada, prometendo de novo as mesmas indulgências e os mesmos privilégios concedidos aos cruzados.14

Assim, dois anos depois, foi formado um exército de duzentos mil cruzados, na maioria nobres do norte da França ansiosos por conquistar terras e mercadorias às custas de seus colegas do sul. "Por vinte anos, a parte mais civilizada da Europa — e, segundo alguns, também mais feliz —, a terra dos trovadores, foi devastada por saques e destruições em larga escala." (Christie-Murray, 1998, p. 155.)

A Cruzada teve episódios de grande fúria, como o massacre de Béziers, em 1209. Quando os cruzados conquistaram a cidade e perguntaram ao representante do papa como poderiam diferenciar os católicos dos hereges, este respondeu: "Matem todos. Deus reconhecerá os seus." "A cidade de Béziers foi dominada, e como nossos homens não distinguiram dignidade, sexo ou idade, quase vinte mil homens morreram sob a espada... a cidade foi saqueada e queimada: assim a atingiu o admirável castigo divino." (Christie-Murray, 1998, p. 155.) Assim escreveram os representantes do pontífice, em um relatório oficial ao papa sobre os acontecimentos.

O massacre de Béziers causou o autêntico repúdio da opinião pública da época. Eis o que escreve o trovador provençal Guilhem Figueira, em seu "Sirvente contra Roma", composto por volta de 1227:

Roma...

Seria bom privá-la

De cérebro,

pela vergonha que carrega no chapéu,

você e seus Citeaux — que massacraram

Béziers, e assustadoramente!15

Após Béziers, sucedeu-se a conquista de Carcassone, Narbonne e Toulouse. A Cruzada se encerrou em 1229, com a tomada de Toulon e o tratado de Meaux, no qual o conde Raimundo VII, de Toulouse, reconheceu o domínio do rei da França, que lhe cedeu parte dos próprios territórios, e se reconciliou com a Igreja Católica. O tratado também equiparou o crime de heresia ao de lesa-majestade. Para provar sua boa vontade, em seguida, o conde mandou pessoalmente 80 hereges à fogueira em Agen, em 1249.

Os cátaros sobreviventes se refugiaram parte na Itália setentrional, parte nos Bálcãs, onde incrementaram as fileiras de uma Igreja dualista autônoma hegemônica na Bósnia-Herzegóvina, que foi destruída pela invasão turca do final do século XV.

Em 1244, o arcebispo de Narbonne, "seguindo as diretrizes apostólicas" (ou seja, as ordens do papa Inocêncio IV), mandou para a fogueira mais de duzentos hereges de ambos os sexos capturados após um ano de sítio à fortaleza de Montségur. Enquanto isso, a Igreja desenvolveu uma legislação para encorajar o "arrependimento". Em Milão, por exemplo, o período de noviciado para os ex-hereges que quisessem entrar para a ordem dos dominicanos foi reduzido. E houve ex-cátaros que se tornaram inquisidores e perseguidores de hereges, como o dominicano Ranier Sacconi. No início do século XIV, "a questão cátara já estava resolvida: os focos de resistência seriam facilmente debelados pelos inquisidores". (Merlo, 1989, p. 98.)

Troca de impressões com um amigo, sobre o livro negro do cristianismo.‏

Encontrei o livro, salvo engano, no sitio da Folha de São Paulo exposto à venda. Como sei que na busca do google invariavelmente encontramos o link para o download gratuitamente, fiz a busca e achei o link que lhe enviei. Nada de intencional no que diz respeito a hospedagem está num sitio satanista, pornográfico e ateísta. Coincidência que sequer parei para avaliar. Geralmente é um procedimento rotineiro que adoto, o de sempre baixar no primeiro site que a informação de meu interesse esteja disponível. Somente quando o link está corrompido ou quando o servidor não é o megaupload, do qual sou assinante, é que procuro outro.



Permanece, porém, o fato de que em aceitando os termos de seus arrazoados, significa, trocando em miúdos, que embora não fosse o desejo de Deus que a mensagem de Cristo se tornasse mundialmente conhecida pela espada, considerando os primórdios do cristianismo, apartir de quando tornou-se religião de Estado, servindo depois como poderoso instrumento de conquista e de dizimação de inúmeras civilizações, a relação custo benefício, por fim pendeu mais para benefício do que para custo.



Aí temos um Deus pragmático. Se milhões morreram durante o processo de expansão do cristianismo, centenas de milhares tiveram suas vidas salvas em nome do bem maior. Baixas aceitáveis se vislumbrássemos, sob este ponto de vista, de que no futuro o cristianismo seria assentado em outras bases em que a conversão se daria pelo convencimento, associado a ação do Espírito Santo de Deus, atuando fortemente no coração das pessoas, tal como aconteceu durante o ministério dos apóstolos, assim também como acontece hoje.



Por este raciocínio, isentamos a Deus da responsabilidade que porventura possamos atribuir-lhe. A validade dos argumentos acima se efetiva na percepção da capacidade de Deus de erguer da morte aqueles que por questão de justiça não tiveram a opção da escolha. É plenamente factível que assim seja. Não me nego o direito de crer, o difícil é convencer a outros que a impassibilidade de Deus tenha permitido que o cristianismo se disseminasse por vias tão oblíquas. Sei que não devo ter esta pretensão. É o trabalho de Deus ainda a completar-se.



O crer sempre leva a aceitar e quase nunca a contestar. Sempre estou me dando a chance da aceitação, ainda que vociferando. De uma coisa tenho certeza: se não tivesse passado pela experiência do despertar espiritual em Cristo, mesmo estando afastado, por conflitos interiores que se apresentam com a falsa aparência de que são insuperáveis, dificilmente teria o cristianismo ou outra religião formal como modo de vida a ser alcançado. Hoje não estaria propenso a aceitar a salvação divina proposta no evangelho. E não estaria pela simples razão de que tudo que conheço, vejo e aprendo caminha em direção contrária. A salvação é como encontrar uma agulha no palheiro, talvez por isso Jesus a tenha comparado a uma porta estreita.



A chama da esperança não enfeneceu de todo dentro de mim. A confiança de uma conversão genuína permanece viva e não desistirei enquanto o último suspíro me restar. Em nenhuma circustância desacreditaria da existência de Deus, nem que fosse o mais sábio de todos os homens. As palavras de Paulo em romanos constituem argumentos inescusáveis da existência de Deus. O universo e tudo que nele há, incluindo a maior de todas as criações, o ser humano, não poderia existir sem a intervenção de um criador amoroso e provedor. O cristianismo, sim, este cristianismo, mergulhado em tantas contradições, me fez desacreditar por vezes que tivesse alguma coisa a ver com o Deus que o universo revela. São idas e vindas que me mantém na busca do reecontro com Cristo Jesus.