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SENADOR DO PSDB TINHA A ELEIÇÃO CERTA PARA SEU CANDIDATO EM BH, O PREFEITO MARCIO LACERDA; RESOLVEU ARRISCAR E JOGOU DURO PELA SAÍDA DO PT DA ALIANÇA; AGORA, NÃO SÃO POUCOS OS TUCANOS QUE ESTÃO TEMEROSOS DE DERROTA DEPOIS QUE OS PETISTAS LANÇARAM O EX-MINISTRO PATRUS COMO CANDIDATO. SE PERDER NA CAPITAL DE MINAS, O PROJETO DE AÉCIO PARA 2014 FICA AMEAÇADO
Minas 247 - Há não mais do que dez dias, o senador, ex-governador de Minas e principal presidenciável do PSDB, Aécio Neves, estava tranquilo com relação às eleições na capital de seu estado. Tão tranquilo que se dava ao luxo de estimular, nos bastidores, candidaturas rivais à do seu candidato oficial, o prefeito Marcio Lacerda, do PSB. A perspectiva de uma reeleição fácil deixaria o socialista forte o suficiente para fazer sombra aos projetos aecistas em Minas.
Tão tranquilo estava Aécio que ele resolveu jogar uma cartada incomum na sua carreira política: arriscou-se com tudo numa eleição. Em Minas, o senador tucano é famoso por adotar o estilo típico do político mineiro, aquele que pouco arrisco e só vai, por assim dizer, na boa. Neto do ex-governador Tancredo Neves, ele segue à risca os ensinamentos do avô na política.
Segue ou seguia? Nos dias que precederam às convenções municipais que definiram as candidaturas em Belo Horizonte, Aécio resolveu arriscar. “Partir para o briga”, em português. Estimulou o PSB da capital e de Minas, além do próprio Lacerda, a não aceitar a coligação proporcional para vereador. O cálculo, em tese, fazia sentido: no apagar das luzes, a menos de uma semana do prazo final para registro das candidaturas, o PT não se atreveria a falar grosso.
Em tese, apenas. Na prática, os petistas, liderados pelo vice-prefeito Roberto Carvalho, aceitaram o jogo de Aécio e foram ao ataque. Depois, já com a entrada no campo de seus maiores jogadores - Lula e Dilma -, escalaram um jogador popular na cidade, o ex-ministro Patrus Ananias. Passaram a negociar o apoio de coadjuvantes importantes, como o PMDB, o PSD de Gilberto Kassab e o PCdoB, que até o início desta semana jogavam no time adversário. Por fim, animaram a torcida: nas redes sociais, percebe-se, aos poucos, o retorno da figura do militante do PT, um ex-protagonista que andava esquecido pelos cartolas do partido.
“Provavelmente, Aécio cedeu às pressões dentro do seu próprio partido, que exigiam dele maior audácia e menos passividade em relação aos adversários políticos”, diz o cientista política Rudá Ricci. De fato, essa era - e é - uma crítica que sempre envolveu o ex-governador mineiro. Mas talvez ele tenha escolhido o momento errado para enfrenta-la.
Se vencesse em BH, é certo, Aécio teria a presença de petistas na prefeitura da capital. Por outro lado, teria um prefeito do qual é amigo pessoal e padrinho político - Marcio Lacerda. O PT hegemônico no poder municipal seria o menos indócil a seus projetos, como mostrava o candidato a vice indicado pelos petistas, o ex-PPS Miguel Corrêa. O senador tucano poderia, assim, levar em banho maria as coisas em Minas até 2014, ano da sucessão de Dilma Rousseff.
Agora, o novo cenário prevê uma eleição disputada e muito polarizada. O adversário, com Patrus na cabeça de chapa, um vice ainda indefinido do PMDB e Carvalho como coordenador de campanha, não poupará os tucanos. O movimento rápido do PSDB a procura de novos aliados mostra a preocupação atual: o até terça-feira candidato do PV, o deputado estadual Délio Malheiros, trocou críticas pesadas ao prefeito Lacerda por uma cadeira de candidato a vice em sua chapa - Malheiros, amigo de longa data de Andrea Neves (irmã e conselheira política do senador), é também muito ligado ao político tucano. O PTB de Eros Biondini (deputado federal com muitos votos na igreja católica) também deve desistir a favor de Lacerda. “A coisa ficou mais difícil, mas vamos ganhar”, desconversa ao 247 um tucano ligado ao governo de Antonio Anastasia.
Está certo que Lacerda, agora mais do que nunca “o” candidato aecista na eleição, pode vencer o pleito de outubro. Mas as chances de derrota, antes inimagináveis mesmo em pequena escala, agora são ao menos razoáveis. Se vencer, Aécio vai falar ainda mais grosso em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país. Se perder, seu projeto de 2014 fica muito ameaçado. O ex-governador mineiro apostou alto. Como nunca fez antes em sua história política.