domingo, 9 de outubro de 2011

Os lucros do silêncio




Vasconcelo Quadros
img.jpg
BOLSA-DITADURA
O cantor argumenta que o dinheiro não paga nem a acupuntura
Na semana passada, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça indenizou 21 pernambucanos perseguidos politicamente durante os anos de chumbo. Entre eles estava o cantor e compositor Geraldo Azevedo. Ele alegou que foi preso duas vezes e teve uma composição, “Canção da Despedida”, em parceria com Geraldo Vandré, censurada pelo regime militar. Embora a Lei da Anistia também ampare prejuízos pela produção intelectual, entre os quase 70 mil requerimentos que deram entrada até hoje são muito raros os casos em que se usou a censura como justificativa para a indenização. “Esse valor é simbólico. Não há dinheiro que pague a prisão, o sofrimento de quem passou pela humilhação”, diz Azevedo, que receberá uma única parcela de R$ 100 mil. O valor pode ser pequeno se comparado às indenizações bilionárias dos primeiros anos de aplicação da lei, mas abriu um precedente que pode ampliar o universo das reparações. E se todos os cantores e intérpretes que tiveram músicas censuradas durante os anos de chumbo resolverem requerer cada um a sua bolsa-ditadura? 

Chico Buarque, por exemplo, foi o compositor e cantor mais censurado. Em 1966, a música “Tamandaré”, incluída no repertório do show “Meu Refrão”, com Odete Lara e MPB4, foi proibida por conter frases consideradas ofensivas ao patrono da Marinha. No início da década de 70, a composição de Chico “Vence na Vida Quem Diz Sim” teve a letra totalmente censurada, sendo gravada num de seus discos uma versão instrumental. Mesmo assim, o cantor, até hoje, nunca havia pensado em entrar no rol dos indenizados. O mesmo vale para Caetano Veloso, que em 1973 teve a sua canção “Deus e o Diabo” vetada por causa do último verso “Dos bofes do meu Brasil”. Geraldo Azevedo pensa diferente. Foi preso por 40 dias em 1969 e, mais tarde, em 1975, por mais 12 dias. Diz que foi espancado e ficou com sequelas que o obrigam a tratamento. “A indenização não daria para pagar sequer as sessões de acupuntura”, afirma. O secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, que também preside a Comissão de Anistia, explica que, no julgamento, a censura à obra de Geraldo pesou tanto quanto as prisões. Ele admite que, com o funcionamento da Comissão da Verdade, haverá uma nova leva de requerimentos.

Os casos de reparação econômica conquistados no Brasil chamam a atenção pelo custo ao erário e o volume de requerimentos já aprovados. Segundo levantamento do Tribunal de Contas da União, o Tesouro Nacional já desembolsou R$ 3,019 bilhões entre 2003 e 2010 para indenizar perseguidos políticos. Deste valor, R$ 1,353 bilhão representa as prestações mensais vitalícias. Como há na fila mais de nove mil processos pendentes de julgamento, o rombo nas finanças públicas será ainda maior. “O quadro salta aos olhos e levanta dúvidas se o legislador efetivamente imaginava que a lei viesse a causar impacto de tal magnitude”, escreve o ministro Augusto Sherman, relator de um dos processos no TCU.  
g.jpg

Um ministro sem apoio



Mário Negromonte deixa de usar R$ 24 milhões em obras, irrita correligionários e a presidente Dilma, e perde sustentação política

Claudio Dantas Sequeira
chamada.jpg
ENFRAQUECIDO
O ministro das Cidades não empenhou emendas e, agora, está sendo acusado de inoperância
Há alguns meses, foi denunciado um esquema de corrupção no Ministério das Cidades, que recebe a maior parte das verbas do PAC. O ministro Mário Negromonte (PP) negou tudo e a presidente Dilma Rousseff lhe deu um voto de confiança. Agora, Negromonte está sendo acusado pelo próprio partido de inoperância por ter deixado de empenhar R$ 24 milhões em emendas parlamentares da bancada do PP no Congresso. O contrato de prestação de serviços entre o ministério e a Caixa Econômica simplesmente caducou, bloqueando, assim, os repasses federais para dezenas de obras em todo o País. O caso foi levado à presidente numa recente reunião reservada com auxiliares. Ao tomar conhecimento da falha, ela esbravejou: “Quando o Marcinho (Márcio Fortes) e sua equipe estavam lá o ministério rodava direitinho. Agora é essa letargia”. Dilma se mostrou preocupada com o que chamou de “falta de gestão” de Negromonte e, ao fim do encontro, deixou clara sua intenção. “Precisamos trocá-lo.” A decisão, no entanto, foi adiada. Para evitar desencadear uma crise administrativa, Dilma achou que o melhor seria deixar a troca para janeiro, quando deverá acontecer a primeira reforma ministerial. Mas o barulho da bancada do PP, que pede a cabeça de Negromonte, pode precipitar a saída do ministro. A cúpula do partido discutiu o assunto no início da semana passada e, na quarta-feira 5, o líder do PP na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro, conversou por telefone com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ela pediu paciência em relação às demandas dos parlamentares e, em sua defesa, reafirmou que o relatório com as emendas da bancada foi enviado dentro do prazo para o gabinete de Negromonte. “Fiz a minha parte”, disse. Ou seja, indiretamente transferiu a responsabilidade para o colo do ministro das Cidades. Negromonte, por sua vez, tem alegado que “não tem orçamento”. O discurso não convence. 

Além de perder o apoio da bancada, o ministro das Cidades está sendo abandonado por um de seus principais fiadores no governo. O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), já avisou que não quer seu nome associado “às trapalhadas” de Negromonte e o excluiu de seu projeto político para as eleições de 2012. Quem também está mantendo distância é a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Desde a formação do ministério, ela insistiu para que Dilma aceitasse o ministro, garantindo que a gestão estaria nas mãos do secretário-executivo Roberto Muniz, ligado a Eva Chiavon, chefe da Casa Civil da Bahia e amiga de Miriam. Hoje a avaliação é de que a ministra do Planejamento se equivocou, ao avalizar a indicação. Para Dilma, tanto Muniz como Negromonte demonstram falta de capacidade política e, principalmente, incompetência de gestão. Como última cartada para tentar evitar a degola, Negromonte apelou até ao ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, atual prefeito de João Alfredo, município do interior de Pernambuco. Após quase três horas de conversa no 14º andar do Ministério das Cidades, Severino o aconselhou a reassumir seu mandato de deputado federal.
img.jpg

O MP ainda cerca Palocci



Ministério Público enxerga indícios de que o ex-ministro orientava clientes sobre como fraudar o Fisco e deve abrir ação criminal

Izabelle Torres
chamada.jpg
RETORNO?
Apesar das investigações, aliados de Palocci defendem sua candidatura em 2012
Depois de perder o cargo em junho por suspeitas de enriquecimento ilícito, o ex-ministro da Casa Civil Antônio Palocci acreditava ter se livrado de uma ação na Justiça. Na época, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse não ter encontrado razões que justificassem investigação sobre o então homem-forte do governo Dilma Rousseff. A decisão de Gurgel, no entanto, não foi suficiente para paralisar os trabalhos da primeira instância do MP, onde subprocuradores conseguiram abrir um processo para investigar se Palocci cometeu improbidade administrativa. O fato de ser alvo apenas de ação na esfera cível vinha sendo contabilizado pelo petista como uma primeira vitória jurídica. O que não estava nos planos de Palocci era que as apurações sobre improbidade encontrassem indícios de que houve crime na atuação de sua consultoria em alguns contratos. Indícios suficientes para justificar a abertura de uma ação criminal inicialmente rejeitada pelo procurador-geral. Ouvidos por ISTOÉ, subprocuradores dizem que documentos indicam que houve crimes de ordem fiscal que lesaram o patrimônio público. As suspeitas são de que Palocci orientava seus clientes não apenas sobre contratos, mas também sobre a declaração de lucros. Os documentos estão agora nas mãos do subprocurador do Distrito Federal, Gustavo Velloso, que já iniciou a análise e deverá determinar abertura de inquérito criminal contra a empresa do ex-ministro.

As novas suspeitas envolvendo a atuação de Antônio Palocci e sua empresa de consultoria criaram um clima tenso nas diferentes esferas do Ministério Público Federal. A procuradoria do DF tentou avisar Roberto Gurgel sobre “novas provas” que justificariam a abertura de uma ação criminal, mas o procurador-geral não respondeu se havia interesse em retomar o caso. Depois de esperar mais de um mês por uma posição do órgão superior, os subprocuradores decidiram tocar o caso mesmo sem o aval do chefe, já que Palocci não detém foro privilegiado desde que deixou o primeiro escalão do governo e, portanto, não depende mais de parecer do procurador-geral. Para procuradores irritados com Gurgel, o novo rumo tomado pelo caso, que corre em sigilo, deixou à mostra a falta de interesse do procurador-geral de investigar gente graúda ligada ao Planalto. “Depois de ignorar a lista de suspeitas que recaíam sobre o enriquecimento do então ministro e a atuação da sua empresa, garantiu mais dois anos no cargo”, lembrou um subprocurador. “Ele conseguiu permanecer à frente do MP, mas enfrenta agora um desgaste interno de difícil reparação”, reforçou outro procurador. Brigas no Ministério Público à parte, a decisão de continuar investigando significa, na prática, uma devassa nos contratos de prestação de serviços da consultoria Projeto e a análise sobre a multiplicação por 20 do patrimônio de Palocci em apenas quatro anos. “Nossa esperança agora é de que a atuação dos subprocuradores não deixe esse caso ficar impune. Está claro que pode ter havido crimes de enriquecimento ilícito e tráfico de influência”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), um dos autores da representação rejeitada inicialmente por Roberto Gurgel. 

Enquanto aguarda a decisão do Ministério Público, Palocci, cuja quarentena terminou na quinta-feira 6 – ou seja, em tese ele já pode retomar as atividades como consultor –, não descarta um retorno à política. Sua assessoria diz que o ex-ministro da Fazenda e Casa Civil não sabe o que vai fazer agora. Mas, de acordo com petistas, Palocci trabalharia nos bastidores por uma candidatura à Prefeitura de Ribeirão Preto, cidade que ele já administrou e onde iniciou carreira política. Uma possível campanha para a Prefeitura de Ribeirão Preto seria uma maneira de reabilitá-lo politicamente. Por essa tese, defendida por pessoas ligadas a Palocci, a repercussão negativa da sua saída do governo não teria força suficiente para prejudicá-lo regionalmente. Mas a eventual candidatura não é consenso nem no próprio PT. Há quem considere que, caso ele seja mesmo candidato, a oposição certamente irá explorar o tema no horário eleitoral, o que prejudicaria o partido como um todo durante as eleições.  
img.jpg

Roleta-russa das ruas mata 40% a mais em São Paulo



Roleta-russa das ruas mata 40% a mais em São PauloFoto: MARCIO FERNANDES/Agência Estado

NINGUÉM ESTÁ À SALVO; COQUETEL DE ÁLCOOL, FALTA DE FISCALIZAÇÃO E CARROS MAIS POTENTES ELEVA EM 40% REGISTROS DE ACIDENTES COM VÍTIMAS FATAIS ENTRE 2010 E 2011; MAIS DE 400 PESSOAS JÁ MORRERAM ESTE ANO VÍTIMAS DOS LOUCOS AO VOLANTE

09 de Outubro de 2011 às 14:07
Manuela Meneses_247 - Nunca foi tão perigoso, como neste exato momento, circular pelas ruas da maior cidade do País: os assassinos do trânsito estão à solta. Nos seis primeiros meses de 2011, as delegacias da cidade registraram o triste número de 378 boletins de ocorrência de acidentes com morte. No mesmo período de 2010, o número foi de 269. O aumento é de 40%. Segundo dados apresentados pela Secretaria de Segurança Pública, desde 2007 não havia tantos relatos de colisões, atropelamentos, apreensões de motoristas alcoolizados e capotamentos que resultaram em mortes. Os dados não registram a quantidade de mortes em cada um dos acidentes, apenas o número de acidentes com mortes.
Desde o início de outubro – e estamos apenas, neste sábado, no dia 8! - três graves acidentes foram registrados na capital. Os mais graves são causados por excesso de velocidade. Outra parte considerável é provocada por motoristas alcoolizados, como Leonardo dos Santos, de 25 anos, que na noite da sexta 7 atropelou pelo menos seis pessoas na saída do campus da Universidade Uninove, na Zona Oeste. Leonardo foi indiciado por três crimes: dirigir sem habilitação, embriaguez ao volante e tentativa de homicídio doloso (quando há intenção de matar).
Também na manhã de sexta-feira, o motorista de um Porsche Carrera foi conduzido a uma delegacia na zona sul depois de provocar vários acidentes na região do Morumbi. Por volta das 8h30, o engenheiro de 35 anos que dirigia o veículo bateu em dois carros na Rua Olegário Mariano e fugiu. Segundo informações da Polícia Militar, testemunhas afirmaram que ele dirigia em alta velocidade e de modo descontrolado no local. Para desviar do Porsche, a motorista de um Honda Fit acabou batendo em um poste. Ela teve escoriações, foi levada ao hospital e, por sorte, liberada.
Na tarde de 3 de outubro, um engavetamento envolvendo quatro veículos, um deles um Camaro, feriu cinco pessoas e matou o motorista de uma van que pegou fogo. Ele teve 90% do corpo queimado. O carro de luxo, dirigido pelo estudante Felipe de Lorena Infante Arenzon, esteve envolvido em pelo menos outros três acidentes. Perda total, virou um monte de ferro retorcido. O estudante saiu pela porta da frente do 72º Distrito Policial, após sua família efetuar o pagamento da fiança no valor de R$ 245 mil estabelecida pelo Departamento de Inquéritos Policiais.
Em julho deste ano, um Porsche dirigido pelo empresário Marcelo Alves de Lima se chocou com violência absurda com um Hyundai Tucson na rua Tabapuã, próximo à esquina com a rua Bandeira Paulista. Os dois carros foram parar em um poste, um em cima do outro. A motorista do Tucson, Carolina Menezes Cintra Santos, advogada de 28 anos, morreu na hora da colisão. O motorista do Porsche, um empresário de 36 anos, que estava a 150 km/h, ficou ferido e foi levado para o Hospital. Ele também pagou fiança alta – R$ 300 mil – e está solto pelas ruas. Será mesmo que R$ 300 mil foram suficientes?
A violência do trânsito atinge também que não está ao volante. Em mais um caso dramático, a estudante Bruna Baltresca e sua mãe, Miriam, foram atropeladas e morreram em frente ao shopping Villa-Lobos, no mês passado. Elas saíam do estabelecimento por volta das onze da noite e caminhavam calmamente até o carro delas, estacionado numa rua próxima, quando o veículo em alta velocidade atingiu as duas, que estavam na calçada. O bibliotecário Marcos Alexandre Martins alegou ter perdido o controle de seu Golf. Segundo informações da Polícia Militar, o motorista aparentava estar alcoolizado. O advogado dele nega. O velocímetro do Golf dirigido por Marcos marcava 100 km/h após a batida.
A maioria dos acidentes com mortes têm sido causados por carros de luxo em alta velocidade. Um dos casos mais polêmicos aconteceu em julho deste ano. Um jipe Land Rover blindado atropelou o administrador Vitor Gurman, de 24 anos, na Vila Madalena. O veículo acumulava 26 multas -- dez delas por excesso de velocidade -- registradas entre 23 de dezembro de 2010 e 14 de maio de 2011. O carro era conduzido por Gabriella Guerrero Pereira, mas pertence ao namorado dela, o engenheiro Roberto de Souza Lima, que estava no banco do passageiro e sofreu ferimentos. Laudo de exames clínicos do IML (Instituto Médico Legal) apontou que Gabriella estava alcoolizada no momento do, sim, no momento do crime.
Não há data para essa sequência de crimes terminar. As blitzes em torno da Lei Seca não estão sendo feitas mais com a regularidade dos primeiros dias após a aprovação da leis. Os carros estão cada vez mais potentes e o que se vê por toda a cidade é um show de embriaguez geral em bares e restaurantes, que vai se transferido para a frente dos volantes. Infelizmente, nesta verdeira roleta-russa em que o trânsito de São Paulo se transformou, qualquer um pode ser a próxima vítima.

Kadafi até o último homem



Kadafi até o último homemFoto: REUTERS/Thaier al-Sudani

SEIS SEMANAS APÓS TOMAREM TRÍPOLI, FORÇAS REBELDES FINALMENTE GANHAM POSIÇÕES EM SIRTE, CIDADE NATAL DO DITADOR DA LÍBIA; RESISTÊNCIA IMPRESSIONA; “LIBERAÇÃO DE TODAS AS CIDADES ACONTECERÁ ESTA SEMANA”, AFIRMA CHEFE DO CONSELHO DE TRANSIÇÃO

Por Agência Estado
09 de Outubro de 2011 às 14:34Agência Estado
Forças revolucionárias da Líbia tomaram hoje um centro de convenções que servia como base para os combatentes leais a Muamar Kadafi na cidade natal do líder, avançando sobre Sirte, conforme pressionam os que ainda se encontram no local.
A incapacidade de tomar Sirte, mais importante reduto dos defensores de Kadafi, mais de seis semanas após as forças anti-Kadafi tomarem a capital, atrapalhou os esforços dos novos líderes da Líbia para determinar um cronograma para as eleições e avançar com a transição para a democracia.
Os defensores de Kadafi também detêm o enclave de Bani Walid, onde as forças revolucionárias relataram ter avançado após semanas de ações. Acredita-se que figuras de alto nível do antigo regime estariam em Bani Walid.
A liderança de transição afirmou que vai declarar a liberação após a captura de Sirte, porque isso significará que detém todos os portos do país. O líder de facto da Líbia, Mustafa Abdul-Jalil, chefe do Conselho Nacional de Transição, afirmou hoje que combatentes anti-Kadafi conseguiram enormes avanços em Sirte e em Bani Walid.
"Eu acredito, se Deus quiser, que a liberação dessas cidades acontecerá dentro nesta semana", disse Abdul-Jalil a repórteres em Trípoli. Ele afirmou que as forças revolucionárias em Sirte avançaram pelo centro da cidade em forte combate e que agora estão retirando a resistência.
Em Bani Walid, os combatentes expulsaram as forças de Kadafi do aeroporto, disse Abdullah Kenshil, que liderou negociações pelos revolucionários para que houvesse uma entrega pacífica da cidade. "A tomada de Bani Walid é iminente", disse ele. "Os combatentes estão a apenas um quilômetro do centro de Bani Walid."
Localizada 400 quilômetros a sudeste de Trípoli, Sirte é determinante para a unidade física do país de 6 milhões de pessoas, pois encontra-se no centro da planície costeira onde a maioria dos líbios vive, bloqueando as rotas mais fáceis entre o leste e o oeste.
Hoje, o Centro de Convenções Ouagadougou, complexo que Kadafi usou para reuniões internacionais, estava em ruínas. Durante a tomada, combatentes de Kadafi usaram o local como base. De lá eles puderam dominar a vizinhança e atacar revolucionários que tentavam entrar em Sirte.
No hospital Ibn Sina, centenas de civis feridos lotavam os corredores. Não havia eletricidade nem água, e apenas alguns estudantes de medicina e enfermeiras atendiam os pacientes.
As forças revolucionárias também controlam agora a Universidade de Sirte. Conforme eles avançam, as forças defensoras de Kadafi combatem em um perímetro que encolhe cada vez mais, formado apenas por um complexo de palácios, alguns prédios residenciais e um hotel perto do centro da cidade.

Documentário elucida pontos obscuros da carreira de Raul Seixas


Vinte e dois anos após sua morte, finalmente Raul Seixas, ícone máximo do rock'n'roll brasileiro, está ganhando uma biografia a sua altura. E feita por um peso pesado do cinema nacional, o diretor Walter Carvalho, de "Janela da Alma" e "Cazuza".

"Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio" será exibido pela primeira vez no Festival do Rio, no dia 17. A Folha teve acesso exclusivo ao documentário. O filme cutuca vários vespeiros e elucida pontos obscuros de sua carreira.

"O Raul era um artista que tinha pressa, inquieto, provocador e libertário. A ideia foi filmar o mito do jovem artista que se consome e morre por sua obra", diz Walter.
Divulgação
Cena do documentário "Raul Seixas - O inicio o fim e o meio", de Valter Carvalho
Cena do documentário "Raul Seixas - O inicio o fim e o meio", de Walter Carvalho

Há imagens inéditas e eletrizantes de Raul no palco, como as do festival de Saquarema em 1976, idealizado por Nelson Motta nos moldes de Woodstock.

O filme também realiza a proeza de entrevistar as cinco ex-mulheres e três filhas que Raul deixou, superando um histórico familiar de desavenças.

Outro trunfo é a tentativa de esclarecer a frutífera e conturbada parceria entre Raul e Paulo Coelho, iniciada em 73 e que rendeu clássicos como "Al Capone" ou "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás".

Durante rara entrevista em que aceita falar sobre o ex-parceiro, Coelho entrega: "Era um casamento com tudo menos sexo. Mas era complicado, havia competição".
"Não me arrependo de ter apresentado as drogas a ele. Um cara com aquela idade (25 ou 27) já sabia o que estava fazendo. Maconha, ácido, chá de cogumelo -aquilo fazia parte da minha cultura."

Surpresa: a certa altura uma mosca invade não a sopa, mas a sala de sua casa na Suíça, e tenta pousar no rosto de Paulo, o que o irrita. Ele diz: "Curioso, primeira vez que aparece uma mosca em Genebra. Aqui não tem".
Em outro recorte, fala sobre a Sociedade Alternativa, inspirada no satanismo, que fundou com Raul em 74.
"Foi um período negro. Aquilo era magia radical, fora de qualquer ética", lembra, enquanto são exibidas imagens de rituais com animais de "Contatos Imediatos do Quarto Graal", filme em super-8 feito à época.

Walter Carvalho diz ter reunido mais de 400 horas, entre filmagens e imagens de arquivo. Mais de 90 pessoas foram entrevistadas.
Começando pelos tempos da juventude em Salvador, gênese da sua exuberante mistura entre rock e baião, personagens esquecidos ressuscitam do baú.

Caso de Dalva Borges, que cuidou de Raul nos seus últimos suspiros. Para o filme, reconstitui "in loco" a manhã em que encontrou o músico morto no seu apartamento.
Há mais boas surpresas -como Caetano cantando "Ouro de Tolo". E outra controversa parceria, com Marcelo Nova, é esmiuçada no filme.

Talvez a única lacuna seja a ausência do episódio de Caieiras, em 82, quando Raul foi confundido com um sósia em um show e quase acabou linchado. Mas disso os fãs não podem reclamar: Rita Lee interpreta Raul otimamente, nessa exata situação, no curta "Tanta Estrela por Aí" (1993), de Tadeu Knudsen.

Raul seixas - O início, o fim e o meio
DIREÇÃO Walter Carvalho
PRODUÇÃO Brasil, 2011
QUANDO no dia 17, às 21h15, no Odeon Petrobras

Livro aponta corrupção de Sarney a Lula e ‘justiça’ FH




Livro aponta corrupção de Sarney a Lula e ‘justiça’ FHFoto: Clayton de Souza/AE

ESCRITO PELO CIENTISTA POLÍTICO EDUARDO GRAEFF, SECRETÁRIO-GERAL DA PRESIDÊNCIA NA ERA FERNANDO HENRIQUE, OBRA, EM INGLÊS, ATRIBUI DESVIOS À TRADIÇÃO PATRIMONIALISTA E À CULTURA DE TRANSGRESSÕES. MAS SERÁ QUE HOUVE NO TEXTO UM EXERCÍCIO DE MEMÓRIA SELETIVA?

09 de Outubro de 2011 às 17:18
247 - Dias atrás, um email começou a ser disparado pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso. Era um convite para o download do e-book "Corruption in Brazil - From Sarney to Lula", disponível na Amazon, maior livraria virtual do mundo. Lançado em inglês, ele foi escrito pelo cientista político Eduardo Graeff, que, na era FHC, ocupou a Secretaria Geral da Presidência da República, em substituição a Eduardo Jorge. Escrito com verniz acadêmico, o livro poderia oferecer uma boa contribuição para o debate ético no Brasil, não fosse um vício de origem: o viés partidário, expresso no próprio título do livro. Ou seja: segundo Graeff, a corrupção só fez crescer no Brasil entre Sarney e Lula, tendo tido como único hiato a era FHC. Será que alguém acredita nisso? E será que o ataque sistemático à corrupção, numa espécie de neoudenismo, é mesmo o melhor caminho para o PSDB?
De acordo com o ex-colaborador de FHC, a cultura de transgressões brasileira remonta à tradição patrimonialista ibérica, que faz com que agentes de governo tenham dificuldades em distinguir o público do privado. E nossos governantes, em vez de ocupantes transitórios do poder, seriam "Donos do Poder", como bem argumentou Raymundo Faoro, em sua obra máxima.
José Sarney, primeiro presidente civil desde a ditadura, teria aberto as porteiras da corrupção, após 21 anos de atividade política represada pelo regime militar. E assim teve um governo marcado por escândalos, como o dos "Anões do Orçamento", muito embora Graeff reconheça que Sarney só caiu em desgraça em função do fracasso no combate inflacionário. Sobre Collor, que veio depois, Graeff fala pouco mais do que o óbvio. Depois de incensado como "caçador de marajás" por boa parte da mídia, ele sofreu o impeachment em função das sobras de campanha e do que esquema PC.
Bom, mas quando chega a era FHC, o Brasil se transforma no reino de ética pura e todos os escândalos, como os que atingiram André Lara Resende, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Eduardo Jorge, são injustiças decorrentes da prática do denuncismo. Ainda que eles tenham sido, de fato, inocentados nos processos judiciais que sofreram, terá sido mesmo a era FHC um hiato de honestidade no Brasil?
Apenas para relembrar:
- Ricardo Sergio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, que construiu consórcios na privatização das teles, dizia agir no "limite da irresponsabilidade".
- Benjamin Steunbruch, amigo e empregador de Paulo Henrique Cardoso, filho de FHC, comprou a CSN e a Vale, de onde depois foi expelido, com o apoio ostensivo dos fundos de pensão.
- Partidos como PMDB e PFL, atual DEM, participaram ativamente da administração tucana, dominando setores estratégicos, como Transportes e Minas e Energia, o que alimentou o argumento de que o governo FHC, se não roubava, deixava roubar.
Bom, e quando chega a era Lula, o Brasil se torna o reino da corrupção explícita e escancarada, com exemplos fartos, como o mensalão e de outros escândalos.
Na apresentação, Graeff diz que um dos objetivos do livro é fazer justiça a FHC, que teria sido alvo de um denuncismo irresponsável e politicamente dirigido. No fim, conclui que a sociedade já não aceita mais, passivamente, todas as denúncias que lhe são servidas.
Talvez porque saiba que o discurso anticorrupção no Brasil é hipócrita.