Foto: MARCIO FERNANDES/Agência Estado
NINGUÉM ESTÁ À SALVO; COQUETEL DE ÁLCOOL, FALTA DE FISCALIZAÇÃO E CARROS MAIS POTENTES ELEVA EM 40% REGISTROS DE ACIDENTES COM VÍTIMAS FATAIS ENTRE 2010 E 2011; MAIS DE 400 PESSOAS JÁ MORRERAM ESTE ANO VÍTIMAS DOS LOUCOS AO VOLANTE
Manuela Meneses_247 - Nunca foi tão perigoso, como neste exato momento, circular pelas ruas da maior cidade do País: os assassinos do trânsito estão à solta. Nos seis primeiros meses de 2011, as delegacias da cidade registraram o triste número de 378 boletins de ocorrência de acidentes com morte. No mesmo período de 2010, o número foi de 269. O aumento é de 40%. Segundo dados apresentados pela Secretaria de Segurança Pública, desde 2007 não havia tantos relatos de colisões, atropelamentos, apreensões de motoristas alcoolizados e capotamentos que resultaram em mortes. Os dados não registram a quantidade de mortes em cada um dos acidentes, apenas o número de acidentes com mortes.
Desde o início de outubro – e estamos apenas, neste sábado, no dia 8! - três graves acidentes foram registrados na capital. Os mais graves são causados por excesso de velocidade. Outra parte considerável é provocada por motoristas alcoolizados, como Leonardo dos Santos, de 25 anos, que na noite da sexta 7 atropelou pelo menos seis pessoas na saída do campus da Universidade Uninove, na Zona Oeste. Leonardo foi indiciado por três crimes: dirigir sem habilitação, embriaguez ao volante e tentativa de homicídio doloso (quando há intenção de matar).
Também na manhã de sexta-feira, o motorista de um Porsche Carrera foi conduzido a uma delegacia na zona sul depois de provocar vários acidentes na região do Morumbi. Por volta das 8h30, o engenheiro de 35 anos que dirigia o veículo bateu em dois carros na Rua Olegário Mariano e fugiu. Segundo informações da Polícia Militar, testemunhas afirmaram que ele dirigia em alta velocidade e de modo descontrolado no local. Para desviar do Porsche, a motorista de um Honda Fit acabou batendo em um poste. Ela teve escoriações, foi levada ao hospital e, por sorte, liberada.
Na tarde de 3 de outubro, um engavetamento envolvendo quatro veículos, um deles um Camaro, feriu cinco pessoas e matou o motorista de uma van que pegou fogo. Ele teve 90% do corpo queimado. O carro de luxo, dirigido pelo estudante Felipe de Lorena Infante Arenzon, esteve envolvido em pelo menos outros três acidentes. Perda total, virou um monte de ferro retorcido. O estudante saiu pela porta da frente do 72º Distrito Policial, após sua família efetuar o pagamento da fiança no valor de R$ 245 mil estabelecida pelo Departamento de Inquéritos Policiais.
Em julho deste ano, um Porsche dirigido pelo empresário Marcelo Alves de Lima se chocou com violência absurda com um Hyundai Tucson na rua Tabapuã, próximo à esquina com a rua Bandeira Paulista. Os dois carros foram parar em um poste, um em cima do outro. A motorista do Tucson, Carolina Menezes Cintra Santos, advogada de 28 anos, morreu na hora da colisão. O motorista do Porsche, um empresário de 36 anos, que estava a 150 km/h, ficou ferido e foi levado para o Hospital. Ele também pagou fiança alta – R$ 300 mil – e está solto pelas ruas. Será mesmo que R$ 300 mil foram suficientes?
A violência do trânsito atinge também que não está ao volante. Em mais um caso dramático, a estudante Bruna Baltresca e sua mãe, Miriam, foram atropeladas e morreram em frente ao shopping Villa-Lobos, no mês passado. Elas saíam do estabelecimento por volta das onze da noite e caminhavam calmamente até o carro delas, estacionado numa rua próxima, quando o veículo em alta velocidade atingiu as duas, que estavam na calçada. O bibliotecário Marcos Alexandre Martins alegou ter perdido o controle de seu Golf. Segundo informações da Polícia Militar, o motorista aparentava estar alcoolizado. O advogado dele nega. O velocímetro do Golf dirigido por Marcos marcava 100 km/h após a batida.
A maioria dos acidentes com mortes têm sido causados por carros de luxo em alta velocidade. Um dos casos mais polêmicos aconteceu em julho deste ano. Um jipe Land Rover blindado atropelou o administrador Vitor Gurman, de 24 anos, na Vila Madalena. O veículo acumulava 26 multas -- dez delas por excesso de velocidade -- registradas entre 23 de dezembro de 2010 e 14 de maio de 2011. O carro era conduzido por Gabriella Guerrero Pereira, mas pertence ao namorado dela, o engenheiro Roberto de Souza Lima, que estava no banco do passageiro e sofreu ferimentos. Laudo de exames clínicos do IML (Instituto Médico Legal) apontou que Gabriella estava alcoolizada no momento do, sim, no momento do crime.
Não há data para essa sequência de crimes terminar. As blitzes em torno da Lei Seca não estão sendo feitas mais com a regularidade dos primeiros dias após a aprovação da leis. Os carros estão cada vez mais potentes e o que se vê por toda a cidade é um show de embriaguez geral em bares e restaurantes, que vai se transferido para a frente dos volantes. Infelizmente, nesta verdeira roleta-russa em que o trânsito de São Paulo se transformou, qualquer um pode ser a próxima vítima.
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