A FOTO CHOCANTE DO ROSTO DE UM EX-CAMINHONEIRO É TESTEMUNHA CONCRETA DOS DANOS CUTÂNEOS CAUSADOS PELA PROLONGADA EXPOSIÇÃO AOS RAIOS ULTRAVIOLETA
25 de Junho de 2012 às 09:25
Foto: Northwestern University, Chicago, IL
O lado esquerdo (à direita na foto) do rosto desse ex-motorista de caminhão mostra o envelhecimento precoce da pele devido à prolongada exposição ao sol, sem o uso de qualquer proteção.
De um lado, o rosto demonstra os 69 anos desse homem, do outro lado ele parece ser vinte anos mais velho. No entanto, o que você vê na foto são as duas faces (sem nenhum retoque de photoshop) da mesma pessoa: um homem que durante 28 anos guiou caminhões, expondo apenas a metade do rosto aos raios solares que atravessavam o vidro do seu veículo.
Confronto implacável
A foto faz parte de um artigo recentemente publicado na revista médico-científica norte-americana New England Journal of Medicine. O caso desse paciente, que apresentou um gradua e assintomático espessamento da pela do lado esquerdo do seu rosto, junto a um progressivo aumento das rugas, foi considerado emblemático por dois pesquisadores da Northwestern University de Chicago. Eles decidiram divulgar a sua foto para difundir uma prova concreta do envelhecimento precoce da pele causado pelos raios ultravioletas.
O paciente sofre de “dermatoheliosis unilateral” (dos termos gregos derma, pele, e hélios, sol). A moléstia é também chamada de foto-envelhecimento, a degeneração em grau elevado da pele, com consequente perda da elasticidade dos tecidos causada pela excessiva exposição (voluntária ou involuntária) aos raios solares. Nesse caso em particular, os responsáveis seriam os raios ultravioleta que, passando através do vidro da janela do veículo, penetraram na epiderme do motorista até atingirem as camadas superiores do derma. Menos energéticos do que os raios solares UVB, que são em grande parte filtrados pela ozonosfera, os UVA estão associados a mutações do DNA e a toxidades responsáveis pelo aparecimento de alguns tumores cutâneos , como o melanoma. Infelizmente, cerca de 99% dos raios solares que chegam à superfície terrestre são formados de UVA, que penetram profundamente na pele.
Cremes protetores para todos
Ao paciente em questão foram prescritos controles regulares para a prevenção do câncer de pele, retinoides tópicos (fármacos que regulam o crescimento das células do epitélio, usados no tratamento de alguns tumores cutâneos) e o uso regular de protetores cutâneos de alto poder. Estamos ainda na metade do inverno, mas no Brasil, país tropical, com alta incidência de luz solar, convém precaver-se de forma permanente, usando a proteção mais adequada para cada tipo de pele. Se o risco do melanoma nos parece remoto, examine novamente a foto do motorista. Ela pode servir de alerta.
O SISTEMA DE FRANQUIAS É UMA ÓTIMA ALTERNATIVA PARA QUEM DESEJA EMPREENDER, MINIMIZANDO OS RISCOS DE UMA EMPRESA RECÉM CRIADA NO MERCADO. MAS RESSALTO QUE NÃO É GARANTIA DE SUCESSO
O aquecimento da economia brasileira obviamente traz consigo benefícios que extrapolam os resultados sociais. Muitos brasileiros e até mesmo estrangeiros enxergam em nosso país oportunidades ímpares de negócios, que na maioria das vezes são sonhos de empreender, abandonando a pecha de empregado.
Alguns se arriscam de forma solitária no mundo dos negócios, enfrentando as adversidades e colaboram com a geração de empregos e renda. Outros preferem empreender com o apoio de parceiros, como apoiando-se nas possibilidades do sistema de franquias no Brasil.
Com 2.031 redes franqueadoras e 93.098 unidades franqueadas, segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising), o setor de franquias brasileiro é sinônimo de sucesso, tendo evoluído de forma vertiginosa nos últimos anos atrelado à expansão da economia nacional, preenchendo principalmente nas cidades oportunidades que faltavam a alguns empreendedores e aproximando serviços e produtos ainda distantes da maioria da população.
Tradicionalmente alinhado as empresas de cosméticos, alimentação, cursos de idiomas e informática, as franquias tinham em seu geral um investimento a partir de R$ 50 mil, o que impedia para muitos a realização do sonho de se tornar empresário com uma marca conhecida nacionalmente como grande parceira de negócio.
Pensando na expansão do mercado e nas necessidades locais de se reduzir os investimentos para democratizar suas marcas, redes tradicionais de franquias criaram conceitos de microfranquias.
O conceito de microfranquia nasce com investimentos a partir de R$ 5 mil, e beira em alguns casos até R$ 30 mil. Portanto, são franquias de baixo investimento, ligadas a prestação de serviço (não predominantemente, existindo diversas redes de comércio) em que, o franqueado, ou seja, o empresário, assumirá a gestão do negócio de forma mais direta, extrapolando as meras funções de gestão.
Outra primordial característica é a possibilidade de se trabalhar em casa, no sistema chamado home based. Ressalto que trabalhar em casa não significa dizer informal. Todas as regras tributárias e de legislação aplicadas às empresas, também se aplicam nas microfranquias.
Dentro desta áurea solução de empreender, é necessário que o investidor não seja pego de surpresa durante a operação no negócio, e esta prevenção se inicia já no momento da escolha da franquia.
Há armadilhas e perigos, mesmo no sistema de franquias, onde se pode ter a falsa impressão de que todo negócio terá retorno positivo sobre o valor investido, único e exclusivamente por ser uma loja/empresa franqueada. Não há certeza de sucesso em nenhum empreendimento.
Existem diversas lojas franqueadas que não deram certo por diversos fatores, desde falta de experiência do franqueado na operação do negócio até inoperância e ausência de apoio do franqueador (que é o dono da marca/know-how de toda a rede).
É extremamente importante visitar e/ou conversar com os microfranqueados da rede a se escolher, observando como é a relação do franqueado e franqueador. Observar como é a disponibilidade do franqueador para relacionar-se com os franqueados, se as solicitações são prontamente atendidas ou se há um verdadeiro descaso.
Pondere ainda a relação entre faturamento médio da microfranquia e os royalties pagos mensalmente para o franqueador, não se comprometendo com uma despesa que prejudicará o retorno do investimento.
Este encontro com os atuais microfranqueados transcende a simples conversa que teve como pauta se a relação entre os pares é boa. Precisa-se pontuar como foram os primeiros meses de operação, ponderar os riscos, as lições e as conquistas obtidas pelo micro franqueado que já opera uma loja da mesma bandeira escolhida por você.
A questão da exclusividade territorial é outro assunto a ser lembrado no momento da tomada de decisão. Alguns franqueadores podem vender mais de uma unidade na mesma localidade. Isso pode trazer prejuízos à operação. Portanto, verifique se a região possui demanda suficiente para quando tal fato ocorrer não gere consideráveis prejuízos e como o franqueador se comporta frente a isso.
Um dos maiores erros cometidos por microempreededores é o chamado erro de cálculo do valor a se investir. Empolgado com as novas oportunidades que possam surgir, o novo empresário capta apenas o volume de recursos para o investimento inicial (taxa de franquia, equipamentos, marketing) e se esquecem de reservar parte do capital para um giro de caixa. Este capital é fundamental para saldar as primeiras operações, uma vez que o negócio demanda tempo para começar a retornar o investimento realizado.
É fundamental ao novo empresário reservar capital para arcar com suas contas pessoais até que a empresa comece a caminhar e seu pro labore possa ser retirado.
Outro cálculo muitas vezes esquecido quando se busca uma microfranquia é a mensuração dos custos de deslocamento para o treinamento inicial de pré abertura, que dependendo do total do investimento e da localização da sede da empresa franqueadora, atingirá até 10 ou 15% do total investido.
Lembro que estamos trabalhando com investimentos tetos de R$ 30 mil, ou seja, uma despesa com passagens, hospedagem, alimentação e etc podem facilmente atingir a quantia de R$ 3mil, e atingir o comprometido de 10% do total a ser investido.
O sistema de franquias é uma ótima alternativa para quem deseja empreender, minimizando os riscos de uma empresa recém criada no mercado. Ressalto que não é garantia de sucesso, e o trabalho neste caso específico das microfranquias dominará grande parte do cotidiano do novo empresário. A conta do investimento vai além das taxas e licenças de franquia. Em sua maioria das vezes, a empresa contará com poucos empregados, e muita força de trabalho do proprietário.
DEZENAS DE EMPRESAS AÉREAS BRASILEIRAS FALIRAM E O ESTADO NÃO MOSTRA O MENOR ÍMPETO DE COMBATER ESSE VERDADEIRO SUICÍDIO QUE ACONTECE, INVARIAVELMENTE, NESTE MERCADO
Dezenas de empresas aéreas brasileiras faliram e o Estado não mostra o menor ímpeto de combater esse verdadeiro suicídio que acontece, invariavelmente, no setor.
Com efeito, temos cerca de 60 aeroportos, ao passo que os Estados Unidos contam com mais de 1.000 e a Europa supera 3.000, com nítidas diferenças, pois voam durante o inverno, com temperaturas baixas e constantes neves.
No Brasil, ao contrário, uma neblina forte é motivo de fechamento dos aeroportos e adiamento de voos, e mais uma vez se instaura o caos aéreo.
Ficou comprovado que nenhuma empresa aérea brasileira sobrevive sem turbulências depois de sua primeira década de funcionamento, os fatores são os mais variados, desde a irracionalidade da rede, o tamanho do Brasil, a falta de infraestrutura, o peso da burocracia.
Uma nação que pretende estar entre aquelas do primeiro mundo necessita, inadiavelmente, de um setor aéreo pujante.
Não temos sequer uma empresa aérea brasileira, exclusivamente, que realize voos para o exterior e, hoje, o contingente de brasileiros rumo ao estrangeiro é enorme.
Constantes déficits operacionais são marcantes, e mesmo que se projete um custo menor, nada disso se incorpora ao setor, e o atravancamento da malha aérea conta também com a ausência total de infraestrutura na ligação do transporte multimodal.
Enquanto no exterior, feito o desembarque, logo se pega um trem ou qualquer outro meio rápido de transporte, aqui precisamos dos ônibus ou de reduzido número de táxis.
A dúvida cresce ainda mais em tempo de realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos.
Ao invés de estádios de futebol, deveríamos priorizar aeroportos de Primeiro Mundo, com boas instalações, deslocamentos de cargas e bagagens, e oferecer aos consumidores locais e internacionais um transporte de segurança, com equipamentos e serviços de terra compatíveis.
No entanto, o que vemos são taxas aeroportuárias elevadas, custos incompatíveis, frequentes atrasos ou cancelamentos.
A própria operação na América do Sul é dificultosa, tanto que uma aérea já decidiu que não mais voará com destino ao Chile.
Recentemente, a Tap disse que não ficaria mais em Viracopos, ao passo que a Pluna também teria tomado a mesma decisão, pela falta de dutyfree, o que incomoda o turista pela falta de opção de mercadorias estrangeiras.
E, apesar da noticiada privatização feita pelo governo, a passo de cágado, os problemas são incontáveis, daí porque a grande maioria das empresas aéreas nacionais não consegue ter fôlego ou capacidade econômico-financeira para superar os impasses gerados pela falta de visão e amplitude num setor chave da economia.
A construção de mais aeroportos é fundamental, com número de pistas correspondentes aos transportes de passageiros e de carga, um País que pretende dar saltos de qualidade não pode impor restrições e continuar se movimentando pelas estradas, por caminhões e ônibus, exclusivamente, consumindo petróleo e derivados, com grave afetação ao meio ambiente.
Na era da tecnologia, e com a força da Embraer nesse contexto, o Brasil perde terreno e não reage ao desafio internacional de ter uma companhia aérea independente, que possa usufruir das comodidades de infraestrutura e, seguramente, contar com slots nos principais aeroportos do exterior. Ficamos na dependência da boa vontade das parcerias e alianças.
Ninguém dúvida que o setor aéreo patina, várias empresas americanas foram à concordata, a japonesa também atravessa fase de recuperação, a italiana fora absorvida por um consórcio, participando o Estado, igualmente a vizinha Argentina.
Esse retrato de crise que abala as grandes empresas aéreas, ao contrário, deve ser um incremento para que o Governo brasileiro e seus empresários pensem na consolidação de uma marca nacional para rasgar o espaço aéreo internacional e, dessa forma, termos uma companhia exclusivamente destinada aos demais continentes, pois, dessa maneira, adquiriremos experiência e faremos a diferença.
Carlos Henrique Abrão é desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo
Direita e esquerda continuam presentes no cenário político e ideológico, em todo o mundo. Prova disso é o golpe dado pela direita contra a esquerda no Paraguai. Em resumo, foi isso que aconteceu: dentro da lei e da formalidade jurídica, a direita paraguaia, que domina o Congresso, derrotou a esquerda paraguaia, que havia elegido o presidente da República. Em termos mais amplos, a direita sul-americana infligiu uma derrota à esquerda do continente. Agora, nas políticas internas e externas da América do Sul, a luta continua entre direita e esquerda.
A direita e a esquerda se subdividem em diversas correntes, algumas mais extremadas, outras mais moderadas, há uma centro-direita como há uma centro-esquerda, e muitas vezes a direita assume políticas de esquerda e vice-versa. Mas isso não acaba com a essência da divisão política e ideológica cujas denominações remontam à Revolução Francesa.
Direita e esquerda vêm travando batalhas de ideias e de armas ao longo dos anos. Disputam eleições, dão golpes de estado, fazem revoluções, recorrem a ações armadas, digladiam-se em guerras civis. Quando um lado ganha o poder, por eleições ou não, o outro cuida de derrotá-lo o mais rapidamente possível. E usa todas as armas, as literais, as políticas e as econômicas, de que dispõe. Há 52 anos os Estados Unidos e aliados internos fazem de tudo para derrubar o governo de Cuba e restaurar o poder da direita. Há 48 anos as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia lutam contra a direita que governa a Colômbia.
A direita leva uma boa vantagem nesta luta, em países governados por ela ou pela esquerda – em seus diversos matizes, com exceção de Cuba, onde houve uma revolução que hoje não se repetiria. A direita tem o poder econômico, praticamente detém o monopólio da imprensa, consegue ser maioria nos parlamentos graças às práticas clientelistas e à força do dinheiro e da mídia nos processos eleitorais, consegue, pelas ideias conservadoras, ter forte influência entre militares e religiosos. E ainda tem o apoio dos Estados Unidos e dos governos de direita da Europa.
Mesmo com todo esse aparato, ao qual se soma a presença histórica nos tribunais, e com a máquina pública trabalhando por ela, a direita vem perdendo eleições e assim presidentes de esquerda ganham alguns governos. A questão é que ganham o governo, mas não o poder, que continua nas mãos dos que têm o capital e controlam a economia, a imprensa e instituições consolidadas no domínio da direita. Daí, ou a esquerda aceita moderar seus projetos e reduzir as contradições com o poder verdadeiro, o econômico, ou radicaliza o processo, o que só é viável com forte apoio popular e de pelo menos alguns segmentos das forças armadas.
A direita convive com a esquerda no governo enquanto não sente seus interesses ameaçados de fato ou não tem condições objetivas e subjetivas de derrotá-la. Tentou derrubar Hugo Chávez, da Venezuela, com um golpe militar apoiado pelos estadunidenses, mas não conseguiu, pois havia militares e forças populares apoiando o presidente. Teve sucesso ao derrubar Manuel Zelaya, em Honduras, e Fernando Lugo, no Paraguai, com golpes baseados na institucionalidade criada por ela própria e não desmontada, legalmente, pelos dois ex-presidentes. Tenta derrubar Evo Morales, da Bolívia, com a mesma tática com que derrubou Salvador Allende, do Chile, em 1973. Teria derrubado Lula, em 2005, se o presidente brasileiro não tivesse forte apoio popular e poder de reação. Preservou-o para derrotá-lo eleitoralmente em 2006, mas não deu certo.
Assim funciona a política, não a superficial do dia a dia parlamentar, mas a que busca o poder. Direita e esquerda não acabaram, ao contrário do que dizem ingênuos, desinformados e pretensos pensadores pretensamente modernos. Basta ver quem apoia o golpe no Paraguai: donos de terras (inclusive grileiros brasileiros), empresários do agronegócio, banqueiros, a Igreja Católica, políticos e militares conservadores, muitos deles colaboradores ativos do general Alfredo Stroessner. Com o cada vez mais claro respaldo da embaixada estadunidense e da agência local da CIA. Basta também ver quem apoia, no Brasil, o golpe no Paraguai: a direita raivosa e a moderada que, se pudessem, fariam a mesma coisa aqui, mesmo não tendo muito a reclamar.
O golpe "constitucional e legal" no Paraguai, porém, foi tão descarado que até países governados pela direita sul-americana, como Chile e Colômbia, sentem-se obrigados a adotar medidas que demonstrem sua reprovação e condenação. Até que ponto, ainda não se sabe. Os outros sete presidentes de países latinos sul-americanos são de esquerda, mas a esquerda tem diversos matizes e cada um desses países tem uma realidade interna diferente. Também não se sabe ainda até que ponto vão na reação ao golpe paraguaio.
Causou perplexidade a forma como o presidente Lugo jogou a toalha, acatando seu impeachment, em golpe sumário, de forma até surpreendente pela falta de reação mais contundente. Chegou a sair com um sorriso do Palácio, coisa estranha para quem acabara de levar um golpe.
Ele poderia ter feito um escândalo na imprensa internacional, como fez Zelaya em Honduras, mas ficou voltado só para o embate interno no Paraguai. Poderia não ter enviado advogado para fazer sua defesa ao Senado para não legitimar o julgamento de impeachment. Poderia ter convocado de própria voz o povo nas ruas. Não fez nada disso.
Seria radicalismo cristão, ao oferecer a outra face após ser "esbofeteado" (de forma figurada) por dezenas de senadores e deputados?
Não. Ouvindo suas palavras no dia seguinte, nota-se que ele tem uma estratégia política.
É preciso entender a realidade do Paraguai, para tentar compreender os movimentos do presidente deposto.
Lugo foi eleito com uma coligação ampla, para vencer o partido colorado, das oligarquias, que estava no poder há décadas.
Ele, como o "bispo dos pobres", militante pela inclusão social. Do outro lado, o Parlamento eleito, inclusive com seus ex-aliados, era todo conservador e ele não conseguia governabilidade para fazer reformas populares. Mesmo na presidência, e com "vontade política", não conseguia fazer um governo verdadeiramente progressista. E ainda por cima, toda vez que não mandava baixar o porrete em movimentos sociais, era ameaçado de impeachment, até que aconteceu.
É improvável que Lugo tenha provocado seu próprio impeachment, mas a partir de certo ponto ele parece ter resolvido fazer do limão, a limonada. Em vez de passar 5 anos como um leão sem dentes na presidência, e passar a faixa devendo promessas que não teria como cumprir, preferiu expor seus adversários como seus algozes, e jogar o ônus de um governo travado pelo Congresso, a quem de direito.
Lugo foi derrubado da presidência aceitando o "processo legal", logo ninguém pode prendê-lo, nem persegui-lo. Por isso, ele já é o líder da oposição em campanha eleitoral que ocorrerá daqui a 10 meses. Em vez de ser vidraça por fazer um governo travado, voltou a ser estilingue contra o partido colorado (e seus ex-aliados, de seu vice, que viraram a casaca para o lado da oposição)
Parece que Lugo não pode ser candidato a presidente nas próximas eleições (talvez possa, há controvérsias), mas no sábado disse pensar em ser candidato ao senado. No Paraguai o voto é em lista. Lugo puxando a lista elegerá uma grande bancada, e seu partido ainda terá grande chance de fazer o presidente, afinal o mesmo discurso de mudança que o elegeu em 2008, continua atual, já que ele foi impedido. E os atuais adversários ainda irão para o pleito com a pecha de golpistas pendurada no pescoço.
Se não der errado, a coligação de esquerda de Lugo recupera a presidência em 2013 e com uma nova correlação de forças no parlamento muito mais favorável.
O Brasil é o país mais importante para o Paraguai, por suas relações econômicas e fronteiriças. O grande desafio do governo Dilma é rebater a jurisprudência do golpe de estado "constitucional" criado, e deixar claro que golpes não podem ser recompensados. Mais um precedente, além do que houve em Honduras, não é nada bom para américa latina. Mas também é preciso calibrar a dose ministrada de sanções, para não causar retrocesso maior no Paraguai. O vice já será um governo fraco, e se cair no caos, poderá emergir algo como um golpe pior de algum aventureiro, nos moldes dos golpes dentro do golpe do século passado, patrocinado por países imperialistas, para melar eleições livres.
Ao que tudo indica, o grande desafio no Paraguai para as forças políticas progressistas e solidárias latino-americanas será fortalecer o projeto oposicionista de Lugo e enfraquecer o governo golpista de Frederico Franco, até as próximas eleições (ou até alguma reviravolta que antecipe o processo).
Em tempo: há quem reclame outro caminho, como o da rebelião popular, mas é preciso entender que não existe mobilização suficiente para isso lá, como foi visto desde sexta-feira. O que parece haver é o desejo de mudança da maioria pobre e da classe média progressista, mas silenciosa, que se manifesta nas urnas. Portanto o caminho pacífico da política escolhido por Lugo ainda é o melhor remédio, por enquanto.
Anderson Silva perde a calma com o rival Chael Sonnen e detona: "ele é um marginal, escória e vagabundo" Anderson Silva aguentou o quanto pôde, mas se cansou de ouvir calado as provocações do norte-americano Chael Sonnen, adversário na luta que é considerada por muitos uma das maiores revanches da história, que terá lugar no UFC 148, valendo o cinturão dos médios, em Las Vegas, no próximo dia 7 de julho.
Em uma coletiva por telefone com a imprensa de diversos países e participação dos dois oponentes, ontem, o Spider perdeu a cabeça e avisou que, além de vencer, vai castigar o adversário, "quebrá-lo por inteiro", segundo suas próprias palavras.
Anderson faz preparação para o UFC 148, dia 7 de julho, com treinos na praia FOTO: AG. AZIMUTE
"Ele é um marginal, vagabundo, uma escória do esporte. Desta vez ele vai precisar fazer uma plástica", disparou.
"Não tem conversinha dessa vez. Quando entrar lá dentro vai engolir todos os dentes da boca dele. Vou arrancar dente por dente. Depois que eu bater nele muita gente vai ficar assustada com o que vai acontecer com o esporte. Estou dedicado, preparado para fazer uma coisa que ninguém nunca fez no UFC, quebrar Chael Sonnen inteiro. Perna quebrada, cara quebrada, vou quebrá-lo inteiro. Ele está escutando, vai apanhar muito, vai sair de maca lá de dentro", disse Anderson, em uma reação inesperada, já que o campeão sempre aguentou as provocações do rival sem revidar.
Primeira luta
Desde antes da primeira luta entre os dois, em agosto de 2010, o brasileiro ouve declarações provocativas do adversário. Na ocasião, Sonnen foi superior durante cinco rounds, mas acabou finalizado pelo brasileiro nos minutos finais do combate.
Após a luta, Chael foi flagrado no exame antidoping, apresentando níveis de testosterona acima do normal. Como punição, Sonnen chegou a ser multado e suspenso por um ano.
Após a derrota, o americano passou a demonstrar ainda mais raiva nas oportunidades em que falava de Anderson. Foi sarcástico e desrespeitoso em mais de uma vez ao falar do Brasil e da infância pobre do desafeto.
O desafiante chegou a colocar um cinturão falso de campeão dos médios em diversas ocasiões nos Estados Unidos, numa provocação à distância ao verdadeiro campeão.
Anderson, por sua vez, manteve a compostura durante todo esse tempo. O lutador apenas afirmava que seu rival deveria focar mais nos treinos e menos no falatório. O paulista afirmou que Sonnen não mereceria uma revanche com ele e demorou para fechar a luta.
Reação inesperada
O falastrão Sonnen, normalmente agressivo e debochado, surpreendeu e foi comedido não respondendo aos insultos e ameaças. Apenas aproveitou para cutucar o campeão: "Eu o tratei como um amador na primeira vez, e ele vai parecer um amador desta vez. Eu não faço personagens, não sei o que isso significa. Eu quero machucá-lo. Ele quer me machucar", encerrou.
Até o presidente do UFC ficou impressionado com a reação do Spider. "Em sete anos no UFC, eu nunca tinha ouvido o Anderson falar desse jeito antes", afirmou em sua conta no Twitter.
Para os fãs do MMA, certamente, as provocações de Anderson só aumentaram a expectativa para uma das lutas mais esperadas da história do UFC.
BRASÍLIA - Na semana que antecedeu a prisão por conta da Operação Monte Carlo, pessoas ligadas à quadrilha de Carlinhos Cachoeira recorreram a amigos na Polícia Federal e até acessaram o sistema interno da PF para tentar saber se estava mesmo em preparação uma ação contra elas. Em conversas gravadas com autorização judicial, o advogado Leonardo Gagno fala da varredura que estava fazendo e avisa que tentará falar com o juiz do caso e também com o juiz Leão Aparecido Alves.
O diálogo ocorreu em 6 de fevereiro, às 16h12m. A prisão de Cachoeira e de pessoas ligadas a ele se deu em 29 de fevereiro.
— A gente revirou o cartório inteiro, revirou o sistema da Polícia Federal inteiro, a gente conseguiu acesso, e nada. Estamos aguardando para falar com o juiz. A gente acabou de ver o Leão entrar aqui no Fórum. Mais tarde eu vou bater um bapo com ele também — diz Gagno em conversa com Francisco Marcelo Queiroga, irmão de José Olímpio Queiroga, braço-direito de Cachoeira.
— Não conseguiu nada ainda? — insiste Francisco Marcelo.
— Nada. Nada. Toda a pesquisa que a gente fez não tem registro nenhum. Revirei toda a vida de vocês pelo sistema da Polícia Federal e apareceu tudo e não apareceu nada aqui em Goiânia — procura tranquilizar o advogado
— E agora? — pergunta Francisco Marcelo.
— Vou dar a última cartada. Vou falar com o juiz. Tô na fila para falar com ele que está fazendo uma audiência.
Em outra conversa, dois dias depois, o mesmo advogado diz que estava saindo da PF. Tinha pedido a emissão de uma certidão que atestasse não haver investigação em curso contra o grupo de Cachoeira.
— Oi, Marcelo. Saí da Federal agora. Nosso pedido já está com o corregedor despachando. Amanhã a certidão deve estar pronta. Olímpio me falou que o advogado do Carlinhos Cachoeira falou com o juiz, pediu uma certidão e ele deu na hora, falando que não existe nenhum processo contra Cachoeira e se existisse teria registro e seria informado a ele — informa o advogado.
E complementa, referindo-se, provavelmente, ao juiz Paulo Moreira Lima, da 11 Vara Federal em Goiânia:
— O cara não ia botar o rabo dele na reta dessa forma, botar isso no papel e botou no papel. Então acho que a nossa tese sobre o assunto é ela mesmo que aconteceu.
Mas Francisco Marcelo declara que o irmão não iria acreditar que não haveria problemas. Mas o advogado insiste:
— Falei com ele pelo rádio e ele já está começando a acreditar nessa hipótese. Estava mais calmo quando deu notícia da certidão do Carlinhos. Acho que morre aí mesmo. Não vai ter nada, não.
No dia 10 de maio, sem as certidões que atestariam que o grupo não estava sendo investigado, os dois voltam a se falar e, mais uma vez, o advogado procura acalmar o cliente. Ele revela que tem um contato na Polícia Federal.
— Ontem a gente até fez uma reunião com um policial federal que é nosso amigo aqui. Ele estava explicando que também pode estar acontecendo a investigação. Ele falou que os delegados têm feito toda investigação por meio de Termos de Averiguação. Depois que está tudo pronto, investigado, aí eles montam o inquérito policial, rápido.(...) E sem ninguém da área ficar sabendo. Entendeu? Porque eles já vão montando a Operação solicitando gente de fora. Então eu penso que com as investigações que a gente fez, a gente tem 50% de cada hipótese — diz Gagno.
O advogado ressalva que, apesar de acreditar que não há nada na PF, Olímpio Queiroga poderia estar sob investigação.
O MPF (Ministério Público Federal) ofereceu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) denúncia contra cinco conselheiros, três servidores e dois conselheiros aposentados do TCE-AP (Tribunal de Contas do Amapá), acusados de desviarem mais de R$ 100 milhões do tribunal, entre os anos de 2001 a 2010. O esquema foi descoberto em 2010, pela Operação Mãos Limpas, da Polícia Federal. Entre as infrações incluem-se formação de quadrilha, peculato e ordenação de despesas não previstas em lei.
A "orgia orçamentária", como se refere ao caso o subprocurador-geral da República Eitel Santiago de Brito Pereira, responsável pela denúncia, causou prejuízos tão profundos que, após a deflagração da Operação Mãos Limpas, quando os saques foram suspensos, a economia nas contas do tribunal permitiu ao TCE-AP quitar uma antiga dívida com o Instituto de Previdência do Estado.Segundo investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, o esquema funcionava da seguinte forma: os envolvidos descontavam cheques da conta do tribunal, sempre em espécie, na "boca do caixa", geralmente em agência diferente daquela em que o TCE-AP possui conta corrente. Para justificar os saques no orçamento, servidores da área financeira os computavam como "outras despesas variáveis". A prática de saques em espécie na conta da instituição não possui nenhum embasamento legal, pois não é permitida pela Lei de Finanças Públicas. Em um só dia, um dos conselheiros aposentados denunciado chegou a sacar R$ 100 mil, a título de "ajuda de custo".
Esquema de corrupção
A divisão de tarefas na quadrilha de desvio de recursos públicos era bem definida: a maior parte dos recursos desviados ficava com o comandante do esquema e os servidores da área financeira. Os conselheiros beneficiados se omitiam de fiscalizar ou questionar as contas do próprio órgão, e por isso recebiam em troca altas somas.
O esquema foi montado pelo conselheiro José Júlio de Miranda Coelho, quando ele ocupou a presidência do Tribunal do Amapá. De todo o montante desviado, existe a comprovação de que Miranda Coelho realizou, pessoalmente, saques em espécie, na conta da instituição, no valor de R$ 7,5 milhões. Nenhum dos saques possui qualquer justificativa, pois não se referem ao pagamento de pessoal e também não serviram para o custeio do tribunal. Além dos saques realizados, o conselheiro recebeu entre fevereiro e julho de 2001 uma "ajuda de custo" no valor de R$ 258 mil.
O valor do patrimônio registrado em nome de Miranda Coelho ultrapassa os R$ 10 milhões e para o MPF é uma das provas de enriquecimento ilícito. O conselheiro recebia, em agosto de 2010, subsídio de R$ 18.185,11. Com base nessa quantia, calcula-se que, desde dezembro de 1998, ele recebeu cerca de R$ 3,2 milhões em valores atualizados. No entanto, somente em carros, embarcações e aviões, as posses de Miranda Coelho ultrapassam os R$ 10 milhões, sem contar os mais de 50 imóveis registrados em seu nome, no da esposa, dos filhos e no dos laranjas utilizados pelo conselheiro. Na busca e apreensão realizada na casa de Miranda Coelho, por determinação do STJ, durante o inquérito, foi encontrada uma folha de cheque em branco do TCE-AP, assinada pelo conselheiro.
Transplante e celulite
Dinheiro público também foi utilizado para custear o transplante de rim de um dos conselheiros aposentados denunciados pelo MPF. Ele utilizou recursos do erário para custear o transplante, a passagem e a hospedagem da doadora do órgão, além dos honorários advocatícios. O conselheiro ainda pediu o ressarcimento das passagens aéreas da doadora, que foi autorizado pelo diretor de finanças do tribunal.
Outra conselheira aposentada denunciada custeou todo o tratamento de saúde com valores do Tribunal de Contas do Amapá, apesar de possuir plano de assistência médica particular. As despesas abrangem até mesmo tratamentos estéticos, como o de combate à celulite, além de medicamentos para esse tipo de tratamento. Consta nos autos o registro de que, em setembro de 2009, a conselheira aposentada realizou três sessões de "Accent", equipamento utilizado no combate à celulite, sendo que cada sessão custa em média R$ 500. A conselheira pediu ainda o ressarcimento junto ao plano de saúde particular, no valor de R$ 48 mil pelo tratamento de saúde e também pediu ressarcimento junto ao TCE-AP, recebendo os valores dos dois lugares. Entre 2006 e 2010, essa mesma conselheira aposentada recebeu reembolso que ultrapassou R$ 800 mil.
Todas essas restituições, inclusive para tratamento contra celulite, foram autorizadas pelo então presidente do Tribunal de Contas, José Júlio Miranda Coelho, e pelo então diretor da área orçamentária e financeira.
O esquema incluiu também um membro do Ministério Público estadual, que oficiava perante o TCE-AP e recebeu entre 2003 e 2005, R$ 39 mil, destinados a "reestruturação de gabinete". A quantia também foi descontada em espécie, na boca do caixa. Há registro ainda de pagamentos a servidores fantasmas, não integrantes do quadro do tribunal.
Pressa na instrução
O Ministério Público Federal recomenda pressa na instrução criminal, caso a denúncia seja aceita pelo STJ. Os conselheiros deverão ser interrogados no STJ, mas o MPF requer que a realização dos demais atos de instrução sejam realizados por um juiz federal da seção judiciária do Amapá.
Além disso, o MPF também solicita uma nova decretação de afastamento de José Júlio de Miranda Coelho, pelo prazo de 360 dias, além do afastamento dos conselheiros da ativa e dos servidores denunciados. Miranda Coelho e os outros conselheiros na ativa foram afastados pelo STJ preventivamente em abril de 2012.
Em uma entrevista especial concedida à Carta Maior e aos jornais Página/12, da Argentina, e La Jornada, do México, o presidente do Equador, Rafael Correa analisa o que considera ser um dos principais problemas do mundo hoje: o poder das grandes corporações de mídia que agem como um verdadeiro partido político contra governos que não rezam pela sua cartilha. “Essa é a luta, não há luta maior. Estamos diante de uma guerra não convencional, mas guerra, de conspiração, desestabilização e desgaste”.
Carta Maior, La Jornada e Página/12
Rio de Janeiro - Representante de uma nova geração de líderes políticos da esquerda latinoamericana, o presidente do Equador, Rafael Correa, foi lançado para a linha de frente do cenário político mundial com o pedido de asilo político feito, em Londres, pelo fundador do Wikileaks, Julian Assange. Há poucas semanas, Assange entrevistou Correa e os dois conversaram, entre coisas, sobre um tema de interesse de ambos: as operações de manipulação conduzidas pelas grandes corporações midiáticas. Agora, durante sua passagem pela Rio+20, Rafael Correa voltou com força ao tema.
Em uma entrevista especial concedida à Carta Maior e aos jornais Página/12, da Argentina, e La Jornada, do México, Correa analisa este que considera ser um dos principais problemas do mundo hoje: o poder das grandes corporações de mídia que, na América Latina, agem como um verdadeiro partido político contra governos que não rezam pela cartilha dos interesses desses grupos. “Essa é a luta, não há luta maior. Estamos diante de uma guerra não convencional, mas guerra, de conspiração, desestabilização e desgaste”.
Na entrevista, Correa fala sobre o pedido de asilo de Assange, relata o debate sobre uma nova lei de comunicações no Equador e faz um balanço pessimista sobre os resultados da Rio+20.
Há um argumento segundo o qual a liberdade de imprensa é propriedade dos meios de comunicação empresariais. Imagino que essa não seja a sua opinião.
Correa: Não nos enganemos. Desde que se inventou a impressora a liberdade de imprensa, entre aspas, responde à vontade, ao capricho e à má fé do dono da impressora. Devemos lutar para inaugurar a verdadeira liberdade de imprensa que é parte de um conceito maior e um direito de todos os cidadãos, que é a liberdade de expressão, que defendemos radicalmente. No entanto, o poder midiático que faz negócios com o objetivo de ter lucro, até isso quer privatizar. Então, se eles têm tanta vocação para comunicar, como dizem, que o façam sem finalidades lucrativas, porque para mim isso é uma contradição.
Este é um grande problema na América Latina e também em nível planetário. Tenho tomado conhecimento que existem posições semelhantes às nossas, mas houve um tempo em que nos sentíamos muito sozinhos, quando fomos vítimas de um ataque tremendo por não abaixar a cabeça diante de um negócio muitas vezes corrupto e encoberto sob a capa da liberdade de expressão. Essa é a luta, não há luta maior.
Presidente, nestes dias foram divulgados telegramas pelo Wikileaks onde apareceram jornalistas equatorianos que eram considerados informantes pela embaixada dos Estados Unidos. Isso confirma as hipóteses levantadas quando o senhor foi vítima de um golpe de Estado.
Correa: As mentiras deles sempre acabam sendo derrubadas. Entidades que financiam esses empórios midiáticos, certas organizações que, em nome da sociedade civil, nos denunciam ante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a SIP, em todos os lados. Agora vemos que esses senhores são identificados via Wikileaks como informantes da embaixada (estadunidense). Wikileaks que nunca é publicado pela maioria da imprensa comercial. Não é só isso. Essa gente é financiada pela USAID, que vocês conhecem. A USAID financiou com 4,5 milhões de dólares a estes supostos defensores da liberdade de expressão, supostamente para fortalecer a democracia e a ação cívica. Na verdade, para fortalecer a oposição aos governos progressistas da América Latina. Os povos da região tem que reagir contra esse tipo de prática.
Independentemente da solicitação do senhor Assange – ele solicitou asilo político -, ele disse que quer vir para o Equador para seguir cumprindo sua missão em defesa da liberdade de expressão sem limites, porque o Equador é um território de paz comprometido com a justiça e a verdade. Isso que o senhor Assange disse é mais próximo da realidade do Equador do que as porcarias que o poder midiático publica todos os dias.
Sabemos que o senhor ainda não tomou uma decisão sobre a situação que está atravessando alguém que revelou informações secretas sobre conspirações dos Estados Unidos e está pagando com a prisão por ter trabalhado pela liberdade de imprensa.
Correa: Se, no Equador, alguém tivesse passado a centésima parte do que passou Assange, nós seríamos chamados de ditadores e repressores, mas como o que Assange divulgou afeta as grandes potências e isso evidencia uma moral dupla e como os Estados nos tratam por meio de suas embaixadas, então é preciso aplicar todo o peso da lei contra Assange. E o chamam de violador.
Eu não quero antecipar minha decisão. Recebemos o pedido de asilo, analisaremos as causas desse pedido e tomaremos uma decisão quando for pertinente. Ele está em nossa em nossa embaixada em Londres sob a proteção do Estado equatoriano.
É claro que há aqui uma dupla moral, uma para os poderosos e outra para os débeis, uma para os que querem manter o status quo e para sua imprensa, e outra para os governos que querem mudar esse status quo e para a imprensa alternativa. Todos os dias há julgamentos em países desenvolvidos contra jornais. Neste caso não há problema, porque isso é civilização, mas, processar em nosso país um jornal ou um jornalista é qualificado como barbárie. E não é verdade que nós criminalizamos a opinião, pois em nosso país todos os dias publicam tudo, todos os dias publicam que há falta de liberdade de expressão. Qualquer um pode dizer que o governo é bom ou mau, que é competente ou incompetente. Mas o que não pode se dizer em um meio de comunicação é que o presidente, ou qualquer cidadão, é um criminoso de lesa humanidade e que ele disparou sem aviso prévio contra um hospital, porque isso é calúnia, isso é delito em qualquer país.
O caso Assange pode dar origem a uma tensão diplomática entre Equador e Grã-Bretanha?
Correa: Isso é a última coisa que queremos, mas nós não vamos pedir permissão a nenhum país para tomar decisões soberanas. O Equador não tem mais alma de colônia nem alma de vassalo. Se dar asilo, refúgio ou residência a fugitivos da justiça provocasse deterioração, a relação da América Latina com os Estados Unidos estaria deterioradíssima. Porque, provavelmente, Argentina, Brasil, México e outros países não devem estar de acordo que qualquer fugitivo viole a justiça. Esse não é o caso do senhor Assange, mas sim de corruptos como os banqueiros que quebraram o Equador em 99 e fugiram para os Estados Unidos, onde gozam hoje de uma vida bastante cômoda.
Vocês têm um Murdoch no Equador?
Correa: No Equador, temos seis famílias que representam heranças familiares, não é propriedade democrática, um capitalismo popular onde há 10 mil acionistas em um empório. Os meios de comunicação no Equador são manejados por meia dúzia de famílias, que decidem o que os equatorianos devem saber e conhecer. Vocês se dão conta da vulnerabilidade que temos como sociedade? A informação depende dos interesses e dos caprichos de meia dúzia de famílias. Mas se um governo soberano e digno não as chama para consultar sobre o nome dos ministros ou sobre a indicação de embaixadores, como ocorria antes, vão com tudo para cima desse governo porque ele não se submete aos seus caprichos. É um problema mundial, mas em outros países é atenuado com participação, profissionalismo muito profundo, uma ética muito forte, tudo o que brilha por sua ausência aqui no Equador.
Presidente, um funcionário da Usaid acaba de dizer que eles estão ajudando as oposições a estes governos.
Correa: Franqueza anglo-saxã.
Impunidade?
Correa: Impunidade e arrogância.
Essa ideia nos fala de um tempo da informação como arma de guerra e a América Latina sofre uma verdadeira invasão dessas fundações como a USAID, a NED, o IRI. Isso não torna muito perigosa a nossa situação? A presença das ONGs destas fundações não é perigosa para o Equador?
Correa: Oxalá consigamos despertar os povos latino-americanos para essa situação. As direitas, os grupos de poder, sabem que nas urnas não conseguirão nos derrotar. Daí as campanhas contínuas de desgastes, de propaganda, de difamação, de enfraquecimento e desestabilização. Nós vivemos isso desde os primeiros dias de governo. Desde o primeiro dia de governo. O mesmo ocorre na Venezuela, na Bolívia, na Argentina e em todos os governos progressistas da região. Sofremos as campanhas desses meios que são a vanguarda do capitalismo, do status quo dos partidos tradicionais de direita que se afundaram por seus próprios erros, para difamar, para distorcer a verdade com a cumplicidade de veículos da mídia internacional.
Essa é a contradição de que fala Ignacio Ramonet. Na Europa hoje há desemprego, estagnação, resgate de milionários, resgate de bancos e não de cidadãos, e os jornais dizem que isso é necessário, que é sério, técnico e correto. Que as pessoas morram de fome, precisamos salvar o capital! Enquanto isso, em países como o Equador, que é um dos que mais crescem na América Latina, que reduziu a pobreza, gerou mais emprego, tem a taxa de desemprego mais baixa da região e da história, todos os dias nos dizem que isso é populismo e demagogia, que é preciso mudar de governo.
Estamos ante uma campanha propagandística para defender os poderes fáticos que sempre dominaram nossos países. A direita perdeu as eleições nos Estados Unidos e agora chegam essas organizações para financiar esses grupos na América Latina. Estamos diante de uma guerra não convencional, mas guerra, de conspiração, desestabilização e desgaste.
Por isso pergunto sobre o tema da informação como arma de guerra, como a arma letal antes do primeiro disparo.
Correa: Estou convencido disso. Alguns ainda imaginam a imprensa, sobretudo na América Latina, como o quarto poder nascente, que floresceu quando chegaram as democracias, quando ocorreram avanços técnicos e se multiplicaram as publicações, quando se avançou na alfabetização e as grandes massas passaram a poder ler. Esse poder impediria que o poder político, o poder do Estado, ultrapasse certos limites. Assim chegou a desinformação. Lembremos, por exemplo, do affair Dreyfus na França, quando por racismo e xenofobia se acusou um capitão judeu, como denunciou Emile Zola em seu famoso editorial “Eu acuso”. Essa imprensa limitava os excessos do poder político, mas esse vigoroso e ingênuo cachorrinho, bem intencionado, que lutava pelos interesses dos cidadãos, converteu-se de repente em um mastim feroz, com um poder ilimitado, raivoso, que não só tenta encurralar o Estado como também os próprios cidadãos.
O poder midiático na América Latina, como ocorre no Equador, é frequentemente superior ao poder político. Precisamos tirar certos estereótipos de cena ou do ambiente de certa burocracia internacional como alma de ONG, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos que fala de pobrezinhos jornalistas e de malvados políticos. Isso não é certo. Os políticos são, muitas vezes, patrióticos. A antipatia que certos jornalistas alimentam, desfiando seus ódios e amarguras, acaba fazendo com que se metam inclusive em questões pessoais, com a família, etc.
Então, vejamos a realidade. Trata-se de tabus e nos ensinaram a ter medo de criticar esses negócios, como se, criticando-os, estivéssemos criticando a liberdade de expressão. Esses são os negócios da má imprensa.
Presidente, viremos a página e passemos à crise
Correa – É que esse tema (da mídia) me apaixona. É um tema acadêmico que me apaixona, ao qual dedicarei meu tempo quando sair da presidência. Pretendo me dedicar a ele, investigar e escrever porque se trata de um problema gravíssimo, porque estamos nas mãos de um poder midiático que superou inclusive o poder financeiro e político, e domina o mundo.
Você resumiu ontem em uma palavra o documento final da Rio+20, classificando-o como “lírico”...
Correa – É assim. Não há compromisso concreto. Podem verificar. Onde há um compromisso em cifras, por exemplo, com o limite de emissões de gases, compensações, acordos, acordos vinculantes como seria uma declaração de direitos da natureza em um tribunal internacional do meio ambiente, como propôs o Equador. Não há nada disso. Fala-se de cuidar melhor do planeta, mas não há um compromisso concreto. O avanço é muito pequeno.
A que atribui a ausência dos Estados Unidos e da Alemanha? Elas podem ter contribuído para essa falta de compromissos concretos?
Correa – Vai mais além. O problema não é técnico. Todo mundo sabe qual é o problema, todo o mundo sabe quais são as respostas. O problema é político. Quem gera os bens ambientais e quem consome esses bens ambientais? Se os países ricos ou os países em desenvolvimento podem consumir gratuitamente um bem que outros geram por que é que vão se comprometer a compensar e cuidar. Não farão isso a não ser que esteja em perigo evidente sua própria existência ou seus próprios interesses.
Então, o problema é político, é a relação de poder. Imagine que a situação fosse a inversa, que a Floresta Amazônica, por exemplo, estivesse nos Estados Unidos e que eles fossem geradores de bens ambientais e que nós dos países em desenvolvimento fôssemos os consumidores. Já teriam nos invadido em nome dos direitos humanos, da justiça, da liberdade, etc., para exigir compensações. Então, esse é um problema de poder. Enquanto não mudarem as relações de poder, muito pouco se irá avançar.
Considera então que o saldo provisório da Rio+20 é um fracasso?
Correa – Sim. Não se conseguiu avançar quase nada. Não há compromisso concreto, nada concreto. Nem sequer dinheiro. Houve uma reunião do G-20 no México e a maioria, 80% dos que estavam lá, regressaram para suas casas. Não vieram para a Rio+20. Não interessa. Apenas alguns poucos vieram para a Cúpula, sobretudo latino-americanos.
Houve também a Cúpula dos Povos, um encontro muito interessante.
Correa – Quisemos participar, mas não foi possível, estava muito longe. Infelizmente foi um problema de logística. Mas vamos ter um evento de direitos da natureza, paralelo à Cúpula, nos mesmos locais da Cúpula, para o qual convidamos 400 dirigentes de organizações sociais alternativas, progressistas de esquerda que buscam a justiça de nossa América e do mundo inteiro. O presidente Evo Morales também participará dessa conferência.
Eu queria perguntar-lhe sobre o que representam estas alianças como a do Pacífico (Colômbia, Chile, Peru e México) e o anúncio feito pelo presidente Felipe Calderón do Transpacífico, que é algo novo. Isso pode ser visto como uma ameaça à integração e à unidade da América Latina?
Correa – Bom, o maior problema em essência sobre o tema do cuidado com o meio ambiente e que também está na base da crise da Europa e dos Estados Unidos é que tudo foi mercantilizado. Eles não querem ver isso porque afeta os interesses dominantes. O mercado é uma realidade econômica que não podemos negar, mas o grande desafio da humanidade é que a sociedade deve conseguir dominar o mercado. O que temos hoje é o mercado dominando a sociedade e as pessoas, mercantilizando tudo. Como o mercado só se interessa pelo que é mercadoria, pelo que tem preços explícitos, não administra adequadamente bens públicos como o meio ambiente. Por isso pode consumir irresponsavelmente bens ambientais, bens públicos globais, depredar a natureza, etc., porque não têm preços explícitos, porque não são mercadoria.
Então, quanto mais se ampliar essa lógica do mercado, mais esses problemas se agravarão e os perigos serão ainda maiores para a conservação do planeta. Eu diria que nós somos muito críticos destes tratados de livre comércio, somos muito críticos da mercantilização da vida e da humanidade em geral. Esse é um dos grandes desafios que enfrentamos. Insisto, o mercado é um fenômeno econômico irrefutável, mas o grande desafio é fazer com que as sociedades dominem o mercado e não o contrário.
Senhor presidente, que medidas os países da América Latina deveriam tomar para não perder o rumo da histórica na direção de uma integração regional soberana e progressista. Como vê os avanços no Mercosul, na Unasul e na Comunidade Andina de Nações (CAN)?
Correa – Avançou-se como nunca antes. Isso não quer dizer que estejamos bem. Teremos que avançar muito mais rápido. Creio que há uma vocação concreta e uma posição integracionista sincera, não uma integração mercantilista como havia antes. O Mercosul nasceu na noite neoliberal dos anos 90. A CAN nasceu a todo vapor e depois diminuiu. A integração mercantilista não quer fazer grandes sociedades de nações, mas sim grandes mercados, não fazer cidadãos de nossa América, mas sim consumidores. A concepção da Unasul é diferente. Nós temos uma concepção integral, onde uma parte é comercial, que sempre é importante, mas não é o mais importante, e as outras partes tem a ver com conectividade, nova arquitetura financeira regional, harmonização de políticas, políticas de defesa. Oxalá consigamos avançar também em políticas trabalhistas para que nunca mais caiamos na América Latina na armadilha de competir para atrair investimentos, deteriorando e precarizando as forças de trabalho. Ao invés de atrair capitais na base do suor e das lágrimas de nossos trabalhadores, pensamos em outro mundo. Como disse, creio que avançamos, mas precisamos ir muito mais rápido.
O senhor tocou de passagem o tema do Conselho de Defesa Sulamericano, que está objetivamente estancado, e seu país sofreu um ataque estrangeiro em 2008. Na sua avaliação, com a chegada do presidente Santos na Colômbia, a hipótese de tensões entre Colômbia e Equador está completamente dissipada?
Correa - As relações bilaterais entre Equador e Colômbia gozam de um extraordinário momento. Há uma grande coordenação com o governo do presidente Santos. A Colômbia sempre foi o vizinho com o qual tivemos a melhor relação em nossa história. Infelizmente, essa história, séculos de irmandade, foi rompida pela traição de um presidente como Uribe. Mas, graças a deus, com o governo do presidente Santos isso foi superado e creio que ele também tem uma vocação integracionista muito profunda e apoia – de fato, tem apoiado – a proposta do Conselho de Defesa.
O Conselho de Defesa teve seus primeiros estremecimentos com o anúncio da radicação de tropas dos Estados Unidos na Colômbia. Essa possível radicação de tropas norte-americanas na Colômbia está definitivamente abortada?
Correa – Não tenho maiores conhecimentos a respeito desse assunto. Até onde sei há uma estreita colaboração norteamericana com o pretexto da luta antidrogas e oxalá que a ajuda se concentre aí. Mas temos que fazer um esforço de bastante ingenuidade para nos convencermos disso porque muitas vezes se fazem outras coisas com essas supostas ajudas, sobretudo com governos que não sigam a linha de Washington.
A pergunta anterior está associada a outras situações graves como a remilitarização com novas bases no Panamá e outros três centros operacionais do comando Sul , uma base nova no Chile e nas Malvinas o grande problema é a base britânica ali instalada. Toda esta expansão dos Estados Unidos não é ameaçadora para a região?
Correa - Nós queremos nos convencer que com Barack Obama, que acreditamos ser uma boa pessoa, a política internacional dos EUA mudou, mas as evidências nos mostram que não é assim, que tudo continua lamentavelmente igual, sobretudo no que diz respeito à América Latina, cujos governos comprometidos com justiça, dignidade e soberania passaram a ser vistos como uma ameaça para seus interesses. Devemos estar muito atentos a essa presença das forças armadas norte-americanas em nossa América e a esse processo de rearmamentismo que está ocorrendo nesta época tão difícil e complexa.