terça-feira, 26 de junho de 2012

A velha luta continua



DIREITA E ESQUERDA EXISTEM, AO CONTRÁRIO DO QUE PENSAM INGÊNUOS, DESINFORMADOS E PRETENSOS PENSADORES PRETENSAMENTE MODERNOS

26 de Junho de 2012 às 23:12

Hélio Doyle

Direita e esquerda continuam presentes no cenário político e ideológico, em todo o mundo. Prova disso é o golpe dado pela direita contra a esquerda no Paraguai. Em resumo, foi isso que aconteceu: dentro da lei e da formalidade jurídica, a direita paraguaia, que domina o Congresso, derrotou a esquerda paraguaia, que havia elegido o presidente da República. Em termos mais amplos, a direita sul-americana infligiu uma derrota à esquerda do continente. Agora, nas políticas internas e externas da América do Sul, a luta continua entre direita e esquerda.
A direita e a esquerda se subdividem em diversas correntes, algumas mais extremadas, outras mais moderadas, há uma centro-direita como há uma centro-esquerda, e muitas vezes a direita assume políticas de esquerda e vice-versa. Mas isso não acaba com a essência da divisão política e ideológica cujas denominações remontam à Revolução Francesa.
Direita e esquerda vêm travando batalhas de ideias e de armas ao longo dos anos. Disputam eleições, dão golpes de estado, fazem revoluções, recorrem a ações armadas, digladiam-se em guerras civis. Quando um lado ganha o poder, por eleições ou não, o outro cuida de derrotá-lo o mais rapidamente possível. E usa todas as armas, as literais, as políticas e as econômicas, de que dispõe. Há 52 anos os Estados Unidos e aliados internos fazem de tudo para derrubar o governo de Cuba e restaurar o poder da direita. Há 48 anos as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia lutam contra a direita que governa a Colômbia.
A direita leva uma boa vantagem nesta luta, em países governados por ela ou pela esquerda – em seus diversos matizes, com exceção de Cuba, onde houve uma revolução que hoje não se repetiria. A direita tem o poder econômico, praticamente detém o monopólio da imprensa, consegue ser maioria nos parlamentos graças às práticas clientelistas e à força do dinheiro e da mídia nos processos eleitorais, consegue, pelas ideias conservadoras, ter forte influência entre militares e religiosos. E ainda tem o apoio dos Estados Unidos e dos governos de direita da Europa.
Mesmo com todo esse aparato, ao qual se soma a presença histórica nos tribunais, e com a máquina pública trabalhando por ela, a direita vem perdendo eleições e assim presidentes de esquerda ganham alguns governos. A questão é que ganham o governo, mas não o poder, que continua nas mãos dos que têm o capital e controlam a economia, a imprensa e instituições consolidadas no domínio da direita. Daí, ou a esquerda aceita moderar seus projetos e reduzir as contradições com o poder verdadeiro, o econômico, ou radicaliza o processo, o que só é viável com forte apoio popular e de pelo menos alguns segmentos das forças armadas.
A direita convive com a esquerda no governo enquanto não sente seus interesses ameaçados de fato ou não tem condições objetivas e subjetivas de derrotá-la. Tentou derrubar Hugo Chávez, da Venezuela, com um golpe militar apoiado pelos estadunidenses, mas não conseguiu, pois havia militares e forças populares apoiando o presidente. Teve sucesso ao derrubar Manuel Zelaya, em Honduras, e Fernando Lugo, no Paraguai, com golpes baseados na institucionalidade criada por ela própria e não desmontada, legalmente, pelos dois ex-presidentes. Tenta derrubar Evo Morales, da Bolívia, com a mesma tática com que derrubou Salvador Allende, do Chile, em 1973. Teria derrubado Lula, em 2005, se o presidente brasileiro não tivesse forte apoio popular e poder de reação. Preservou-o para derrotá-lo eleitoralmente em 2006, mas não deu certo.
Assim funciona a política, não a superficial do dia a dia parlamentar, mas a que busca o poder. Direita e esquerda não acabaram, ao contrário do que dizem ingênuos, desinformados e pretensos pensadores pretensamente modernos. Basta ver quem apoia o golpe no Paraguai: donos de terras (inclusive grileiros brasileiros), empresários do agronegócio, banqueiros, a Igreja Católica, políticos e militares conservadores, muitos deles colaboradores ativos do general Alfredo Stroessner. Com o cada vez mais claro respaldo da embaixada estadunidense e da agência local da CIA. Basta também ver quem apoia, no Brasil, o golpe no Paraguai: a direita raivosa e a moderada que, se pudessem, fariam a mesma coisa aqui, mesmo não tendo muito a reclamar.
O golpe "constitucional e legal" no Paraguai, porém, foi tão descarado que até países governados pela direita sul-americana, como Chile e Colômbia, sentem-se obrigados a adotar medidas que demonstrem sua reprovação e condenação. Até que ponto, ainda não se sabe. Os outros sete presidentes de países latinos sul-americanos são de esquerda, mas a esquerda tem diversos matizes e cada um desses países tem uma realidade interna diferente. Também não se sabe ainda até que ponto vão na reação ao golpe paraguaio.
E a velha luta continua.

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