sexta-feira, 13 de maio de 2011

Bin Laden já foi. Gaddafi é o próximo

sexta-feira, 13 de maio de 2011






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Bin Laden já foi. Gaddafi é o próximo

 Pepe Escobar, Asia Times Online


Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu





Comecemos com a invocação de um ícone cultural do ocidente, Dante: “Abandonai toda a esperança, vós que entrais” – porque a legislação internacional que conhecemos até aqui foi morta com uma estaca no coração.





O “novo” darwinismo sociopolítico implica neocolonialismo humanitário, assassinatos seletivos – que são execuções extrajudiciais – e guerras combatidas por aviões-robôs comandados a distância, os drones, guerreadas em nome de uma “carga que pesa sobre o homem branco” [1] recauchutada.





No torvelinho de mentiras e hipocrisia que envolveu o assassinato de Osama bin Laden, a questão que ainda tem alguma relação com a justiça é como um homem desarmado, codinome “Geronimo”, foi capturado vivo e imediatamente executado à vista de uma de suas filhas – depois de invasão rápida como raio, a território de país teoricamente “soberano”.





Quanto à guerra pantanosa que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) guerreia contra a Líbia, fato é que a opinião pública ocidental engoliu a ‘explicação’ segundo a qual um ataque militar contra país soberano aconteceu sem qualquer violação da Carta das Nações Unidas. Pode-se falar de lobo (o neocolonialismo) em pele de cordeiro (uma “guerra humanitária”).



No coração dessa questão estão os próprios conceitos de lei internacional – aceita por todas as nações “civilizadas” – e do que seja uma guerra justa. Mas para as elites ocidentais, não passam de detalhes: houve debate de alto nível sobre as implicações de a ONU legitimar uma guerra da OTAN, cujo objetivo último – e jamais declarado – é a mudança de regime.





Darwinismo à Tomahawks



A imunda operação no norte da África mostra-se ainda mais imunda, se se sabe que a guerra da Líbia foi conceito construído para atender duvidosos interesses da França; que a Arábia Saudita entregou aos EUA um voto falso, como se fosse voto da Liga Árabe, porque queria livrar-se de Muammar Gaddafi e, simultaneamente, ficar liberada para esmagar as manifestações pró-democracia no Bahrain; que a Líbia ofereceu ao AFRICOM do Pentágono a possibilidade perfeitamente viável de construir uma base militar africana; que um punhado de “rebeldes” sem eira nem beira seqüestraram os legítimos protestos dos líbios e tentam um golpe de estado, unidos a desertores do governo de Gaddafi; jihadis ligados à al-Qaeda; e exilados como o informante da CIA general Khalifa Hifter, que viveu os últimos vinte anos nos EUA, em Virginia.





A coisa fica ainda mais imunda, se se sabe que, dia 19 de março, as elites financeiras de Washington/London/Paris autorizaram o Banco Central de Benghazi a comandar sua própria – a mando do ocidente – política monetária, oposta à política financeira estatal e completamente independente do banco central nacional líbio em Trípoli. Gaddafi trabalhava para livrar-se do dólar e do euro e para fazer do dinar-ouro uma moeda comum africana – e já reunira em torno de seu projeto muitos governos africanos.





A guerra contra a Líbia foi vendida globalmente sob o slogan “R2P” (ing. Responsibility to Protect, “Responsabilidade de Proteger”) – “novo” conceito do imperialismo humanitário que foi brandido à fartura em Washington pelas três chefes-de-torcida/rainhas amazonas: a secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton, a embaixadora dos EUA à ONU Susan Rice e Samantha Power, conselheira do presidente Obama.





Grande parte do mundo emergente – a verdadeira “comunidade internacional”, não aquela ficção que aparece nas páginas da mídia-empresa ocidental – viu aquela guerra como o que é: o enterro do conceito de soberania nacional, e o “reenquadramento” espertíssimo do texto original do art. 2, sec. 1 da Carta da ONU, que define o princípio da igualdade de todos os Estados soberanos.





Viram que os “decisores” que “decidiram” sobre a Responsabilidade de Proteger eram exclusivamente Washington e um punhado de capitais europeias. Viram que a Líbia está sendo bombardeada pela OTAN – que não bombardeia nem o Bahrain, nem o Iêmen nem a Síria. Viram que os “decisores” nem tentaram negociar um cessar-fogo dentro da Líbia, ignorando os planos propostos pela Turquia e pela União Africana.





Atores poderosos como Moscou e Pequim, claro, também viram que o princípio da “Responsabilidade de Proteger” poderia ser invocado no caso de agitação no Tibete e em Xinjiang – e que o passo seguinte seria a OTAN invadir território chinês. O mesmo no que tenha a ver com a Chechênia, com o fator extra de hipocrisia de que os chechenos têm sido há anos armados pela OTAN através das redes ligadas à al-Qaeda no Cáucaso/Ásia Central.





E a América Latina também entra na lista dos possíveis “salvos” por intervenção “humanitária” da OTAN, na Venezuela e na Bolívia.





Eis afinal o novo significado de “lei internacional”: Washington – com o AFRICOM ou a OTAN – intervém onde bem entenda, com ou sem resolução específica do Conselho de Segurança da ONU, em nome do princípio “R2P”; e todo mundo fecha os olhos para os danos colaterais, para os golpes (jamais declarados) e para as legiões de refugiados que atravessam o Mediterrâneo e que ninguém vê ou considera.





Quanto ao fato de por que Gaddafi é atacado, enquanto os al-Khalifas no Bahrain, Saleh no Iêmen e Bashar al-Assad na Síria se safam, é simples: você não é ditador do mal, se é um dos “nossos” filhos da puta, quer dizer, se joga pelo “nosso” manual. O destino dos “independentes” como Gaddafi é ser assado e trinchado. E a coisa fica ainda mais fácil, se o ditador acolher uma base militar em seu território, ou, como os al-Khalifas, toda a 5ª Frota dos EUA.





Se os al-Khalifas não fossem lacaios dos EUA e lá não houvesse base militar norte-americana, Washington não teria problema algum numa intervenção militar a favor dos xiitas pacíficos e na maioria favoráveis à democracia que se manifestam contra uma tirania sunita sanguinária que precisa da Casa de Saud para reprimir o próprio povo.





E há os problemas de lei. Imaginem o que seria Gaddafi no banco dos réus. Corte marcial, ou corte civil? Corte canguru – como com Saddam Hussein –, ou garantir-lhe todos os meios “civilizados” de defesa e julgamento? E como comprovar crimes contra a humanidade? Como usar informações obtidas sob tortura, não, desculpem, sob “interragatório superestimulado”? E quanto tempo duraria o julgamento? Anos? Quantas testemunhas? Milhares?





Muito mais fácil resolver tudo com um Tomahawk – ou um balaço na cabeça –, e chamar a coisa de “fez-se justiça”.






À Serra só a vergonha e humilhação.


Dizem que a vingança é um prato que se come frio. Este dito popular melhor não se aplicaria a situação morimbunda do candidato bi-derrotado a presidência da república José Serra. Depois de implodir o PSDB nas eleições municipais passadas, quando tratorou as chances de Alckmin sair vitorioso da disputa que consagrou Kassab prefeito da capital paulista e anteriormente a esse evento ter pessoalmente cuidado de não deixar pedra sobre pedra da adminstração do governador Alckmin a quem sucedeu, indo ao extremo de acabar com todos os projetos do ex-governador, além de promover uma devassa nos contratos que herdou do colega tucano e de fechar os espaços políticos no partido e no governo que esteve à frente aos aliados de Alckmin, tratando-os como se adversários fossem, agora é a vez de Serra sentir na pele o peso da mão poderosa do governador de São Paulo que não faz outra coisa que não seja agir para dá o trôco.

Seguindo a máxima segundo a qual pau que bate em Chico também bate em Francisco, Alckmin fez uma devassa na adminstração Serra, fechou as portas de seu governo para os aliados do ex-governador, deixou que informações comprometedoras da adminstração a que sucedeu vazassem para imprensa e passou o rolo compressor no partido, tanto na capital, quanto no Estado, isolando Zé Serra, não deixando nenhuma outra alternativa que possibilite o ex-governador ressugir na cena pública, a não ser a candidatura a prefeito nas próximas eleições. Um tiro no escuro que pode encerrar definitivamente a carreira política de Serra em termos de pretensões de cargos majoritários no executivo.

Nada disso porém surpreende. É a prova de que fazer política com o fígado, humilhando aliados, passando por cima de adversários, não importando a que preço, reduzindo o debate político aos mais comezinhos princípios que norteiam a busca frenética pelo poder, agindo com deslealdade, tratando aqueles que lhe rodeiam como uma ameça, assumindo atitudes autoritárias, por entender que é o único a ter o monopólio da verdade, só poderia levá-lo ao ostracismo, à rejeição, ao isolamento que o afasta da política partidária e das chances de alcançar o projeto de poder para o qual empenhou uma vida inteira. Assistimos ao réquiem de um político que de tudo fez para que terminasse a carreira política à sombra daqueles que mais desprestigiou, sem voz, nem vez, recolhido a uma condição de pária.

Tudo isso é a demonstração exata de que não devemos levar-nos tão a sério. Um projeto político não depende da vontade pessoal de um única pessoa. Um projeto político é uma junção de forças, de correntes políticas, de um esforço coletivo que delega a alguém a liderança para que o represente. E não pense o senhor Serra que o PSD de Kassab lhe servirá como plano B, de abrigo para ser sua mais expressiva liderança. Não, não pense nisso, porque os que para lá foram o fizeram justamente em razão da desastrosa campanha eleitoral passada que repugnância causou ao povo brasileiro, pelo modo como foram introduzidos nos subterrâneos, os mais caros temas à sociedade, tratados com toda sorte de vilania e preconceitos que foram ofensivos à dignidade humana.