domingo, 29 de maio de 2011

O que fazer com Serra



O que fazer com Serra

O ex-governador de São Paulo tenta conquistar mais espaço no ninho tucano para voltar à evidência no cenário político nacional, mas cria constrangimento entre os cardeais do PSDB

Alan Rodrigues

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BOM-SENSO
Para Aécio Neves, o mais “correto” para Serra seria
disputar a Prefeitura de São Paulo e esquecer a Presidência
 
O ex-governador de São Paulo José Serra se transformou em incômodo para o PSDB. Apesar de ter conseguido mais de 44 milhões de votos nas últimas eleições presidenciais, Serra racha o partido, quer disputar a Presidência a qualquer preço e a nova cúpula tucana não sabe o que fazer com ele. Na última semana, enquanto o governo Dilma vivia sua pior crise no Congresso Nacional – derrotado na votação da Reforma Florestal e com o fantasma de uma CPI para investigar as denúncias de enriquecimento do ministro Antônio Palocci –, o PSDB submergia. O partido não conseguia se distanciar de uma crise interna que se arrasta desde as últimas eleições presidenciais entre os grupos ligados ao senador mineiro Aécio Neves e os apoiadores de José Serra. Batalha que ganhou novos contornos por conta da Convenção Nacional da legenda, que ocorre no sábado 28. Em reuniões, encontros secretos e muita conversa ao pé do ouvido, a ala ligada ao ex-governador de Minas e as forças políticas do Nordeste, capitaneadas pelo presidente do partido, Sérgio Guerra, uniram-se para tentar reduzir o papel dos serristas na direção nacional do partido. “A fila andou”, tem dito pelos corredores de Brasília o deputado federal Nárcio Rodrigues, presidente do PSDB mineiro. “A partir de agora, o partido vai ter de tomar uma posição muito mais assertiva, muito mais firme, apontando os desmandos, os descaminhos e equívocos do governo e, ao mesmo tempo, apresentando à sociedade brasileira as nossas propostas”, disse Aécio Neves na última semana a seus correligionários.

Relegado ao ostracismo depois de sua segunda derrota para o PT na corrida presidencial, Serra vem amargando fracassos sucessivos nos últimos três meses dentro de sua legenda. Foi assim nas eleições para os diretórios municipais e estaduais do PSDB, nas quais o ex-presidenciável sucumbiu ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
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INSISTENTE
Serra não se deu por vencido e luta por espaço para
ter chances de voltar a concorrer com o PT em 2014

Foi assim também quando 53 dos 55 deputados que constituem a bancada federal tucana assinaram o manifesto para reconduzir Sérgio Guerra à presidência do PSDB, indo em direção contrária aos anseios de Serra.

Para a cúpula tucana, Serra tornou-se um problema, já que, mesmo depois das seguidas derrotas, ele ainda não se deu por rendido e mantém o sonho de ocupar a cadeira mais importante do Palácio do Planalto. A intenção é legítima, mas afronta os planos da nova direção partidária que, segundo FHC, precisa imediatamente estabelecer outro discurso, que contemple a nova classe média e inicie em 2012 o desenho das eleições de 2014. “É o momento de unir nossas forças para enfrentar o inimigo comum, que é o PT, e não o nosso próprio partido”, diz, em defesa de Serra, o deputado federal Antônio Imbassay, membro do Diretório Nacional e presidente do PSDB na Bahia.
Disposto a acomodar todas as forças políticas na nova direção partidária, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso trabalhou intensamente na última semana para apartar a briga entre as duas correntes. Assim que chegou dos Estados Unidos, na noite da segunda 23, FHC encontrou-se com Sérgio Guerra para buscar uma solução menos traumática para Serra. Fernando Henrique chamou a atenção de seus aliados para o erro político do partido em ignorar o que ocorre na Casa Civil e fechar-se em copas para resolver a crise interna. Para ele, o momento é de enfraquecer o governo petista. “Ainda não é hora de discutir sucessão presidencial, mesmo porque Aécio tem hoje uma posição de vantagem sobre José Serra”, disse o ex-presidente ao portal IG, na terça-feira 24.

Outro problema vivido dentro do ninho tucano é que mesmo a solução encontrada por FHC de colocar Serra na presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), instância do partido que elabora as discussões centrais e administra um orçamento anual de R$ 11 milhões, não resolve os embates entre as duas correntes. “Serra pode querer montar um partido paralelo dentro do próprio PSDB”, teme uma fonte tucana. “Um partido não pode ter duplo comando”, conclui. Para a cúpula do PSDB ligada ao senador Aécio Neves, que domina 75% da legenda, a única solução pacificadora nesse imbróglio é Serra abrir mão do sonho presidencial e se lançar, no início do próximo ano, como candidato a prefeito de São Paulo. “O ex-governador paulista sabe que a escolha do futuro presidenciável será via prévias. Nesse cenário, Serra será aniquilado”, antecipa uma fonte ligada ao senador mineiro. Serra sabe disso. Na última semana, ele já sinalizou a interlocutores que não descarta a candidatura à Prefeitura de São Paulo. Essa, segundo os aecistas, seria a costura ideal, já que atenderia o governador Alckmin na reeleição e deixaria o caminho livre para o ex-governador mineiro disputar a Presidência. Nas palavras de Aécio, “essa seria a posição mais correta”.



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