quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Trituração de Marta gira máquina da eleição em SP



Trituração de Marta gira máquina da eleição em SPFoto: Felipe L. Gonçalves/Edição/247

COM FERNANDO HADDAD, PT TENDE A FAZER CAMPANHA MAIS DÓCIL AO PREFEITO KASSAB; RETRIBUIÇÃO PODE SER ESCOLHA DE HENRIQUE MEIRELLES PELO PSD; TUCANOS DE GERALDO ALCKMIN TÊM EM JOSÉ ANÍBAL NOME PARA ALIANÇA; RUIM PARA SERRA, BOM PARA LULA

02 de Novembro de 2011 às 18:20
Marco Damiani, 247 – O diálogo frio e curto entre a presidente Dilma Rousseff e a senadora Marta Suplicy, na ala internacional do aeroporto de Congonhas, na noite da segunda-feira 31, selou um destino e fez girar a roda de engrenagens e encaixes que move a sucessão municipal de São Paulo. Um movimento está ligado a outro. Nenhum gesto é independente.
Ao lançar Marta no triturador de candidaturas, a presidente Dilma, sincronizada com o ex Lula, tirou da disputa ninguém menos do que favorita nas pesquisas. Trinta por cento do eleitorado, arredondando, estão, ao menos temporariamente, órfãos. Não há, afinal, a menor garantia de que Marta irá amassar barro na periferia da capital paulista, onde fica a maior parte de seu contingente eleitoral, em favor do ministro da Educação, Fernando Haddad. Sinais dessa pré-indisposição dificilmente serão disfarçados nesta quinta-feira 3, quando a senadora estará diante da imprensa para dizer, com um mínimo de boa vontade, que atenderá ao “apelo” de Dilma e irá retornar, feliz e sem compensações, à atividade parlamentar.
Igualmente é uma incógnita o sentimento com que as bases do PT irão acolher Haddad como seu futuro candidato. Por ordem de Lula, os chefes da legenda engoliram suas preferências e decidiram seguir, cegamente, na direção apontada pelo líder agora acamado. De saída, só quem ganha com Haddad candidato é a presidente Dilma, que se livra de maneira natural e sem traumas de um ministro que a mídia considera ‘bem trapalhão’, em razão de derrapadas como as do Enem neste e nos últimos anos.
Dilma também ganha com a atmosfera bem mais calma que a eleição promete ter sem Marta por perto. A senadora, todos sabem, é mulher de posições e opiniões fortes, que já se controlava, seguindo a política de alianças da presidente, para evitar críticas rasgadas à gestão do prefeito Gilberto Kassab. Com Haddad pelo PT, o discurso de palanque tende a ser bem menos belicoso, centrado em propostas mais técnicas para a administração da cidade do que em estocadas políticas nos pontos fracos de Kassab.
O vácuo deixado pela supressão praticada contra Marta acelera o rodopio das articulações entre o PSD de Kassab e o PSDB do govenador Geraldo Alckmin. Trabalhando com o cenário Haddad, os dois chefes podem examinar com mais otimismo a possibilidade de uma aliança para 2012. E esta aliança pode até contemplar os interesses de Lula e Dilma.
O pré-candidato Henrique Meirelles, que assinou ficha no partido do prefeito só depois de confabular com o ex-presidente Lula, para quem presidiu o Banco Central por oito anos, ganha vantagem no novo cenário. Ao trocar Marta por Haddad, Lula sabe que facilitou a vida de Kassab, que poderá retribuir, em sinal de fidelidade ao seu compromisso de boa convivência com a presidente Dilma. Perde força, por esta ótica, o vice-governador Guilherme Afif, que por muitos é visto como nome de Kassab para fechar com os tucanos. No novo quadro, Meirelles pode se tornar palatável ao PSDB, bastando aceitar, por exemplo, um vice como o deputado José Aníbal, que trabalha para ganhar as prévias dentro de seu partido. Secretário de Alckmin, ele pertence ao grupo que historicamente foi vítima das maquinações do ex-governador José Serra. E só quem quer uma eleição de radicalizações é Serra, isolado em seu discurso de levar os tucanos à crítica mais ácida à administração do PT. A hora do troco de Aníbal sobre Serra pode estar se aproximando. Contra o desejo do ex-governador de tornar a eleição paulistana um acalorado debate sobre o governo Dilma, ante-sala da eleição presidencial de 2014, Aníbal entraria para o grupo de bombeiros que farão uma campanha eleitoral menos agressiva. Um quadro geral que interessa, em muito, para quem é governo hoje: Dilma, Alckmin e Kassab. A eleição de São Paulo se tornaria, assim, uma disputa em que nenhum deles sairia derrotado.

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