Na questão energética, o PSDB demonstrou novamente que cuida dos interesses dos ricos, dos que podem mais, e ratificou sua vocação elitista
O PSDB é o partido político brasileiro que governou o Brasil por quase uma década, nos anos 1990 até o início dos anos 2000. O símbolo do PSDB é o tucano, ave bonita, brasileiríssima, de bico grande e longo, porém, voo curto. Em termos partidários e ideológicos, os adeptos de tal agremiação dominada pelos paulistas e com um apêndice em Minas Gerais têm pensamentos curtos.
Seu líder político, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao que parece, está muito aborrecido, tanto é verdade que no recente encontro dos tucanos ele reclamou e fez críticas duras ao PSDB, às suas lideranças e aos filiados, a exigir que o partido responsável pela implementação do modelo neoliberal na economia “ouvisse às ruas”, que se “aproximasse do povo”, para sentir melhor seus desejos e sonhos. Será que é isso?
Contudo, sabemos que o PSDB é um partido que quando esteve no poder não governou para o povo e muito menos se preocupou, no que diz respeito às questões programáticas, em criar oportunidades para as camadas sociais economicamente mais pobres da população, que são compostas por dezenas de milhões de pessoas, sem esperança de na era tucana melhorar minimamente de vida, por ser o modelo econômico neoliberal excludente.
Um modelo de espoliação e exploração que não permitiu que houvesse condições para que a maioria dos brasileiros tivesse acesso ao emprego e quanto mais ter oportunidade de frequentar, por exemplo, uma universidade pública, viajar de avião ou se tornar um consumidor, que, tal qual à parte conservadora da classe média reacionária e ressentida, coopera também para girar a roda da economia.
Nada disso foi possível, afinal éramos governados pelo PSDB, que tinha ainda ao seu lado o pior partido do mundo — o DEM —, a fina flor do atraso e, indubitavelmente, o verdadeiro herdeiro histórico da escravidão, além de um dos mentores do golpe militar de 1964 quando se vestia com a pele da UDN, e, posteriormente, passou a usar o capuz da Arena, o partido que dava sustentação à ditadura e que acobertava as torturas e mortes em seus porões. E foi com essa gente pertencente à direita política e empresarial que homens oriundos do campo democrático, a exemplo de FHC, misturaram-se, e hoje não passam de um arremedo de seus passados.
Por seu turno, FHC — o Neoliberal — ainda como senador, em sua despedida do Senado, pronunciou discurso em que decretava o fim da era Vargas, porque, de acordo com ele, no mundo moderno não cabia mais o papel do estado intervencionista. A verdade é que o discurso do presidente tucano foi uma senha e um aviso sobre o ele faria em seu governo: diminuir o estado nacional com a venda de dezenas de estatais, algumas históricas e simbólicas do desenvolvimento do Brasil, bem como favorecer grupos econômicos nacionais e estrangeiros, no que é relativo à autorregulação da economia, o que foi comprovadamente um fracasso retumbante do neoliberalismo, como bem demonstrou, inapelavelmente, a crise internacional de 2008, que até hoje perdura e acarreta o sofrimento de diversos povos europeus.
Entretanto, com o tempo, principalmente na América Latina, políticos de centro-esquerda e de esquerda foram sucessivamente eleitos pelos seus povos, que deram fim à continuação do que chamam de políticas neoliberais. E não é necessário explicar o porquê desses acontecimentos. Todavia, percebemos que mesmo assim os porta-vozes desse modelo perverso, que favorece apenas uma classe de privilegiados composta por uma minoria radical, barulhenta e de direita continuam a defender e a pregar o indefensável, o insensato e o que é injusto. Porém, eles possuem as ferramentas e os instrumentos necessários para repercutir suas manipulações, distorções e mentiras, por intermédio da imprensa alienígena, de oposição e, concomitantemente, de negócios privados.
Eis que os tucanos de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Goiás, além de Santa Catarina, cujo governador é do PSD, mas aliado desde sempre do PSDB e do DEM, resolvem transformar a proposta do Governo Federal para baixar os custos e os preços de energia, da luz, em uma luta política e eleitoreira. De forma premeditada e ordenada, os governadores tucanos, nas pessoas de Geraldo Alckmin, Antonio Anastasia , Beto Richa, Marconi Perillo e Raimundo Colombo, a ter como porta-voz midiático o já pré-candidato àPresidência da República, o senador tucano Aécio Neves, resolvem boicotar, juntamente com os jornalistas “especialistas” em economia, a exemplo de Carlos Alberto Sardenberg e Míriam Leitão, a diminuição dos preços das tarifas de um setor estratégico e essencial para o dia a dia da população brasileira e, fundamental, para o fortalecimento e desenvolvimento da indústria e de tudo que deriva dela.
É a luta para baixar o famoso “custo Brasil”, jargão este que durante décadas saiu da boca de gente como o Sardenberg e a Míriam Leitão, que replicavam, na verdade, as queixas do grande empresariado da Fiesp e da Firjan, que hoje apoiam o plano de Dilma Rousseff para baratear a energia. Eis que de repente, não mais do que de repente, a imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) une-se novamente aos políticos do PSDB e mais uma vez se voltam contra uma ação do Governo, que, entre outras coisas, quer reduzir o preço da luz em 20%, o que não será mais possível, porque com o boicote desavergonhado da oposição (PSDB e barões da imprensa) somente será possível reduzir as tarifas de energia em 17%. É mole ou quer mais, caro leitor?
Os arautos da imprensa transformam o ódio liberal em uma guerra que visa, sobremaneira, sabotar as ações do governo que têm por finalidade reduzir em 1,5%, em 2013, a inflação medida pelo IPCA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou que a meta inflacionária de 4,5% ao ano poderá ser cumprida, com a queda do preço da energia. Além disso, salutar se torna lembrar que a política de redução de juros (taxa Selic) continuará a ser efetivada.
Mantega disse esperar que os juros caem para 7% ao ano, em uma busca de torná-los civilizados, e, consequentemente, o Brasil deixar de ser um paraíso para os jogadores do mercado financeiro e para os rentistas, que passaram décadas a se locupletar com os juros altíssimos, os maiores do mundo, com a irrestrita cumplicidade de um sistema midiático privado que trata um País da grandeza econômica e populacional como o é o Brasil como quintal da casa deles. São os barões da imprensa, inquilinos da Casa Grande.
Só que esse tempo passou, e tal qual à “Carolina”, da música de Chico Buarque, em que “o tempo passou na janela e só Carolina não viu”, esses empresários continuam a se conduzir contra os interesses do Brasil e a favor de seu mundo VIP, provinciano, colonizado e alicerçado em preconceito de classe disfarçado nos meios de comunicação e ao tempo que à mostra quando os áulicos do Instituto Millenium abrem suas bocas e defendem um mundo e um País para poucos privilegiados, ou seja, eles mesmos.
São os que se consideram “bem-nascidos”, os rentistas, os acionistas da Cemig (MG), da Cesp (SP), da Copel (PR), da Celesc (SC) que tiveram a adesão da Celg, de Goiás, estado governado pelo também tucano Marconi Perillo, além de terem direito a um discurso do senador Aécio Neves no Senado, que defendeu o indefensável e o injustificável, que é a rejeição a um plano que barateia as tarifas de energia para a população, bem como para os capitães da indústria, que empregam milhares de trabalhadores brasileiros. A mesma imprensa e partidos de direita que passaram anos, cinicamente e hipocritamente, a falar de desindustrialização em jornais de péssima qualidade editorial, como os da Globo News, porque sectários e desonestos intelectualmente e que hoje sabotam um plano para melhorar as condições de vida da sociedade. Eles realmente não são sérios.
O PSDB demonstrou novamente que cuida dos interesses dos ricos, dos que podem mais, e ratificou sua vocação elitista. Agora, a pergunta que não quer calar: “quais serão as explicações ou desculpas dos tucanos sobre as tarifas de energia quando realizarem, em 2014, suas campanhas para os governos dos estados e para a Presidência da República?” Com a resposta os colunistas e os comentaristas que militam na mídia corporativa de fins somente lucrativos. Aqueles mesmos que tecem um monte de asneiras conforme o interesse de momento de seus patrões. Afinal, eles “lutaram” como “mártires” preocupados que estavam com a desindustrialização e o “custo” Brasil. Não é isso mesmo, caro leitor? Seriam cômicas se não fossem trágicas tantas incongruências e contradições.
Fernando Henrique — o Neoliberal — afirmou, zangado: “Não só o PSDB, mas todos os partidos precisam se aproximar mais da população”. E completou: “O PSDB precisa, a partir de agora, escutar o povo, saber o que querem as mulheres, a juventude, os grupos marginalizados, os negros e mulatos. É preciso nos basear muito nos que têm mais energia, nos excluídos. Olhar com muita visão uma nova agenda. Temos de descobrir para onde vai o mundo" — afirmou o ex-presidente logo após lançar Aécio Neves candidato a presidente da República.
Típico discurso que não deixa dúvida o quanto o PSDB é elitista, e o quanto o partido não sabe para onde vai e o quê é o mundo real, porque a maioria de seus integrantes que tem mandato vive em um mundo paralelo, que se reflete e se concretiza nos salões de uma plutocracia que não tem olhos para a maioria da sociedade e assim ratificar a sua vocação elitista e fundamentada na luta pela perpetuação de uma sociedade estratificada e voltada para os interesses das grandes corporações privadas.
Não se engane. FHC pode até falar dessa forma em uma reunião de seu partido. Mas, não pensa dessa maneira. Ele é tucano, e os tucanos abandonaram até seu passado político quando alguns deles enfrentaram a ditadura militar. A opção do "esquecimento" pertence a eles. É o livre arbítrio, que, todavia, tem preço e, portanto, cobrança. E as contas se traduzem nas três derrotas para o PT, sendo que a quarta, de caráter muito simbólico, aconteceu agora em São Paulo, com a vitória de Fernando Haddad.
A grande imprensa privada tem voz? Tem. Tem poder? Tem. Influi como antes? Não. Nem o “mensalão”, que ainda está para se provar, não influenciou nas eleições. O Sardenberg pode falar o que quiser. Ele é homem dos banqueiros. Só isso basta. Portanto, não adianta o FHC falar em povo se o Aécio Neves, os quatro governadores tucanos e um aliado do PSD sabotam a conta da luz. O PSDB acaba de realizar seu segundo apagão. O primeiro ocorreu no período entre julho de 2001 a setembro de 2002. Os tucanos são um caso perdido. É isso aí.
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