Do blog Pelenegra
A vitória da "Vila", a derrota de Martinho
Por Sergio J Dias e Luis CArlos Maximo
Nenhuma escola de samba cantou tanto as lutas do povo brasileiro, quanto a Unidos de Vila Isabel. São da Vila, os enredos campeões - Kizomba, Festa de um Povo e Soy Loco por ti América, Latinidad - de fortes conteúdos de esquerda e vanguardistas. Na condução desta trajetória encontramos o principal intelectual do samba brasileiro e um dos maiores da nossa história recente, Martinho da Vila. Com uma caminhada singular, Martinho incorporou os desejos do nosso povo por uma vida melhor e uma sociedade mais justa, social e racialmente. E, estas aspirações foram impressas na "Vila", em cada enredo, em cada alegoria, em cada fantasia, em cada verso de samba. São de Luis Carlos da Vila, Jonas e Rodolfo estes versos belíssimos, que a "Vila" soube tão bem representar:
"Valeu Zumbi!
O grito forte dos Palmares
Que correu terras, céus e mares
Influenciando a abolição
Zumbi valeu!
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jongo e maracatu
Vem menininha pra dançar o caxambu (bis)
Ôô, ôô, Nega Mina
Anastácia não se deixou escravizar (bis)
Ôô, ôô Clementina
O pagode é o partido popular
O sacerdote ergue a taça
Convocando toda a massa
Neste evento que congraça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção
Esta Kizomba é nossa Constituição (bis)
Que magia
Reza, ajeum e orixás
Tem a força da cultura
Tem a arte e a bravura
E um bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais a beleza pura dos seus rituais
Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua (bis)
Nossa sede é nossa sede
De que o "apartheid" se destrua
Valeu!"
Uma ode à luta do movimento negro e dos movimentos sociais contra o racismo e a exploração.
Basf e Rosa Magalhães
Todavia, quis o destino que esta história se imantasse com as energias da escuridão e do conservadorismo. Veio o patrocínio da Basf, Ínsumos Agrícolas - empresa multinacional, processada por trabalhadores, como observamos no link: TST discute indenização a trabalhadores da Basf e Shell contaminados, e produtora de agrotóxicos, defensivos agrícolas.
Na goela da "Vila" foi empurrado o enredo: "A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo - Água no feijão que chegou mais um". Nada de MST, comunidades remanescentes de quilombo, ou a luta dos povos indígenas por suas reservas, cantou-se as realizações do agronegócio, sua pujança e poder. A comissão de frente apresentou felizes fazendeiros a partilhar o anarriê das quadrilhas francesas, tão forte em solo nacional. Esqueceu-se o jongo, o caxambu, a congada, o reizado, a folia de reis e tantas outras manifestações campesinas. Desprezou-se Francisco Julião e João Pedro Stédile, lembramos Roberto Rodrigues.
Para artífice desta construção contratou-se a mais conservadora das carnavalescas: Rosa Magalhães. Com seu estilo pomposo e barroco deu o contorno esperado pelas hostes reacionárias ao enredo. Ah! Que belos girassóis!
A amargura de Martinho
Entretanto, nada foi mais triste, do que perceber o desconforto e a amargura estampada no rosto de Martinho, um corpo ausente da apuração. Seus olhos estavam mortos, doloroso presente para seus 75 anos de vida. Talvez pensasse, poderia ter gritado mais, poderia não ter parceria no samba, poderia não ter desfilado, mas pouco adiantaria, o mal já estava feito.
O capital agrário internacional
O capital agrário internacional precisava dar mais uma demonstração de força. Sua dança, sua música, seus rítmos e sua cultura emolduram as cidades. O Brasil se desindustrializa a olhos vistos. A China avança sem delongas. Voltamos ao século XIX, de novo raciocinamos como "celeiro do mundo" e assim nos querem. A "Vila" de Martinho é apenas mais um instrumento. Há vitórias que soam muito mais como derrotas e esta foi uma dessas.
A vitória da "Vila", a derrota de Martinho
Por Sergio J Dias e Luis CArlos Maximo
Nenhuma escola de samba cantou tanto as lutas do povo brasileiro, quanto a Unidos de Vila Isabel. São da Vila, os enredos campeões - Kizomba, Festa de um Povo e Soy Loco por ti América, Latinidad - de fortes conteúdos de esquerda e vanguardistas. Na condução desta trajetória encontramos o principal intelectual do samba brasileiro e um dos maiores da nossa história recente, Martinho da Vila. Com uma caminhada singular, Martinho incorporou os desejos do nosso povo por uma vida melhor e uma sociedade mais justa, social e racialmente. E, estas aspirações foram impressas na "Vila", em cada enredo, em cada alegoria, em cada fantasia, em cada verso de samba. São de Luis Carlos da Vila, Jonas e Rodolfo estes versos belíssimos, que a "Vila" soube tão bem representar:
"Valeu Zumbi!
O grito forte dos Palmares
Que correu terras, céus e mares
Influenciando a abolição
Zumbi valeu!
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jongo e maracatu
Vem menininha pra dançar o caxambu (bis)
Ôô, ôô, Nega Mina
Anastácia não se deixou escravizar (bis)
Ôô, ôô Clementina
O pagode é o partido popular
O sacerdote ergue a taça
Convocando toda a massa
Neste evento que congraça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção
Esta Kizomba é nossa Constituição (bis)
Que magia
Reza, ajeum e orixás
Tem a força da cultura
Tem a arte e a bravura
E um bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais a beleza pura dos seus rituais
Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua (bis)
Nossa sede é nossa sede
De que o "apartheid" se destrua
Valeu!"
Uma ode à luta do movimento negro e dos movimentos sociais contra o racismo e a exploração.
Basf e Rosa Magalhães
Todavia, quis o destino que esta história se imantasse com as energias da escuridão e do conservadorismo. Veio o patrocínio da Basf, Ínsumos Agrícolas - empresa multinacional, processada por trabalhadores, como observamos no link: TST discute indenização a trabalhadores da Basf e Shell contaminados, e produtora de agrotóxicos, defensivos agrícolas.
Na goela da "Vila" foi empurrado o enredo: "A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo - Água no feijão que chegou mais um". Nada de MST, comunidades remanescentes de quilombo, ou a luta dos povos indígenas por suas reservas, cantou-se as realizações do agronegócio, sua pujança e poder. A comissão de frente apresentou felizes fazendeiros a partilhar o anarriê das quadrilhas francesas, tão forte em solo nacional. Esqueceu-se o jongo, o caxambu, a congada, o reizado, a folia de reis e tantas outras manifestações campesinas. Desprezou-se Francisco Julião e João Pedro Stédile, lembramos Roberto Rodrigues.
Para artífice desta construção contratou-se a mais conservadora das carnavalescas: Rosa Magalhães. Com seu estilo pomposo e barroco deu o contorno esperado pelas hostes reacionárias ao enredo. Ah! Que belos girassóis!
A amargura de Martinho
Entretanto, nada foi mais triste, do que perceber o desconforto e a amargura estampada no rosto de Martinho, um corpo ausente da apuração. Seus olhos estavam mortos, doloroso presente para seus 75 anos de vida. Talvez pensasse, poderia ter gritado mais, poderia não ter parceria no samba, poderia não ter desfilado, mas pouco adiantaria, o mal já estava feito.
O capital agrário internacional
O capital agrário internacional precisava dar mais uma demonstração de força. Sua dança, sua música, seus rítmos e sua cultura emolduram as cidades. O Brasil se desindustrializa a olhos vistos. A China avança sem delongas. Voltamos ao século XIX, de novo raciocinamos como "celeiro do mundo" e assim nos querem. A "Vila" de Martinho é apenas mais um instrumento. Há vitórias que soam muito mais como derrotas e esta foi uma dessas.
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