Autor: Fernando Brito
Vejam como é miudinho, miudinho o pensamento de nossa elite empresarial.
Na Folha, agora há pouco, na reportagem “Em dois anos, 75% da população será de classe média, prevê Itaú”, de Clóvis Rossi:
Ricardo Villela Marino, executivo-chefe para América Latina do Itaú Unibanco, tocou música para os ouvidos do público de Davos, ao anunciar que 75% dos brasileiros estarão na classe média de hoje até 2016.” (…)
Classe média significa consumo, que significa bons negócios, e bons negócios são o que mais perseguem os executivos que compõem a principal clientela do encontro anual na cidade suíça.
(…)
Um segundo efeito político foi apontado por Villela Marino, mas este é no mínimo polêmico: “Quando os pobres sobem para a classe média, o voto não está mais atado a benefícios sociais”.
E se o voto não está mais “atado” a benefícios sociais, a que estaria “atado”?
Sem a atração dos benefícios reais que vem de políticas econômicas inclusivas, desenvolvimentistas, promotoras de bem-estar, os eleitores (e seus votos) estariam atraídos por que forças?
O poder econômico e sua mídia?
Pelas ondas de “moralismo” que ela é capaz de levantar, capaz de mobilizar estas “classes médias” a agirem contra seus próprios interesses reais?
Classe média que os bancos arrocharam, pisotearam, sangraram e sugaram com juros de fazer inveja a agiota?
Sim, é isso o que olham com esperança, na certeza de que não se desenvolverão os sentimentos de identidade, de solidariedade e, portanto, de Nação que nos faltam para entender que precisamos nos defender e nos afirmar, porque, ainda que não 75%, mas 100% dos brasileiros fossem de classe média – neste elástico conceito que chama de classe média quem ganha R$ 1000 mensais – ainda seríamos um povo muito pobre perto do que podemos ser.
Talvez por isso a instituição que o senhor Vilella dirige, o Itaú, invista tão pouco numa visão estratégica do Brasil praticamente só opere financiamento para a indústria com recursos que o próprio Governo oferece, pelas linhas do BNDES.
Ou porque está sendo cobrada pela Receita em 18,7 bilhões de reais em impostos atrasados por conta das fusões e incorporações que transformaram no maior banco privado do país, o que dá quase todo o valor utilizado em 2013 pelo Bolsa-Família, que foi de R$ 24 bilhões.
Aliás, como a correção destes tributos é pela taxa Selic, que os bancos pressionam para manter lá em cima, a esta altura já supera o valor do Bolsa-Família, um destes “malditos” benefícios sociais aos quais o eleitor está “atado”.
Quem sabe “desatado”, o eleitor possa eleger governos mais gentis com o Itaú, alguém mais semelhante ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o banco leva a passear no Oriente Médio para atrair especuladores para nosso mercado financeiro “desatado”?
A partir de 2016, com 75% dos brasileiros na classe média, será que conseguem?
Acho que vão ter de tentar mais tarde de novo…
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