Da Carta Maior
O que explica a maior capacidade da PF
em combater a corrupção é fundamentalmente a estrutura sistêmica de
combate à corrupção construída nos últimos anos.
por Juarez Guimarães - Carta Maior
Desde o início do governo Lula e
durante o governo Dilma, os grandes meios de comunicação empresarial do
país têm praticado uma implacável e sistemática censura no plano
editorial, opinativo e informativo sobre o amplo, contínuo e inovador
trabalho de construção de um sistema de combate à corrupção no Estado
brasileiro. Esta censura absurda e implacável ao maior esforço
republicano anti-corrupção da história do país serve na medida ao
discurso da oposição neoliberal de que nunca houve tanta corrupção no
Brasil e que o PT é o partido mais corrupto. Este ensaio é dedicado a
todos os brasileiros que nestes anos foram e continuam sendo
injustamente caluniados como corruptos.
Em 2012, a Polícia Federal realizou
292 operações especiais contra a corrupção e a lavagem de dinheiro. Em
todos os oitos anos do governo Fernando Henrique Cardoso, foram
realizadas apenas 20 operações especiais. O que explica a maior
capacidade da Polícia Federal em combater a corrupção é fundamentalmente
a estrutura sistêmica de combate à corrupção construída durante os
governos Lula e Dilma. Mas quando se divulgam as notícias destas
operações isoladamente – e quase sempre de modo sensacionalista -, o
sentimento que se tem é que a corrupção teve um aumento explosivo no
Brasil.
Para os estudiosos da área, trata-se
do “efeito percepção”: como fenômeno oculto, a corrupção só é percebida
quando combatida. Quando mais se combate, mais ela aparece. Em uma
ditadura, quando os mecanismos republicanos de combate à corrupção não
mais existem, pode parecer que não há mais corrupção quando ela atingiu o
grau máximo. Um governo que é omisso no combate à corrupção pode
parecer perfeitamente republicano embora seja corroído por fortes teias
de corrupção.
Com base neste “efeito percepção” nos
últimos doze anos foi construída uma narrativa de que a corrupção nunca
esteve tão alta no Brasil e que o PT é o partido mais corrupto. Esta
narrativa pode ser bem documentada nos artigos publicados pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso desde os inícios de 2005. E tem
sido diariamente repetida pela esmagadora maioria das empresas de
comunicação do país.
Foi com base nesta narrativa que se
construiu a legitimidade política para a aplicação da excepcional e
midiática jurisprudência do superior Tribunal Federal na Ação Penal
470. É com base ainda neste juízo que se procura legitimar as
excepcionais medidas punitivas e sua extraordinária aplicação aos réus
condenados pelo STF. É ainda apoiado centralmente nesta narrativa que
veio se expandindo nos últimos anos o anti-petismo como discurso do ódio
na sociedade brasileira.
A estratégia midiática foi desde
sempre priorizar, principalizar, dar exclusividade e ênfase aos casos de
corrupção que envolveram petistas nestes anos. Mas, vistos no conjunto,
estes casos constituem uma parte mínima dos casos apurados. Os outros,
principalmente os que atingem o PSDB e seus partidos aliados, são
relegados a um obscuro segundo plano.
Esta estratégia seletiva é, no
entanto, a parte menor da distorção da informação, da opinião e da
edição produzida. O mais importante tem sido a censura implacável e
sistemática à divulgação de um conjunto de iniciativas e ações que,
desde o primeiro governo Lula até agora, construíram no Brasil o maior
sistema de combate à corrupção em nossa história republicana.
Trata-se de uma censura porque a
sistemática não publicação destas notícias não pode ser explicada pelo
fato de que a corrupção tem sido um assunto menor ou marginal na agenda
das grandes empresas de comunicação. É exatamente o contrário do que
ocorreu. Além disso, são informações públicas, cujo sentido e avaliação
têm sido apresentados didaticamente em muitos fóruns públicos, nacionais
e internacionais. Enfim, o mais grave: trata-se de uma censura
editorial, isto é, decidida por quem controla a edição política dos
jornais, revistas, televisões e rádios.
Não censurar estas informações seria
comprometer pela base a narrativa das oposições. O brasileiro certamente
construiria o juízo de que o que houve e está havendo não é o aumento
da corrupção mas o crescimento sistêmico do combate à corrupção no
Brasil. E que os governos liderados pelo PT – sem a menor sombra de
dúvida - foram exatamente os que mais contribuíram para o combate à
corrupção em toda a história do Brasil.
A construção da CGU e da Enccla
O fenômeno da corrupção no Brasil é
sistêmico: não é eventual nem localizado em uma parte do Estado
brasileiro mas está tipificado no modo de operação das relações do
Estados com os interesses privados, em particular aqueles de maior poder
econômico. Ele é freqüente, atinge os três poderes e os três entes da
federação e se reproduz no próprio funcionamento do sistema político. A
sua origem é histórica e está diretamente vinculada às raízes
anti-republicanas e anti-democráticas de formação do Estado nacional
brasileiro desde a sua origem.
Para enfrentar este tipo de corrupção é
preciso uma capacidade sistêmica do Estado. A corrupção é um fenômeno
complexo, multidimensional, hoje bastante internacionalizada em seus
circuitos financeiros e, em especial, adaptativa, isto é, capaz de
reposicionar seus circuitos diante de novas leis e constrangimentos. Se
não se cria uma inteligência sistêmica de Estado joga-se com ela o jogo
da “cabra cega” e não será possível, como em um jogo de xadrez, dar um
xeque-mate à corrupção sistêmica.
Esta capacidade sistêmica de combate á
corrupção tem de ser pública, não pode depender do interesse pragmático
de governos ou partidos. Deve ser uma política de Estado exposta ao
controle público. E, em terceiro lugar, ela deve ser sistêmica
exatamente porque faz convergir diferentes agências do Estado, que podem
agir, de forma coerente e concertada, no plano nacional e
internacional, jurídico e operativo, cultural e econômico,
preventivamente e na conformação dos padrões de penalização criminal, no
plano federal, estadual e municipal.
A grande revolução no combate á
corrupção promovida durante os governos Lula e Dilma foi a criação de
uma estrutura de inteligência republicana e sistêmica. As diretrizes
fundamentais deste trabalho foram já propostas no documento “Combate à
corrupção- compromisso com a ética”, lançado publicamente em setembro de
2002 pela campanha de Lula à presidência.
A primeira peça fundamental foi a
criação em 28 de maio de 2003 da Controladoria Geral da União, que teve
como seu primeiro diretor Waldyr Pires. Formada hoje por cerca de 2 400
profissionais aprovados em concurso público e funcionários
terceirizados, a CGU qualificou seus auditores e passou a construir
paulatinamente toda uma série de iniciativas inéditas historicamente no
governo federal. É, de fato, a primeira agência profissional e pública
- à diferença das corregedorias internas quase sempre sem autonomia
diante do executivo – especializada no combate à corrupção na história
do Estado brasileiro.
Neste mesmo ano de 2003, já houve a
primeira reunião de formação da Estratégia Nacional de Combate à Lavagem
de Dinheiro (Encla), que reuniu ministro e dirigentes de 27 órgãos do
Estado nacional que atuavam, com suas respectivas atribuições, no
combate à corrupção. É que passados cinco anos da aprovação da Lei 9.613
de 3 de março de 1998, a chamada “Lei da Lavagem de Dinheiro”, eram
ínfimos os números de inquéritos policiais, ações penais e condenações
por este crime. A Enccla, agora com duas letras c pois a partir de 2006
incorporou também o combate à corrupção , passou a se reunir anualmente
nestes onze anos, formando agendas, grupos operacionais e técnicos.
Hoje, ela reúne 60 órgãos de combate à corrupção, entre eles, a CGU, a
Polícia Federal, a Advocacia Geral da União, Banco Central, Receita
Federal, TCU, STF, coordenada pela Secretaria do Ministério da Justiça.
Por incorporar vários órgãos do Poder Judiciário e da Procuradoria Geral
da República, sua inteligência ganhou também uma expressão jurídica que
tem sido fundamental.
A partir destas duas grandes
ferramentas públicas de combate sistêmico à corrupção – a CGU e a ENCCLA
- foram se elaborando e colocando em prática, ano a ano, as
iniciativas que revolucionaram o combate à corrupção no Brasil, como
passamos a descrever.
Primeiras iniciativas
Já em 2003 a CGU começou a estruturar
um sistema de Corregedorias no governo federal, com uma Corregedoria em
cada ministério e a formação técnica sistemática para o exercício da
função (já foram capacitados milhares de servidores). A CGU começou a
fiscalizar as contas dos servidores federais, identificando dados
patrimoniais incompatíveis e movimentações financeiras suspeitas. Até
meados de 2012 mais de 4500 servidores federais foram afastados de seus
cargos por corrupção, sendo que a maioria deles de cargos mais elevados e
cargos em comissão. Esta fiscalização sistemática nunca havia
acontecido antes na história brasileira.
Uma outra iniciativa decisiva do
governo na área foi regulamentar e incorporar ao direito brasileiro, as
chamadas Political Exposed Persons (PEP), sobre as quais se exerce um
controle patrimonial mais severo em função de suas atribuições em áreas
considerados chaves para a prevenção da corrupção. Esta iniciativa
envolveu o Banco Central, a Comissão de Valores Imobiliários e o
Ministério da Previdência Social.
Já no início de suas atividades a CGU
começou a fazer o sorteio na Caixa Econômica Federal de municípios
brasileiros a terem suas transferências de recursos federais auditadas.
Hoje, com um maior número de auditores, já se sorteiam 60 cidades por
mês para serem auditadas. Este trabalho que não era feito antes, passa
pela mobilização e deslocamento de uma equipe de auditagem que faz o
trabalho diretamente nas prefeituras. Até 2010, 1800 municípios
brasileiros já tinham auditadas as suas contas. Esta experiência levou a
que a presidente Dilma Roussef editasse o decreto 7 507, pondo fim ao
saque em dinheiro pelas prefeituras. O decreto estabelece que os
pagamentos são feitos somente de modo eletrônico ou equivalente, de modo
que os fornecedores e prestadores de serviços sejam devidamente
identificados.
Ainda em 2003, o governo que aparece
na imagem midiática como o mais corrupto da história, propôs à ONU que
fosse adotada a data de 9 de dezembro como o dia Internacional do
Combate à Corrupção. A data, adotada pela ONU por sugestão da delegação
brasileira, passou a ser um momento importante já que, a cada ano, a
CGU apresenta um balanço dos avanços conquistados e os principais
desafios que se colocam para o combate à corrupção. Em geral, estes
balanços sistemáticos e públicos jamais obtiveram uma atenção da grande
mídia empresarial, mesmo quando sua agenda estava centralizada no tema
da corrupção.
Aliás,a proposição de uma data
internacional aceita pela ONU está longe de ser uma iniciativa
simbólica. Desde 2003, os governos do Brasil passaram a ter uma presença
forte nos fóruns internacionais de combate à corrupção. O governo do
Brasil foi convidado a ter presença permanente no Comitê de Governança
Pública da OCDE, participou do Plano Plano Anti-corrupção do G-20 (
junto com os EUA), tem uma liderança pioneira junto com os EUA na
Iniciativa do governo Aberto (OGP), , lançado em setembro 2011 em Nova
York pela presidente Dilma Roussef e Barack Obama, preside desde 2009 o
Comitê de Peritos do Mecanismo de Acompanhamento da Implementação da
Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. Em 2012, sem que a
grande mídia empresarial tenha dado qualquer destaque, o Brasil sediou a
15 Conferência Internacional Anti-corrupção, o evento mais importante
do mundo na área, que mobilizou 1900 especialistas de cerca de 140
países. Por iniciativa da Enccla, foi criado o Programa Grotius Brasil,
no sentido de formar uma cultura e dinamizar a cooperação jurídica
internacional no combate à corrupção.
Em 2005, por sugestão da Enccla, foi
criado o cadastro de clientes do Sistema Nacional de Bens apreendidos
(SNBA), envolvendo uma ação conjunta do Conselho de Justiça Federal, do
Ministério da Justiça e do Departamento de Polícia Federal. Esta
iniciativa permite evitar o extravio, depreciação ou perecimento dos
bens apreendidos em atividades contra a corrupção. Até novembro de 2011,
ele continha 2.055.831.743 bens apreendidos no valor de RS
2.384.961.090,47.
Também por sugestão da Enccla, foi
criado o Rol Nacional de Culpados da Justiça Federal, sistema que
permite a possibilidade de consulta dos magistrados para obterem
informações e antecedentes dos réus. Antes, não havia esta
possibilidade. Por iniciativa da Enccla, desde 2004 começou a funcionar
o Programa Nacional de Capacitação contra a Lavagem de dinheiro (
PNLD), que, desde então, formou 11 mil agentes em 26 dos 27 estados da
federação. A Enccla construiu também a partir de 2009 a Wiccla, uma
enciclopédia de conhecimentos interativa, que acumula conhecimento e
dados sobre tipologias de lavagem de dinheiro e corrupção, fundamental
para socializar e acumular as experiências.
Na mesma direção, foi criada em 2007 a
Rede-Lab, com financiamento do Pronasci lançado pelo Ministério da
Justiça, que integra 17 laboratórios tecnológicos ( hardware e software)
que lidam com grandes volumes de informações e adaptados para o combate
à lavagem de dinheiro.
Regulamentado pelo Banco Central em
2005 mas em funcionamento desde 2007 e aprimorado até 2010, foi
construído pela primeira vez no Brasil o Cadastro de clientes do sistema
financeiro. Ele tem atualização diária e é alimentado pelos bancos
comerciais, os bancos múltiplos, os bancos de investimento e as caixas
econômicas. Considerado uma revolução no âmbito da investigação
financeira no Brasil, foi criado o Sistema de Investigação de
Movimentação Bancária (SIMBA). O SIMBA trabalha com planilhas
magnéticas padronizadas, superando a fase de relatórios de contas em
papel, de difícil e longa elaboração pelos bancos, além de análise
bastante dificultada.
Todas estas iniciativas vão na direção
da criação pela primeira vez no Brasil de uma inteligência de estado
capaz de agir ali onde a corrupção se reproduz que é o processo de
lavagem de dinheiro.
Prêmio da ONU
Desde 2003, a CGU veio acumulando
capacidade e iniciativas para revolucionar a transparência para a
sociedade dos governos brasileiros. O Observatório da Despesa Pública
foi uma ferramenta criada para cruzar grandes volumes de informações,
com o objetivo de detectar tipos repetitivos de fraudes. O Observatório,
segundo o Ministro Jorge Hage, é a “malha fina” da despesa, sendo capaz
de monitorar, de forma ágil, a ocorrência de situações atípicas na
execução do gasto público.
A partir de 2004, foi lançado o Portal
da Transparência do governo federal, que se tornou uma referência
mundial, tendo recebido o prêmio da ONU como uma das cinco melhores
práticas no campo das estratégias de prevenção e combate à corrupção.
Desde 2010, as despesas do governo federal são lançadas diariamente no
Portal. Tudo o que se empenhou ou pagou hoje, estará exposto no Portal
no dia seguinte. Isto é algo inédito no mundo.
Em 2011, o governo pôde comemorar uma
de suas maiores vitórias na luta contra a corrupção que foi a aprovação
pelo Congresso Nacional da Lei de Acesso à Informação, considerada uma
das mais avançadas do mundo. Ela estabelece a obrigatoriedade de todos
os órgãos públicos, em todos os níveis da federação, disponibilizarem a
todos os cidadãos as informações essenciais para que haja um controle
público democrático de sua atividade. A CGU lançou em seguida o Programa
Brasil Transparente, para auxiliar estados e municípios a se adaptarem
às novas regras de transparência pública.
Desde 2003, a CGU tem propiciado
cursos de formação para formar cidadãos aptos a exercerem o controle
público. Além do Programa Olho Vivo, foi realizada em 2006 o I
Seminário Nacional de Controle Social na Administração Pública do
Brasil.
Luta contra os corruptores
Outro campo decisivo de inovações
promovida pela CGU durante os governos Lula e Dilma foi, a partir do
entendimento que a corrupção não é um fenômeno puramente estatal mas
envolve ativamente os corruptores e empresários, fundar todo um sistema
de controle e punição antes inexistente na área.
Em 2008 foi criado o Cadastro Nacional
de Empresas Inidôneas e Suspensas (CNEIS), disponível ao público pela
Internet, que permite verificar as empresas que participaram de práticas
ilícitas e que estão impedidas de celebrar contratos com a
administração pública no Brasil. Até 2012 já existiam cerca de cinco
mil empresas neste cadastro.
Na mesma direção foi criado – também
antes inexistente – o Cadastro das Entidades Privativas Sem fim
Lucrativo Impedidas (Cepim) que registra as ONGs que cometeram atos
ilícitos com recursos públicos. Até 2012, já havia mais de 1 800 ONGs
impedidas de fazer parcerias com órgãos da administração pública e que
têm seus nomes publicados na internet. Em 2011, o governo Dilma fez um
decreto no sentido de regular as relações públicas com ONGs,
estabelecendo que elas precisariam ter pelo menos três anos de atividade
reconhecida na área, não ter cometido irregularidades, participar de
uma chamada pública. Além disso, todo contrato deveria ser assinado
diretamente pelo próprio ministro da área envolvida.
A partir de uma iniciativa da Enccla
já estudada desde 2044 e de um projeto de lei enviado pelo Executivo ao
Congresso Nacional já em 2010, foi aprovada a Lei 12.683 que modifica e
atualiza em pontos fundamentais a Lei 9613/98, permitindo um grande
avanço no combate e penalização das empresas corruptoras. Pela nova lei,
não é mais necessária a exigência de comprovação nem da intenção nem
que o ganho ilícito tenha sido já auferido. Não mais há a dificuldade do
alistamento de crimes antecedentes e a alienação antecipada dos bens
envolvidos na corrupção permite evitar a sua perda de valor. A nova lei ,
seguindo orientação da OCDE, também penaliza as empresas por prática de
suborno internacional. As multas foram ampliadas, cobrindo de 0,1 % até
20 % do faturamento bruto da empresa. Além do perdimento de bens,
suspensão de atividades ou dissolução, as penas administrativas envolvem
a proibição de recebimento de incentivos, isenções ou subvenções por um
prazo determinado.
Em 2009, o ex-presidente Lula enviou
ao Congresso Nacional um projeto de lei que penaliza a corrupção como
crime hediondo quando cometido por altos funcionários. A lei ainda não
foi votada até hoje.
Uma outra iniciativa de mudança
fundamental vista pela CGU é a que se refere ao princípio da “presunção
da inocência” que no Brasil, de forma singular, permanece até depois de
quatro reconhecimentos oficiais de culpabilidade, ou seja, a Opinio
Delicitis de um Procurador da República ( após o inquérito), a aceitação
da denúncia do Ministério Público por um juiz, a sentença condenatória
de primeiro grau e o Acórdão confirmatório dessa sentença por um
Tribunal de segundo grau.
É esta processualística arrastada e
extraordinária que faz com que os processos contra a corrupção se
arrastem de dez a quinze anos, passando á sociedade a sensação real de
impunidade dos corruptos, em particular aqueles vinculados aos crimes de
“colarinho branco”.
Efeitos da censura
Em artigo recente, “A outra censura”, o
professor Venício Lima mostrou a importância de se pensar o
cerceamento de informações do interesse público para além da censura de
um Estado autoritário. Grandes empresas de comunicação, em regime de
propriedade cruzada e de controle oligopolístico, podem retirar do
alcance do público informações fundamentais para a vida democrática.
Se a forte restrição do pluralismo de
opiniões fere de morte a vida democrática de um país, o que dizer,
então, de uma censura sistemática e implacável a informações
fundamentais para formar a opinião pública?
Ao cercear aos brasileiros o direito
de tomar conhecimento do que os governos Lula e Dilma construíram, como
política de Estado, no combate sistêmico à corrupção no Brasil, as
grandes empresas de mídia cometem um triplo crime. Em primeiro lugar, um
crime contra a cultura cívica do cidadão que passa a desesperar de que
não há saída para o labirinto da corrupção na democracia brasileira. Em
segundo lugar, protegem os governos estaduais e municipais inativos
na luta contra a corrupção já que o exemplo maior de incentivo à
corrupção viria do governo federal. Por fim, atacam de modo farsesco o
próprio cerne da legitimidade pública destes governos e do PT ao
pretenderem colar as suas identidades à corrupção.
Os governos Lula e Dilma, pode-se
argumentar, poderiam ter feito mais contra a corrupção. É certo ainda
que grandes desafios precisam ser enfrentados, entre eles a reforma
política, para se superar a corrupção sistêmica no Brasil. Mas não há
como evitar o juízo de que os governos Lula e Dilma foram até hoje os
que mais contribuíram para se constituir um fundamento republicano das
instituições do Estado brasileiro. Não há sequer medida de comparação
com qualquer outro governo federal anterior. Em particular, a
comparação com os governos Fernando Henrique Cardoso, com seu bloqueio
sistemático da investigação de escândalos, seria , por todos os motivos,
vergonhosa e constrangedora para os que acusam o PT e seus governos
nacionais de serem os campeões s da corrupção. Só há uma e única maneira
de negar este juízo: censurar as informações.
http://jornalggn.com.br/fora-pauta/a-censura-maior-sobre-o-trabalho-de-combate-a-corrupcao-1
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