terça-feira, 26 de agosto de 2014

NEM TUDO QUE NÃO É PSDB ME SERVE.




Vou fazer aqui uma revelação desnecessária mas forçosa tendo em vista o momento político atual. Desagradarei alguns e surpreenderei outros. Fazer escolhas implica contrariar interesses, como não sou de ficar em cima do muro e a opção do voto nulo não está em meus horizontes, porque acho que para ter o direito de criticar eu tenho que participar, não sou daqueles que não votam ou votam branco ou nulo e ainda assim se sentem no direito de falar mal do sistema político e dos políticos sem fazer valer seu direito de escolher um candidato para depois ficar criticando. Não deveriam e nem poderiam criticar, já que não fizeram a escolha de votar em um candidato não importando o partido.

Pois bem, dito isso faço as ressalvas de que NÃO SOU FILIADO AO PARTIDO DOS TRABALHADORES E JAMAIS VOTEI EM UM CANDIDATO DO PSDB. Já votei em vários candidatos que não são do PT. Nunca votei num candidato do PSDB. Nos últimos 12 anos tenho combatido as ideias conservadoras da velha mídia e de seus colunistas, especialmente as ideias de Reinaldo Azevedo e seus acólitos, recusando a me convencer da validade dos argumentos que são usados para interromper os governos trabalhistas do PT. Especialmente a argumentação seletiva no campo moral, terreno fértil, exaustivamente explorado para atingir a imagem das principais lideranças do PT. Não há o mesmo tratamento para com os governos do PSDB, não por falta de escândalos mas por pura má vontade, por uma desfaçatez que beira ao cinismo.

Essa narrativa construída não passa pelo imperativo categórico de mudarem os governos do PSDB em São Paulo ou em Minas Gerais. O que serve para o PT no plano federal não serve para o PSDB nesses estados embora o PT esteja há menos tempo no governo do que eles em SP e MG. O desejo de mudanças captados em pesquisas de opinião só servem para o governo federal do PT. Nos estados onde o PSDB governa está tudo indo muito bem, portanto vota bem quem votar para eleger os tucanos nessas unidades federativas. No Brasil governado pelo PT nada presta. Serviços públicos, economia, política externa tudo é um caos. Menos nos estados governados pelo PSDB, onde as coisas funcionam as mil maravilhas e não há nada de errado. Até a formação de um cartel é encarada como coisa normal no dizer do candidato ao senado José Serra, intimado pela PF para prestar esclarecimentos sobre o famigerado trensalão.

O PT tem sobrevivido politicamente ao constante bombardeio midiático não sem amargar os efeitos colaterais dessa campanha de desconstrução do partido, sentidos de uma forma muito dura em Junho de 2013 quando as ruas do país foram tomadas por uma histeria coletiva, um despertar das "mazelas" trazidas pelos governos do PT para sociedade e durante os preparativos da Copa quando se criou um consenso negativo de que o evento seria um desastre para imagem do Brasil perante o mundo. Uma onda pessimista percorreu todo país gerando um sentimento negativista e de impotência, abalando seriamente o comportamento individual do brasileiro com sérios reflexos para economia, com previsões catastróficas sendo feitas em cima de uma escalada inflacionária até agora não vista.

Tudo isso somado as eleições de 2014 foram tomadas por um clima de desconfiança. A candidata da situação estacionada na casa dos 36 a 38% das intenções dos votos. Os candidatos da oposição um pouco além disso, próximo um ponto ou dois acima da margem de erro. Aí o imponderável acontece. Um dos candidatos falece em plena campanha e é substituído pela sua vice. Não uma vice qualquer, mas uma que já está na cena política há exatos 30 anos mas que se apresenta como o novo, a redentora, mesmo tendo feito parte desse projeto político em curso, mesmo estando no governo petista, no epicentro do escândalo do "mensalão", mesmo tendo sido ministra do meio ambiente durante cinco anos, mesmo não conseguindo diminuir o desmatamento na Amazônia, meta alcançada somente pelo seu substituto, o ambientalista, Carlos Minc.

Volto para as razões que me fizeram escrever esse texto dizendo que jamais pensei em concordar com Reinaldo Azevedo como estou concordando agora, fazendo um trocadilho de suas palavras quando ele afirma "que nem tudo que é PT lhe serve" para dizer que NEM TUDO QUE É PSDB ME SERVE. Marina Silva não me serve. A hipótese de um segundo turno entre Marina Silva e Aécio Neves não existe, mas se fosse factível, se se tornasse realidade, repito: NEM TUDO QUE NÃO É PSDB ME SERVE. Marina Silva não me serve.

Nessa hipótese absurda, mantendo exatamente o mesmo pensamento que tenho a respeito dos tucanos, votaria em Aécio Neves. O faria não tomado pelo ódio, pelo sentimento de despeito, tão somente porque não acredito em salvadores da pátria e não acho que a pátria precisa ser salva. Estamos muito bem obrigado. Temos muito o que melhorar, mas ainda não estamos numa situação de caos político, social e econômico de modo que precisemos de uma candidata messiânica.

Ademais se é pra votar no software pirata prefiro o original. Marina Silva se faz acompanhar de uma herdeira de um banco que está na mira da receita federal cobrado por uma dívida fiscal de 18 bilhões de reais prometendo a independência legal do BC, limitando as ações do governo na definição da política econômica, crucialmente em momentos de crises nos quais a liderança de um governo forte se faz sentir para impedir que interesses privados, do capital financeiro se sobreponha sobre os interesses nacionais. 

Importou André Lara Resende, o cabeça de planilha que orientou Fernando Collor de Mello a fazer o confisco da poupança durante seu governo para integrar sua eventual equipe econômica. Seu principal guru defende medidas econômicas baseadas no arrocho fiscal, na contenção do consumo, no freio da criação de empregos, no aumento das taxas de juros e na redução dos programas sociais. Uma ousadia que nem Aécio teve coragem de defender abertamente.

Diz que se eleita chamará Lula e FHC para uma concertação. Não fala isso diretamente, terceiriza seu pensamento, permitindo que prepostos sinalizem com tal proposta, uma contradição que põe por água abaixo seu discurso de nova política. Não há nada de mais mentiroso do que esse discurso de nova política que abre espaço para que Lula e FHC estejam em um governo que propõe mudar os costumes políticos, que se nega negociar com os partidos políticos, mas aceita que as duas mais felpudas raposas da política tradicional em atividade estejam em um governo que trás simbolicamente o estandarte do novo para mudar tudo que está aí.

Marina não acredita na política mas está usando o sistema político para conseguir um cargo político. Não tem base de sustentação política para formar um governo. É uma sucedânea de Jânio Quadros e de Collor de Mello que mergulharam esse país em duas grandes crises institucionais. 

Pior do que isso é o pensamento conservador que está por trás de seu programa de governo, utilizando da imagem da candidata que ficou associada as mudanças que setores que foram as ruas clamam, prestes a conseguirem restabelecer uma ordem econômica já superada, tantas vezes tentada com os candidatos do PSDB fragorosamente derrotados, mas agora excitados porque encontraram uma estafeta eleitoralmente viável que esteve sempre à sombra do poder, coonestando todos os atos políticos do partido do qual saiu mas é uma de suas fundadoras, embora sem sofrer os desgastes das escolhas políticas impostas pela governabilidade desse presidencialismo de coalizão, o que lhe dá a condição de ser o receptáculo, o ancoradouro do voto dos politicamente desiludidos, que não participam da luta política, que vivem à margem do processo, andando pelas suas franjas, tomados por uma insatisfação que não encontra base factual na realidade, enxergando só as árvores e despercebendo a imensa floresta que está escondida de seu campo de visão.

Não nem tudo que não é PSDB me serve.

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