QUI, 28/08/2014 - 09:34
A tragicomédia do nosso pós-redemocratização começou quando o PSDB deixou a social-democracia na saudade. Com FHC, o partido passou a ser social-democrata no papel, social-liberal no discurso e conservador na prática.
Engraçado foi essa tentativa dos tucanos de emular Reagan e Thatcher. Lá no Hemisfério Norte, existia ou um Welfare State ou um sistema de proteção social vindo dos tempos do New Deal, um ambiente de presença constante do Estado na vida do cidadão, onde os neo-liberais exploraram alguns excessos para atacar todo o modelo.
O mantra, correto ou não, era oferecer maior liberdade econômica para uma população que já tinha padrão de vida altíssimo, colorindo-o com alguns toques de xenofobia/racismo ("vamos desmantelar o Welfare e acabar com a leniência dos imigrantes/negros/latinos").
Era óbvio o suicídio programático dos tucanos, ao importar estas teses para um país em que milhões figuravam abaixo da linha da pobreza, e cuja maior necessidade era a implementação do Estado Social da Constituição de 88, e não o seu desmantelamento.
Parece que não aprenderam a lição com os liberais clássicos do período pré-Crash de 29/2ª Guerra Mundial, condenados por décadas ao ostracismo político e intelectual, depois do advento das políticas keynesianas. Será que que foi leitura demasiada do "Fim da História" de Fukuyama?
Assim, com o slogan social-democrata em aberto, o PT conseguiu espaço para se re-orientar, e empunhar a bandeira da inclusão sem precisar defender a ruptura necessária com o establishment, já que o cenário em que o PSDB comandava a centro-esquerda deixou de existir com o governo FHC.
Ora, com a consolidação da bandeira inclusiva, era óbvio que o PSDB precisava fazer um recuo tático em seu avanço à direita, reconhecer as conquistas sociais, abraçar alguns conceitos e apostar no bipartidarismo, igual fez o Partido Republicano dos EEUU nas décadas em que se seguiram ao New Deal.
Mostra disso é a eleição de um Eisenhower mais à esquerda, no plano interno, do que o mais esquerdista dos Democratas de hoje, fazendo uma sucessão segura em que preservava o legado de Roosevelt. É como se Aécio sucedesse Dilma, sem melindrar os "lulistas" e com votos de vários deles. Dá pra imaginar?
Essa campanha insossa do ex-governador de MG agora em 2014, insistindo na herança de FHC e calcada no discurso liberal da eficiência, é o hara-kiri final do partido como opção nacional.
O discurso liberal puro só adquirirá proeminância na eventualidade de o país consolidar um Estado de Bem-Estar, época em que novos atores já terão tomado o protagonismo dos tucanos. Insistir em menos Estado um ano depois de jovens irem às ruas pedindo mais educação e mais saúde, mostra bem o porque o mineiro só consegue votos entre o antipetismo mais fanático.
Símbolo deste mastodonte que virou o PSDB é a diferença gritante que existe entre o sociólogo FHC - um grande quadro intelectual, a primeira personalidade de peso a prever que a "nova" classe média é que decidiria as atuais eleições -, e o lider partidário FHC, que assistiu e assiste inerte Marina Silva seduzir esta parcela do eleitorado, postar-se como favorita, e enterrar de vez as pretensões nacionais de seu partido.
http://jornalggn.com.br/noticia/o-ocaso-do-psdb-por-tagutti
Nenhum comentário:
Postar um comentário