Finalmente um escândalo a descoberto que perpassa o falso moralismo dos hipócritas que se enchem de indignação com a corrupção praticada no varejo e que está espraiada em tudo que é estatal, repartição pública, União, Estados e Municípios, na iniciativa privada e também na vida diária de muitos de nós para provar que o brasileiro é um corrupto por excelência, guardadas as exceções que fogem à regra.
Essa cultura de corrupção que faz parte da moral do brasileiro, salta aos olhos porquanto quem a pratica mais deleteriamente não são os que estão no andar de baixo, aqueles desprovidos dos meios de sobrevivência ou os que os possuem com grandes dificuldades, embora também não estejam isentos de tais crimes, atenuados pelo fato de seguirem um modelo que vem de priscas eras adotado por quem tem maior obrigação de dá o exemplo, até pelo nível de educação que possuem, pelo acesso a informação, a classe social a que pertencem.
Ressalte-se porém que não é porque sejam mais honestos, isso decorre da ausência de oportunidades, dos meios para disporem do dinheiro público que não lhes pertencem, mediante ilícitos e esquemas vários que estão entranhados no serviço público, sobrando-lhes as ruas para o cometimento de crimes contra o patrimônio, a vida etc...
As páginas policiais não me deixam mentir. A sensação de insegurança que toma conta dos grandes centros urbanos idem.
Contudo, nada há que possa refreá-los.
Isso não nos impede de fazermos a seguinte reflexão: sempre que um novo escândalo de corrupção aparece em substituição a outro as personagens são recorrentemente pessoas bem aquinhoadas, com grau de instrução superior e que possui vida financeira estabilizada e teoricamente não teria nenhuma razão objetiva de envolver-se com o submundo do crime e nunca temos notícia do envolvimento de alguém comum do povo, a gente humildade que trabalha de sol a sol e quando alguma política pública é destinada em seu benefício a gritaria estridente ressoa em alto som para tratá-los de forma a humilhá-los, a ferir sua dignidade como fazem com os beneficiários do bolsa família e todos que recebem algum tipo de compensação governamental em reconhecimento pelo injusto tratamento dispensado por décadas de exclusão social.
Esse cidadão brasileiro honesto, decente, trabalhador em que pese as imensas dificuldades que tem que superar em seu dia a dia, sofrendo as mais terríveis agruras quando precisa de algum serviço público para ser atendido, merece todos nossos aplausos. Mesmo tentado a praticar o crime, resiste, por vezes estando em um ambiente que lhe é tão peculiarmente propício, não raro respirando ares que facilmente poderia levá-lo a cercar-se dos mais empedernidos ladravazes e assim ultrapassar a linha tênue que o separa do convívio social que se baseia em convenções, escolhendo, contudo, apartar-se do mundo da criminalidade, suas extensões e consequências, preferindo uma vida frugal ao luxo advindo de conduta criminosa.
De concreto, quando raramente surge o envolvimento dessa gente humilde na corrupção, é porque foi aliciada para figurar em um de tais esquemas como laranja. Emprestar seu nome, uma conta bancária para que terceiros com acesso disponível utilizem de forma criminosa. Jamais os vemos figurar como mentores, estão sempre numa escala abaixo. Isso é para os Cerverós, os Baruscos, os Youssefs que soltos por aí aos borbotões, subornam, corrompem e saqueiam o erário.
Todo esse longo preâmbulo para aduzir o Swissleaks e a Operação Zelotes da PF. Para quem não sabe, o Swissleaks é um mega esquema de sonegação fiscal com aberturas de contas bancárias para fins de ludibriar a receita federal. Cerca de 9 mil brasileiros que nunca perderam uma noite de sono preocupados com o que vão comer amanhã, se irão ter trabalho, como pagarão suas contas no fim de mês, burlaram o fisco para livrar-se de suas responsabilidades quanto a pagar regularmente os impostos devidos.
Não há crime pior do que o de sonegar impostos. Nem mesmo o crime de homicídio pode equiparar-se aos de evasão e sonegação fiscais. Contudo, para o brasileiro a sonegação não lhe causa nenhuma indignação. É algo a ser tratada com indiferença, desfaçatez, como que de somenos importância e simplesmente trivial.
Em todas as nações civilizadas é senso comum que sonegação fiscal é crime de lesa pátria e tem que ser duramente combatida. Menos no Brasil.
Por aqui milhões de pessoas saíram as ruas para se mostrarem indignadas com a corrupção. Algumas destas foram desmascaradas por estarem na lista de sonegadoras divulgada no Sweissleaks.
As autoridades que cabem fiscalizar para coibir a sonegação, nada fizeram para impedir que esses maus brasileiros fossem abrir contas bancárias em paraísos fiscais com o claro objetivo de sonegar. Uma falha imperdoável que está sendo apurada em sede de CPI, não pelos esforços próprios do governo, senão em face da repercussão mundial do vazamento da lista do HSBC suíço que por aqui chegou e ensejou um pedido de CPI.
Quando todas as atenções estavam voltadas para os desdobramentos da CPI que investiga a lista vazada no Swissleaks, eis que somos surpreendidos pela Operação Zelotes da PF a mais importante operação policial da história dessa instituição e, pasmem, não está recebendo o mesmo tratamento dispensado à Lava Jato e tampouco a outras operações da PF tão espalhafatosamente divulgadas na grande mídia.
Até sabemos por quê. A Globo também figura no polo passivo como sonegadora de impostos. É responsável pelo desvio de mais de 600 milhões de reais dos cofres públicos cujo blogue O Cafezinho de Miguel do Rosário deu conhecimento público, ainda que anterior a operação Zelotes da PF, realizada nessa semana finda, descobrindo um mega esquema de sonegação fiscal que roça a casa dos 20 bilhões de reais.
Estima-se que no Brasil a sonegação é da ordem de 500 bi por ano. Não há crime maior pela dimensão e efeitos que deixam o país mais empobrecido e com seu desenvolvimento comprometido. Não obstante, isso nem comove a Receita e menos ainda o governo, às voltas com um arrocho fiscal que recairá sobre os lombos do trabalhador, convidado especial para arcar com os sacrifícios de um ajuste iníquo a pretexto de se fazer economia de palitos e reequilibrar as contas públicas, enquanto a sangria dos cofres públicos corre solta, seja pela corrupção endêmica, seja pela sonegação fiscal.
No entanto, em se tratando de corrupção, a que incomoda é essa do varejo, a do atacado que envolve milhões de brasileiros num crime coletivo ´de sonegação fiscal passa ao largo. De fato, nem eles acham que seja crime. Se achassem não estampariam cartazes hipócritas pedindo o fim da corrupção e teriam vergonha de exigir o fim de algo ao qual dão contribuição decisiva para que continue existindo.
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