Tal como aconteceu na ditadura, quando os maiores jornais do país em tiragem assumiram o papel de porta-vozes do DOI-Codi, publicando, sem questionar, notícias de "atropelamento" e "fuga" de militantes da esquerda que na verdade tinham sido mortos em tortura, colaborando, assim, para ocultar os crimes e desinformar seus leitores, os mesmos jornais estão assumindo, neste momento, o papel de porta-vozes da "Lava Jato" publicando, sem questionar, ordens de prisão dessa nova "República do Galeão" baseadas em "talvez", "é provável", "há uma probabilidade", como se fossem acusações provadas, colaborando, assim, com o clima de inquisição que pretende arrancar do poder uma presidente eleita pelo voto direto e de conduta ilibada e lançar o país de volta ao passado.
O "talvez" indica 50% de possibilidade de culpa e 50% de inocência. No entanto, na manchete do jornal vira 100% de culpa.
Embora jornalistas não sejam médicos, e não façam o juramento de Hipócrates que implica em se sacrificar para salvar vidas, eles assumem, desde a primeira vez em que pisam numa redação o compromisso implícito de se sacrificar para salvar a verdade e jamais abrir mão do direito e da obrigação de questionar.
O que estamos assistindo hoje são episódios escabrosos que dão vergonha a jornalistas. Uma ordem de prisão expedida contra o jornalista e publicitário João Santana, justificada pela "probabilidade" de ele haver cometido crime, em vez de ser contestada e questionada, porque "probabilidade" não é "certeza" e ninguém era preso nesse país por "probabilidade", a não ser na ditadura, é aplaudida, é comemorada, e já é meio caminho andado para de novo acender o rastilho de pólvora que o jornal espera explodir o Palácio do Planalto.
Não há dúvida que aqueles mesmos grandes jornais – grandes em tiragem, não em posição editorial – que colaboraram com a ditadura estão agora colaborando com a "Lava Jato" e renunciando ao seu papel de tudo fiscalizar, inclusive a "Lava Jato", desinformando seus leitores, os mesmos que "tentam proteger" das mentiras do governo.
Tal como em relação à ditadura, talvez somente daqui a muitos anos vamos saber quantos "atropelamentos" eram mortes na tortura. E será tarde demais.
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