Lençóis de hospitais americanos são achados em hotéis de PE
Foto: BIRA NUNES/Agência Estado
MATERIAL DE LIXO HOSPITALAR IMPORTADO ILEGALMENTE DOS EUA É VENDIDO NO COMÉRCIO DA CIDADE DE TIMBAÚBA E USADO EM HOSPEDAGENS. POLÍCIA FEDERAL ACREDITA QUE TECIDOS SEJAM USADOS EM CONFECÇÕES DO BRASIL TODO
Lençóis de lixo hospitalar americano foram encontrados em hotéis e pousadas de Timbaúba, Mata Norte de Pernambuco, por uma equipe da Globo Nordeste. A região fica a 158 Km de Santa Cruz do Capibaribe, sede da empresa Na Intimidade Ltda, acusada de importar o o material dos Estados Unidos.
O dono do hotel Stylus, Marcondes Mendes, contou que comprava os lençóis há dois anos em um armazém da cidade, mas desconhecia sua procedência. Ele disse não ter estranhado a referência em inglês ao sistema de saúde porque não sabia o que significava. Os tecidos foram encontrados em lojas da cidade.
Ontem, a Apevisa apreendeu 15 toneladas desse material com marcas de sangue numa empresa de Caruaru, no Agreste do Estado. As outras 30 toneladas foram encontradas, no último dia 15 de outubro, em depósitos em Santa Cruz do Capibaribe e Toritama.
Segundo a Agência Estado, forros de bolsos feitos com lençóis descartados por hospitais americanos e importados pela empresa Na Intimidade Ltda, de Santa Cruz do Capibaribe (PE), podem estar presentes em confecções de outros Estados, como São Paulo. “Acredito que a empresa tenha clientes no Brasil inteiro, mas isto será afirmado no decorrer das investigações”, afirmou hoje (18), o superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, Marlon Jefferson.
Ele adiantou que será feito um pedido de cooperação internacional às autoridades americanas, por meio do Ministério da Justiça, para descobrir os responsáveis pela exportação de lixo hospitalar. O inquérito deve se estender por até 90 dias. Jefferson fez as afirmações no Palácio do Campo das Princesas, após reunião com o governador Eduardo Campos (PSB), autoridades sanitárias, policiais, empresários do polo têxtil do agreste e Receita Federal.
No encontro, que avaliou o que está sendo feito em relação ao caso e se uma campanha em favor do polo têxtil será iniciada, Campos responsabilizou os Estados Unidos pelo incidente, por permitir a saída de uma “mercadoria que não devia ter saído”. Ele afirmou que escreverá à presidente Dilma Rousseff para que ela peça às autoridades americanas que apurem “esse delito que começou nos Estados Unidos”. Ele defende que os dirigentes dos hospitais que tiveram seu material de descarte exportado sejam responsabilizados.
Para o governador, o Estado fez a sua parte, pois a Receita Federal identificou e barrou, na semana passada, no Porto de Suape, a entrada de lixo hospitalar disfarçado como “tecido de algodão com defeito”. Preocupado com a retração do consumo no polo têxtil - que engloba 14 municípios -, Campos pediu para que não se confunda “um procedimento marginal, criminoso, isolado e absolutamente pontual e contingente” com a atuação de mais de 22 mil empresas que empregam 150 mil pessoas. Vestido uma camiseta com a inscrição “Eu uso produto do polo têxtil. Confecção é coisa séria. Não é lixo. É desenvolvimento para Pernambuco”, ele lidera uma campanha de comunicação nacional em favor do polo. Ele assegurou que todo material importado identificado como tecido passará por fiscalização.
Contaminação. Com base na avaliação de infectologistas, Campos frisou que somente os trabalhadores da empresa que manusearam os tecidos correram risco de contaminação. “O risco para quem usa é zero” reiterou o gerente da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), Jaime Brito. Segundo ele, a lavagem torna inativa qualquer infecção que pudesse ser transmitida por sangue ou outra secreção humana.
Três unidades da Império do Forro de Bolso (nome fantasia da Na Intimidade) foram interditados pela Apevisa: uma loja em Santa Cruz do Capibaribe e dois galpões, um em Toritama e outro em Caruaru. A Apevisa recolheu cerca de 40 quilos do material e entregou ao Instituto de Criminalística (IC) para análise. Empregados da Na Intimidade em Santa Cruz revelaram ao Jornal do Commercio que em alguns dos lençóis foram vistos tufos de cabelo curativos e esparadrapos. E a triagem do material era realizada sem luvas ou outro tipo de proteção.
Em Toritama, a notícia já afeta o comércio. “Mesmo quem não tem nada a ver com jeans está sofrendo”, disse o diretor comercial da Rota do Mar, especializada em roupas esportivas, Adilson Silva. “Não usamos forros, mas nossas vendas caíram. Não tenho ainda como dizer qual foi porcentual da queda, porque números não estão fechados.” Segundo ele, boa parte do produto da Império do Forro de Bolso era vendida para empresas locais. “O bolso chega lavado, do tamanho encomendado. Só pela análise do produto, não tem como saber se era feito de lençol”. (Colaborou Lígia Formenti).
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