Nem estamos em ano eleitoral e o nível de intolerância na blogosfera atinge níveis preocupantes. É inacreditável o que portais ligados aos mais importantes veículos do país publicam de comentários ofensivos, alguns verdadeiramente criminosos, na área reservada aos leitores, sem falar nos próprios blogueiros.
De um lado e de outro, em lugar de fatos e argumentos, o que vemos é o assassinato de reputações numa linguagem de sarjeta, uma verdadeira gincana para saber quem consegue ser mais agressivo e grosseiro em seu nicho de mercado, seja a favor ou contra o governo federal.
Neste verdadeiro "Fla-Flu" da intolerância, parece que todo mundo só quer enxergar um lado, o seu lado, a parte da realidade que lhe interessa, e não como ela de fato se apresenta a quem está disposto a apenas entender o que está acontecendo no país.
Noto que este clima de beligerância se espalhou a partir das discussões sobre o tamanho e os objetivos das marchas de protesto "contra tudo o que está aí" inauguradas no dia 7 de setembro, que reúnem jovens idealistas dispostos a combater a corrupção e velhos malacos cansados, sempre em busca de um atalho para chegar ou voltar ao poder, atacando o governo federal, com ou sem razão.
Como muitos dos mentores e entusiastas destas manifestações estão abrigados em espaços vistosos da velha mídia, qualquer crítica é recebida a pedradas como se quem não apoiasse ou participasse das marchas fosse corrupto, chapa-branca, vendido ou comprado com verbas federais.
Ou seja, tirando os 20 ou 30 mil ou sei lá quantos que se mobilizaram nas ruas com faixas e adereços, os outros 190 milhões de brasileiros não prestam. São omissos ou coniventes.
Do lado oposto, nas redes sociais e nos sites dos novos meios eletrônicos, qualquer denúncia sobre os "malfeitos" governamentais é tratada como crime de lesa-pátria, traição aos supremos interesses do país, coisa de gente que só pensa em fabricar escândalos para derrubar o governo.
Não tem meio termo. Tudo é ótimo ou péssimo, preto ou branco, bonito ou podre, dependendo do ponto de vista e da camisa de cada um, sem pensar para escrever com um pouco de racionalidade, bom senso, juízo, respeito à verdade factual. É tiro para todo lado, como se vivêssemos numa verdadeira guerra civil virtual.
Para chegar aonde? Contribui para isso a progressiva partidarização da grande imprensa, amplificando e mantendo nas manchetes os escândalos federais, e jogando para debaixo do tapete os escândalos estaduais, especialmente os de São Paulo.
Neste ambiente hostil, fica até difícil moderar os comentários de um blog jornalístico e absolutamente independente como este Balaio faz questão de ser desde que foi ao ar pela primeira vez.
Como vocês próprios são testemunhas, publico aqui opiniões de todas as tendências político-partidárias, muitas contendo críticas duras ao que escrevi. Não divido o mundo entre os que são a favor ou contra o que escrevo. Deleto apenas as ofensas gratuitas e histéricas de quem ainda não aprendeu a conviver numa democracia em que reina hoje a mais absoluta liberdade.
Nunca me preocupei em ganhar ou perder leitores e amigos com o que escrevo, mas apenas em ser leal e honesto com os leitores. Disso vocês podem ter certeza.
Vou sempre correr o risco de errar, inerente ao trabalho do jornalista que escreve quase todos os dias, já faz quase meio século. Não sou nem nunca quis ser dono da verdade. Para mim basta ser honesto e verdadeiro naquilo que a gente pensa, sente e escreve, sem querer ser melhor do que ninguém.
Os caros leitores têm alguma boa ideia sobre o que é possível fazer para evitar que esta onda de intolerância se alastre e possamos continuar o debate com um mínimo de civilidade e respeito? Pensem nisso.
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