Explosão causada por botijões estocados de forma irregular no subsolo de restaurante no Rio mata três pessoas, fere 17 e acende o alerta para os negócios clandestinos de gás
Michel AlecrimCENA
Acima, o momento da explosão que atingiu seis andares do prédio (abaixo)
Não bastasse temer a explosão de bueiros cidade afora, agora os cariocas tomaram conhecimento de que há outras potenciais “minas” no Rio de Janeiro. Na quinta-feira 13, um restaurante voou pelos ares, matou três pessoas, feriu 17 e transformou a praça Tiradentes, no centro, em cenário de destruição pós-guerra. A tragédia foi provocada pela explosão de botijões de gás armazenados no subsolo, ilegalmente, durante anos. Talvez se uma única vistoria tivesse ocorrido, o dramático acidente não teria acontecido. A negligência dos órgãos municipais competentes fez com que o restaurante Filé Carioca funcionasse sobre um barril de pólvora, como diz, com precisão, o ditado popular. O fato deu visibilidade a um risco tão grande quanto escondido: há possibilidade de isso acontecer também em outros estabelecimentos comerciais da cidade. Basta dizer que existem mais negócios clandestinos para venda de recipientes de gás do que legalizados. Pelas contas da Agência Nacional de Petróleo (ANP), são três mil pontos de venda clandestinos contra 1.292 oficiais.
O ex-conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ) e especialista no assunto Antônio Gerson de Carvalho alerta que o uso de botijões clandestinos no Rio é muito comum. Uma série de bombas-relógios se espalham também por bairros residenciais. O risco maior está em cozinhas abastecidas com cilindros interligados em recintos fechados. “Se a fiscalização percorresse o centro e a zona sul, encontraria vários exemplos parecidos com o do restaurante que explodiu. Falta esclarecimento e maior rigor das autoridades”, alertou Carvalho. Uma dessas minas tem endereço sabido: é o edifício residencial conhecido como “Balança, Mas Não Cai”, nas imediações do Sambódromo, na Cidade Nova, que passou a contar com botijões depois que a rede de abastecimento apresentou problemas.
O edifício Riqueza, onde funcionava o restaurante que explodiu, estava em processo de licenciamento do seu plano de segurança junto ao Corpo de Bombeiros. No ano passado, chegou até a ser vistoriado por integrantes da corporação, que fizeram exigências, mas não foram às lojas do térreo porque elas estavam fora do plano de emergência. Nos documentos, não havia nenhuma menção às instalações de gás do estabelecimento do andar térreo. O Filé Carioca funcionava havia três anos com alvará provisório da prefeitura, sempre renovado mesmo sem a regularização do abastecimento de gás. Apesar de a legislação local que trata da prevenção contra incêndios datar de 1977, muitos prédios construídos anteriormente ainda não foram regularizados. E fica por isso mesmo.
O ex-conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ) e especialista no assunto Antônio Gerson de Carvalho alerta que o uso de botijões clandestinos no Rio é muito comum. Uma série de bombas-relógios se espalham também por bairros residenciais. O risco maior está em cozinhas abastecidas com cilindros interligados em recintos fechados. “Se a fiscalização percorresse o centro e a zona sul, encontraria vários exemplos parecidos com o do restaurante que explodiu. Falta esclarecimento e maior rigor das autoridades”, alertou Carvalho. Uma dessas minas tem endereço sabido: é o edifício residencial conhecido como “Balança, Mas Não Cai”, nas imediações do Sambódromo, na Cidade Nova, que passou a contar com botijões depois que a rede de abastecimento apresentou problemas.
O edifício Riqueza, onde funcionava o restaurante que explodiu, estava em processo de licenciamento do seu plano de segurança junto ao Corpo de Bombeiros. No ano passado, chegou até a ser vistoriado por integrantes da corporação, que fizeram exigências, mas não foram às lojas do térreo porque elas estavam fora do plano de emergência. Nos documentos, não havia nenhuma menção às instalações de gás do estabelecimento do andar térreo. O Filé Carioca funcionava havia três anos com alvará provisório da prefeitura, sempre renovado mesmo sem a regularização do abastecimento de gás. Apesar de a legislação local que trata da prevenção contra incêndios datar de 1977, muitos prédios construídos anteriormente ainda não foram regularizados. E fica por isso mesmo.
CHORO
A comoção tomou conta da praça Tiradentes, que virou um cenário de guerra após o episódio
As autoridades recomendam o uso do combustível canalizado quando há rede disponível, mas os botijões podem ser utilizados desde que fiquem em local arejado. Trancafiados num subsolo, jamais. O laudo oficial da perícia só deve ficar pronto em duas semanas, mas todas as evidências são de que o estabelecimento estocava botijões nesse depósito. Três deles chegaram a ser encontrados nos escombros. “Fazemos um trabalho intenso no centro, onde os prédios são mais antigos e foram construídos anteriormente à legislação atual. Mas é difícil identificar todos os lugares em que se burlam as normas”, admite o secretário estadual de Defesa Civil e comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões.
“É triste ver nosso produto envolvido numa tragédia dessas. Se seguirmos as normas, não há perigo. Mas locais que trabalham ilegalmente acabam escondendo os botijões, o que acarreta acúmulo de gás”, diz o presidente do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Gás, Sérgio Bandeira de Mello. Enquanto depósitos de recipientes não são fiscalizados por serem marginais, estabelecimentos comerciais com letreiro em ruas agitadas, que usam o combustível, também escapam facilmente da cobrança das autoridades. Nem os acidentes mudam o cenário. Há dois anos, uma lanchonete próxima do local do acidente da semana passada, na esquina das ruas Buenos Aires e Primeiro de Março, explodiu, ferindo uma pessoa.
Para o pesquisador da Coppe (Coordenadoria de Pós-Graduação em Engenharia) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Moacyr Duarte, o cuidado com esse combustível tem que ser redobrado. “O GLP é um gás muito pesado. Quando vaza, ele tem maior facilidade de se acumular em um ambiente. Diferentemente do que ocorre com o gás natural, que tem uma capacidade maior de dispersão e busca seus meios de saída, o GLP fica preservado como em uma piscina”, alertou. Com o combustível acumulado no ambiente, muitas vezes basta ligar um interruptor para ocorrer a fatalidade. Segundo as primeiras investigações, foi exatamente o que aconteceu no restaurante Filé carioca.
“É triste ver nosso produto envolvido numa tragédia dessas. Se seguirmos as normas, não há perigo. Mas locais que trabalham ilegalmente acabam escondendo os botijões, o que acarreta acúmulo de gás”, diz o presidente do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Gás, Sérgio Bandeira de Mello. Enquanto depósitos de recipientes não são fiscalizados por serem marginais, estabelecimentos comerciais com letreiro em ruas agitadas, que usam o combustível, também escapam facilmente da cobrança das autoridades. Nem os acidentes mudam o cenário. Há dois anos, uma lanchonete próxima do local do acidente da semana passada, na esquina das ruas Buenos Aires e Primeiro de Março, explodiu, ferindo uma pessoa.
Para o pesquisador da Coppe (Coordenadoria de Pós-Graduação em Engenharia) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Moacyr Duarte, o cuidado com esse combustível tem que ser redobrado. “O GLP é um gás muito pesado. Quando vaza, ele tem maior facilidade de se acumular em um ambiente. Diferentemente do que ocorre com o gás natural, que tem uma capacidade maior de dispersão e busca seus meios de saída, o GLP fica preservado como em uma piscina”, alertou. Com o combustível acumulado no ambiente, muitas vezes basta ligar um interruptor para ocorrer a fatalidade. Segundo as primeiras investigações, foi exatamente o que aconteceu no restaurante Filé carioca.
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