domingo, 16 de outubro de 2011

O Pan do improviso



Obras atrasadas e problemas de infraestrutura mostram por que Guadalajara esteve ameaçada de perder o evento esportivo mais importante das américas

Edson Franco e João Castellano (fotos), enviados especiais a Guadalajara, México
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ATRASO
No Centro Aquático, uma arquibancada para 1.500 lugares está sendo preparada às pressas
Trabalhadores parafusam assentos improvisados enquanto nadadores vencem as águas das piscinas. Pedestres duelam com a lama que cerca o ginásio que abrigará as provas de atletismo. Motoristas atropelam a tinta gasta das faixas preferenciais para veículos que prestam serviços. Esse era o cenário dois dias antes de a cidade mexicana de Guadalajara abrigar a abertura dos 16° Jogos Pan-Americanos. Para piorar o desalinho entre a organização e o cumprimento do cronograma, o furacão Jova resolveu soprar a costa do Pacífico. Chegou sem muita intensidade, mas foi o suficiente para motivar uma chuva inclemente. Quem passou os últimos três dias na cidade não tem ideia de como ela fica iluminada pelo sol. Mas não há tempo para lamentos e os funcionários se entregam em turnos de até 15 horas para deixar tudo minimamente em ordem. 

Campeão em gerar exclamações do tipo “isso não vai ficar pronto” é o Estádio Telmex de Atletismo. Como em outras praças, a organização cuidou para que a parte ocupada pelos atletas estivesse perfeita. Assim, a pista está pronta e foi homologada emergencialmente na terça-feira 11. Mas ela é uma ilha cercada de fios, pilhas de materiais e máquinas correndo para dar uma última aplainada no terreno. Os banheiros estão prontos, mas não há água, e só agora as plantas decorativas começam a chegar. “Trabalhamos sem parar para que tudo esteja bonito e as pessoas levem uma boa lembrança daqui”, diz o jardineiro Pedro Mateos. O problema maior para a plateia será superar a lama entre o transporte e os jardins que começam a ganhar forma. E isso só será resolvido caso pare de chover ou se um primeiro recorde for estabelecido nos Jogos: o de calçamento mais rápido. 

Problemas como esse não tiram o sono dos responsáveis pela garantia do sucesso das competições. Até porque a situação já foi pior. Há dois anos, a cidade mexicana correu o risco de perder o Pan para a canadense Toronto, que abrigará o evento em 2015. “Foi só há uns seis meses que essa pressão diminuiu”, diz Mario Vázquez Raña, presidente da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa). Mesmo questões que estavam solucionadas acabaram precisando de adaptações. É o caso do imponente e bem equipado Centro Aquático Scotiabank. “O ginásio estava pronto desde fevereiro para as competições, mas aí foram vendidos mais ingressos do que o esperado”, afirma Luis Rosas, diretor dos esportes aquáticos no Pan. “Agora estamos ampliando a capacidade em mais 1.500 lugares.” Por conta disso, uma arquibancada improvisada está sendo montada ao ritmo de 300 assentos por dia.
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LAMA
O estádio de atletismo está em obras
Fora das praças de competição, Guadalajara ainda quebra a cabeça para tornar mais fluido um trânsito que, mesmo sem um evento desse porte, já é um eficiente gerador de estresse. Para tanto, a administração da cidade resolveu nomear as artérias que ligam os principais pontos do Pan como “exclusivas” e “preferenciais”. Nelas, uma faixa foi pintada indicando que a utilização ali seria prioridade dos veículos que tenham algum vínculo com a organização dos Jogos. Mesmo com a presença dos policiais – e há muitos deles em Guadalajara –, os motoristas passeiam pelas faixas sem a menor cerimônia.

Para os organizadores, nada disso será problema. Eles apostam na experiência de uma cidade que já foi sede de eventos mundiais como a Primeira Cúpula de Chefes de Estado, em 1991, além de ter abrigado a lendária Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo de 1970. Sobre ela, o diretor de esportes aquáticos do Pan lembra um episódio. “Na época, eu nadava em um clube daqui chamado Providência”, conta Rosas. “Para tentar receber o Brasil em seus campos de treinamento, os diretores mandaram importar o gramado do seu país. Ao vê-lo, a comissão técnica não teve dúvida em colocar o time no nosso clube”, lembra o mexicano, que, dois anos depois, foi goleiro de um combinado do clube Providência que enfrentou uma seleção brasileira sênior no Maracanã. O convite para jogar no Brasil foi uma retribuição à gentileza do povo de Guadalajara. A mesma simpatia é visível hoje em dia e pode se tornar uma arma poderosa para melhorar a imagem dos Jogos
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