Da Rede Brasil Atual
Candidato derrotado à Presidência em 2010, ex-governador de São Paulo fala sobre política, economia, saúde e educação, e retoma lista de criações que consagrou na última campanha eleitoral
Em discurso na Força Sindical, Serra criticou a presidenta Dilma pelos discursos em que cobrou da Europa atuação política e medidas econômicas contra a crise financeira (Foto: Jaélcio Santana/ Imprensa Força Sindical)
São Paulo – O ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), demonstrou nesta sexta-feira (7) que as eleições de 2010 podem ter acabado para a quase totalidade da população, mas ele mantém a visão de que os problemas do governo federal são generalizados. Em um discurso feito durante palestra na Força Sindical, na região central de São Paulo, o candidato duas vezes derrotado na corrida ao Palácio do Planalto criticou a presidenta Dilma Rousseff pelos discursos em que cobrou da Europa atuação política e medidas econômicas contra a crise financeira.
“Acho que o governo exagera no impacto da crise para poder ter mais solidariedade interna. Exagera. Vai a presidente lá dar conselhos mostrando que está por fora da situação da Europa. Imagina um sujeito chegar lá e dar um palpite sobre a economia europeia. É muito difícil.” Esta semana, durante a passagem por Bélgica, Bulgária e Turquia, Dilma reiterou a visão de que é preciso ter coordenação dos problemas.
Apesar de criticar Dilma, Serra traçou sua própria visão sobre os problemas do Velho Continente. “Lá eles fizeram uma moeda única. E esse troço não funciona. Foi o maior erro de política econômica mundial que se fez. Para fazer uma moeda única tinha de ter feito uma política fiscal única, um Tesouro único. Tinha de virar, de cara, uma federação”, garantiu, apontando que os problemas são graves e não se resolverão rapidamente.
Classificado por tucanos que integram a central sindical como um “quase presidente” ou o “próximo presidente”, Serra fez um discurso de 50 minutos enfatizando principalmente a economia, mas opinou também sobre saúde, política externa, drogas e educação. Frente à gafe do anfitrião, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical,que apresentou o tucano como médico, ele respondeu: “Nunca me meti a médico. Não entendo nada de saúde. A única coisa que fiz foi administrar a saúde (como ministro, de 1998 a 2002), com gente que entende do meu lado”.
FAT, Codefat, PIB, TJLP, BNDES, IPI. Como em outras ocasiões, a palestra de Serra sobre economia foi inteligível para poucos, atrativa para menos e embalou o sono de tantos outros. Como virou marca registrada nas eleições de 2010, inclusive rendendo brincadeiras em redes sociais, o ex-governador atribuiu a si uma série de criações. Os medicamentos genéricos; o treinamento de profissionais de saúde; a emenda constitucional 29 (que fixa percentuais mínimos do orçamento para investimento em saúde); a ofensiva contra o cigarro; o índice de emprego do Dieese; a triplicação dos investimentos produtivos de São Paulo.
“A coisa mais importante que fiz na vida legislativa foi o seguro-desemprego e o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Digo com toda a simplicidade”, afirmou. Ele garante ainda que foi responsável por garantir que 40% das verbas do FAT sejam destinadas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A lista de feitos que o tucano atribui a si próprio encontrou freio apenas quando ele disse ter realizado, na prefeitura, o Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT). O deputado Paulinho, timidamente, corrigiu: “É...Serra, este foi meu pedido”.
Mais críticas
Com ou sem criações, Serra vê um grande problema nas políticas do governo Dilma Rousseff, dando sequência aos problemas vistos na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. “Não fico torcendo contra. A questão é saber como o Brasil fica bem dentro dessa (crise)”, afirmou. Ele coloca a desindustrialização como o principal problema econômico atual, e vê um compasso acelerado no fechamento do parque industrial brasileiro, ameaçado por produtos importados principalmente de países asiáticos. Serra criticou o atual nível do real ante o dólar, muito alto para as exportações, e em especial a taxa de juros.
O ex-governador considera que houve um erro grande durante a primeira etapa da crise, entre 2008 e 2009, quando pensa que teria sido possível baixar em quatro ou cinco pontos a taxa básica de juros da economia, a Selic, que agora ensaia trajetória de queda. “Queria, sem qualquer pretensão do ponto de vista político, me colocar à disposição para este debate pensando em nosso país”, destacou.
Ele vê um erro na atuação do BNDES por considerar que o banco está fomentando atividades que não criam impostos nem empregos, chama de “chinfrim” o plano Brasil Maior, de incentivos à indústria, e garante que ninguém se deu conta do pagamento, por Dilma, do que chamou de "Bolsa Uruguai". “O caso do Uruguai passou batido na imprensa. Ninguém comentou”, pontuou. Ele se referia à exceção feita ao Uruguai no aumento da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados. Para ele, é preciso proteger a indústria, que "cria bons empregos e traz progresso tecnológico". O resto, bem se sabe, é "trololó".
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