Durante a maior festa do esporte mundial, pode ser mais barato ir a Paris do que pegar a ponte aérea Rio-São Paulo. Saiba o que o governo pretende fazer para controlar os preços abusivos
Mariana Queiroz Barboza
Ainda restam 11 vagas para a definição das
seleções que vão disputar a Copa do Mundo de 2014, mas os turistas que
pretendem participar do evento devem preparar os bolsos – não sem uma
certa dose de espanto. As passagens aéreas para as cidades-sede, no
período de competições, chegam a custar o mesmo que bilhetes de viagens
internacionais para destinos badalados, como Paris e Nova York. A pedido
da ISTOÉ, o site de comparação de preços Mundi fez um levantamento
sobre os preços das passagens domésticas durante a competição. Um voo
ida e volta do Rio de Janeiro a São Paulo para o jogo de abertura, em 12
de junho do ano que vem, custa, em média R$ 1.742,13. O valor pode
superar R$ 2,3 mil, dependendo da categoria do bilhete adquirido. Mais
preocupante ainda: a tendência é que, com a proximidade da Copa, os
preços aumentem. Na semana passada, era possível comprar uma passagem,
da mesma ponte aérea, por R$ 158 – o que dá uma assombrosa diferença de
mais de 1.000%. Quando o destino é Fortaleza, onde o Brasil jogará em 17
de junho, o valor médio da passagem saindo de Recife (a cidade onde a
procura por esse trecho é maior), a 630 quilômetros do destino, é de R$
3.817,94. Se, na mesma data, o turista decidir passar uma semana em
Paris, a 7.300 quilômetros de distância, ele pode fazer isso gastando
30% menos. “É uma perversidade ilógica ser mais barato dar a volta ao
mundo do que chegar ao Nordeste na Copa”, diz Flávio Dino, presidente da
Embratur, órgão responsável por promover o turismo brasileiro no
mercado internacional.
Instalada a polêmica, o governo federal criou, na semana passada, um grupo interministerial para acompanhar as tarifas de serviços. “Não permitiremos abusos”, afirmou Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Casa Civil. “Vamos utilizar todos os instrumentos à disposição do Estado para garantir a defesa dos direitos do consumidor. ” A discussão foi iniciada dentro do Comitê de Operações Especiais, do qual fazem parte a Secretaria de Aviação Civil, a Anac, a Embratur e a Fifa, entre outras entidades. A Embratur propôs a criação de um teto para as passagens aéreas. Embora mal recebida, a ideia ainda não foi descartada como última alternativa, de acordo com fontes do governo. Para Vinícius Lummertz, secretário Nacional de Políticas do Ministério do Turismo, a saída é negociar com os empresários pelo bom senso. “Maxibilizar a rentabilidade em um mês talvez não seja tão compensatório diante do dano à imagem das companhias”, diz Lummertz. “Foi uma surpresa essa variação de preços tão alta. Ela deforma o valor de uma atividade que só existe graças a uma concessão pública.” Caso não se chegue a um acordo, órgãos de defesa da concorrência, como a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), serão ativados.
Instalada a polêmica, o governo federal criou, na semana passada, um grupo interministerial para acompanhar as tarifas de serviços. “Não permitiremos abusos”, afirmou Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Casa Civil. “Vamos utilizar todos os instrumentos à disposição do Estado para garantir a defesa dos direitos do consumidor. ” A discussão foi iniciada dentro do Comitê de Operações Especiais, do qual fazem parte a Secretaria de Aviação Civil, a Anac, a Embratur e a Fifa, entre outras entidades. A Embratur propôs a criação de um teto para as passagens aéreas. Embora mal recebida, a ideia ainda não foi descartada como última alternativa, de acordo com fontes do governo. Para Vinícius Lummertz, secretário Nacional de Políticas do Ministério do Turismo, a saída é negociar com os empresários pelo bom senso. “Maxibilizar a rentabilidade em um mês talvez não seja tão compensatório diante do dano à imagem das companhias”, diz Lummertz. “Foi uma surpresa essa variação de preços tão alta. Ela deforma o valor de uma atividade que só existe graças a uma concessão pública.” Caso não se chegue a um acordo, órgãos de defesa da concorrência, como a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), serão ativados.
Mais cautelosa, a Anac trabalha com a
possibilidade de “flexibilização” de voos, o que significa aumentar as
viagens para os destinos mais procurados durante os jogos e remanejar os
voos com menos demanda. Marcelo Guaranys, presidente da agência, disse
que ainda ocorrerão mudanças na oferta de voos por conta do sorteio das
chaves e definição dos locais dos jogos, em dezembro. A solicitação de
alterações nos trajetos à Anac deverá começar no mês seguinte. Mas a
polêmica pode tocar em um ponto delicado para as empresas do setor. Os
técnicos lembram que, juntas, TAM e Gol dominam cerca de 75% do mercado
interno e que esse seria o melhor momento para retomar a discussão sobre
a abertura ao capital estrangeiro nas companhias aéreas. Hoje ele está
restrito a 20% das ações de empresas que operam voos domésticos no
Brasil. Uma abertura maior resultaria na ampliação da oferta e,
provavelmente, em tarifas mais competitivas. As aéreas argumentam que,
por ora, só com a redução de custos do setor, principalmente os
relativos ao combustível, elas poderiam diminuir os preços. Apesar de
tímido, um movimento nesse sentido já começou. Rio Grande do Sul e
Distrito Federal baixaram o ICMS sobre o querosene de aviação neste ano,
e o governo federal beneficiou as aéreas com uma desoneração fiscal de
cerca de R$ 300 milhões no Plano Brasil Maior.
Os hotéis não escaparam à inflação da Copa.
Uma pesquisa da Embratur mostrou que as tarifas praticadas durante a
competição estarão até 583% mais caras nas cidades-sede do que as
cobradas em julho e agosto deste ano. Em todas elas, o reajuste previsto
era superior a 100%. Uma diária no Rio de Janeiro para a data da final
da Copa, por exemplo, já custa, em média, US$ 500. A título de
comparação, na final da Copa de 2010, em Johannesburgo, na África do
Sul, a tarifa média dos hotéis foi de US$ 200. Em Berlim, em 2006, de
US$ 300. Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis e
sócio do Natal Praia Hotel, Enrico Fermi diz que, assim que o Brasil foi
escolhido como país-sede, em 2007, a Match, mediadora da Fifa na venda
de acomodação para turistas estrangeiros, procurou a rede hoteleira.
Foram fechados 840 pré-contratos com as tarifas em moeda local já
definidas e guiadas por um índice de reajuste nacional. Como os
contratos são confidenciais, não se sabe qual foi o índice utilizado.
“Querer fazer política social com esse evento é um erro”, diz Fermi.
“Copa é um grande negócio.” A comissão da Match, de até 30%, está dentro
dos parâmetros do mercado nacional e esse percentual, segundo a
empresa, é dividido com agentes. Procurada por ISTOÉ para comentar sua
política de preços, a Match enviou a seguinte resposta: “Os preços não
são produto de um abuso da Match. A indústria holeteira do Brasil, por
tradição de muitas décadas, sempre gozou de rendimentos elevados durante
os grandes eventos, como congressos, Carnaval, Ano-Novo e Fórmula 1.”
Qualquer pessoa que já tenha planejado uma
viagem ao Nordeste ou ao Rio de Janeiro em datas festivas, como Carnaval
ou Ano-Novo, sabe que a alta temporada muitas vezes é a saída perfeita
para a prática de preços abusivos. “Esse movimento é natural, porque a
oferta não consegue acompanhar a demanda e meios alternativos, como
carro e ônibus, são pouco viáveis num país de dimensões continentais”,
diz Paulo Vicente Alves, professor da Fundação Dom Cabral. As companhias
aéreas dizem que seu modelo tarifário é dinâmico e, quando a procura é
maior e a disponibilidade de assentos menor, os preços tendem a subir.
Por isso, recomendam a compra antecipada. Segundo a Abear, associação
que representa Avianca, Azul, Gol, TAM e Trip, desde quando entrou em
vigor o regime de liberdade tarifária no País, em 2002, o número de
passageiros triplicou, ultrapassando os 100 milhões em 2012, e o preço
médio dos bilhetes caiu 43%. “O oportunismo é muito grande”, afirma o
presidente da Embratur, Flávio Dino. “Os empresários não podem ser
pautados pelo imediatismo, como se o Brasil fosse acabar amanhã.”
Embora a Fifa tenha disponibilizado – numa faixa específica para a meia-entrada em alguns jogos da fase de grupos – os ingressos mais baratos da história da competição (a R$ 30), a Copa no Brasil pode ficar na memória dos amantes de futebol como a mais cara de todos os tempos.
Embora a Fifa tenha disponibilizado – numa faixa específica para a meia-entrada em alguns jogos da fase de grupos – os ingressos mais baratos da história da competição (a R$ 30), a Copa no Brasil pode ficar na memória dos amantes de futebol como a mais cara de todos os tempos.
* Buscas realizadas entre julho e outubro de 2013 Fontes: Mundi, Ministério do Turismo, Ministério do Esporte e FGV Projetos
fotos: ED. FERREIRA/AE; Ricardo Marques/Folhapress
Fontes : Ministério do Turismo, Ministério do Esporte e FGV Projetos
http://istoe.com.br/reportagens/330405_A+GANANCIA+DA+COPA
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