O critério do que é notícia, para a mídia brasileira, é peculiar.
Notícia é, essencialmente, aquilo que é ruim para os adversários. Pode ser um fato, pode ser um rumor, pode ser até uma mentira descarada – mas é “notícia”.
Do outro lado, tudo aquilo que seja considerado problemático para os amigos, e para os próprios donos das empresas jornalísticas, não é notícia.
Por exemplo: o helicóptero dos Perrellas. Meia tonelada de pasta de cocaína não comoveu a mídia brasileira. O assunto, nem bem chegou, sumiu do noticiário.
A mídia não produziu uma única reportagem decente sobre os Perrellas.
O DCM publicou, dias atrás, uma denúncia do Wikeleaks segundo a qual Roseana Sarney tem 150 milhões de dólares em Caimãs.
Nem uma só linha sobre o assunto, como se 150 milhões de dólares fossem 150 reais. O motivo não é muito nobre: como Roseana, alguns barões da mídia têm, também, reservas em paraísos fiscais.
Silêncio sobre este tema, portanto.
Em compensação, alguns personagens não saem do noticiário. Uma publicação dá alguma coisa, verdadeira ou mentirosa, manipulada ou objetiva – e todos os veículos reproduzem.
Genoino é um desses personagens.
Agora mesmo: você pode ler, em toda a mídia, uma notícia sobre uma casa que Genoino alugou por dois meses em Brasília. Ele alugou porque, num capricho, Joaquim Barbosa proibiu que ele ficasse em sua casa em São Paulo no período de prisão domiciliar.
E então tudo que a mídia economizou sobre o helicóptero ela gasta com Genoino.
O valor do aluguel é usado para tentar desmoralizá-lo: 4 000 reais, segundo o Estadão. Se são dois meses, são 8 000 reais.
Gastar 8 mil reais para que ele tenha o mínimo de conforto, nos próximos dois meses, vira uma barbaridade.
A mídia se vale dos analfabetos políticos, e estes, sempre manipulados, respondem como se espera. Dizem, nas redes sociais, que está provado que Genoino tem muito dinheiro, e que é uma farsa a vaquinha para pagar a dívida – outro capricho da Justiça – de 660 000 reais que impuseram a ele.
Repórter nenhum vai atrás dos fatos.
Ouçamos Miruna, a combativa filha de Genoino. Ninguém faz isso, embora ela esteja à disposição da mídia para esclarecimentos.
Nós a procuramos.
“Estamos arcando toda a família com essa despesa”, diz Miruna. “Estou deixando o apartamento onde moro com meu marido e meus filhos e mudando-me para a casa dos meus pais para reduzir os gastos e podermos fazer frente a esta situação. Em vez de denunciarem que estamos tendo de pagar para meu pai cumprir a domiciliar, ficam especulando com a casa. É o fim do mundo…”
Para entender os bastidores das redações, uma repórter do Estadão, particularmente, faz um cerco obstinado a Genoino, e também a Dirceu.
Foi ela que falou na casa, assim como tinha falado na “empresa de Dirceu no Panamá”. Ela se chama Andreza Matais, e é casada com Tuca Pinheiro, assessor de Roberto Freire, presidente do PPS.
Freire se dedica a combater o “lulopetismo”, o “lulodilmismo”, o “lulismo”, o “dilmismo” e todas as variações do gênero.
Freire, recentemente, levou a sério, ou fingiu, a afirmação de um ex-delegado segundo a qual Lula fora informante da ditadura.
Nem FHC, que abomina Lula, alimentou isso. Como se sabe, num programa Manhattan Connection FHC desfez a tentativa de Diogo Mainardi de criar barulho em torno da “denúncia”. FHC negou a calúnia peremptoriamente, o que decretou a morte prematura de um livro que iria “sacudir o Brasil”.
A “informação” sai de Andreza já devidamente envenenada pela militância política do marido. É um conflito de interesses mascarado – mas claríssimo.
E toda a mídia reproduz Andreza bovinamente, ou melhor, malandramente. Checar “informações” negativas para adversários ninguém, na imprensa, faz. Todos as publicam às cegas para leitores analfabetos políticos que vão consumi-las sem triagem nenhuma.
A mídia brasileira, de certa forma, pode ser resumida naquilo que ela não deu sobre o helicóptero dos Perrellas e naquilo que ela dá, e dá, e dá, sobre os suspeitos de sempre.
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