QUA, 08/10/2014 - 16:02
ATUALIZADO EM 08/10/2014 - 16:53
Jornal GGN - Em meio a mais um clássico entre PT e PSDB no segundo turno presidencial, a Folha de S. Paulo engrossa a campanha anti-petista calcada em denúncias sem apuração. Nesta quarta-feira (8), a manchete da página principal do portal informa que "Homens ligados ao PT são detidos com mala de dinheiro".
O internauta que teve o trabalho de clicar na matéria "exclusiva" e assinada por três repórteres descobriu, ao final, que não há informação que justique a origem "suspeita" do dinheiro, embora a Folha tenha dado destaque a isso logo no lead - primeiro parágrafo da reportagem.
O caso consiste em a Polícia Federal ter abordado três homens - um empresário, um ex-assessor do Ministério das Cidades e um terceiro cuja identidade não foi revelada pela Folha - que transportavam R$ 116 mil em um avião, na noite de terça (7).
A Polícia colheu depoimento dos três e os liberou em seguida. Nenhuma informação sobre a instauração de um inquérito ou mesmo sobre o que a PF disse acerca o montante é transmitida ao leitor.
A Folha encerra o texto destacando que "Carregar dinheiro em moeda nacional dentro do país, independentemente do valor, não é crime, mas o portador precisa saber explicar e comprovar a origem dele". O jornal admite que não conseguiu falar com nenhum dos homens citados.
Sem informações mais robustas, a Folha se limita a dar decretar uma ação suspeita em um texto cuja intenção é associar os homens detidos pela PF à campanha dos petistas Dilma Rousseff, em 2010, e Fernando Pimentel, eleito governador de Minas Gerais no último dia 5.
Os dois homens revelados pela Folha são Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, conhecido como Bené, e Marcier Trombiere Moreira. Este último é o ex-assessor do Ministério das Cidades, orgão que a Folha frisou ser "dominado pelo PP, partido aliado de Dilma." Já Bené, de acordo com o periódico, "esteve no centro do escândalo no qual foi descoberto um bunker para produção de dossiês contra tucanos", na pré-campanha da eleição de 2010.
Fiscalização seletiva
Há menos de uma semana, um caso de apreensão de pouco mais de R$ 100 mil em dinheiro vivo pela Polícia Federal foi reportado pelo Estadão e repercutido em outros jornais, incluindo a Folha.
Tratava-se de um assessor de Bruno Covas (PSDB), tucano graúdo de São Paulo, neto do ex-governador Mário Covas e deputado estadual. Bruno é um dos principais nomes do PSDB no Estado, sendo cogitado para disputar, futuramente, a sucessão do governador Geraldo Alckmin.
No caso, a PF teve de instaurar um inquérito para apurar a origem do dinheiro e dos cheques apreendidos porque o assessor flagrado com o dinheiro num aeroporto não soube dar maiores explicações. As informações iniciais dão conta de que o dinheiro seria usado para pagar serviços prestados à campanha de reeleição de Bruno em uma cidade do interior.
A apreensão não recebeu espaço de destaque na homepage da Folha, como aconteceu com o caso de Bené e o ex-assessor do Ministério das Cidades nesta quarta. Mas a fiscalização e indignação seletiva da grande mídia já é conhecida de quem faz análise de mídia, principalmente quando a pauta é sobre a cobertura de casos de corrupção em época de eleição.
Os escândalos na mídia em 2010
O Manchetômetro - projeto de análise da cobertura eleitoral dos jornais O Globo, Estadão, Folha e Jornal Nacional - lançou essa semana um estudo sobre o espaço que os escândalos que envolvem PT e PSDB receberam na mídia desde o início de 2014.
O gráfico abaixo ratifica a sensação que o leitor ou telespectador mais atento pode depreender do acompanhamento diário dos veículos de comunicação estudados. Em suma: os escândalos do PT recebem muito mais atenção do que os crimes praticados em governo tucanos. De janeiro para cá, a média é de cinco notícias contra o PT para uma contra o PSDB.
À parte a análise quantitativa, vale lembrar que escândalos como a falta de água em São Paulo passaram batidos ou foram mal explicados na televisão. Os jornais da Globo trataram do assunto comprando a versão oficial de que a culpa do colapso do Sistema Cantareira é de São Pedro, e não dos erros cometidos pela Sabesp e pelo governo Alckmin na gestão hídrica do Estado na última década.
Em 2010, quando Dilma e José Serra disputaram o segundo turno, a cobertura da mídia foi igualmente tendenciosa. Segundo o Manchetômetro, seis escândalos tiveram destaque, cinco negativos para o PT e sua candidata, Dilma Rousseff, e um negativo para o PSDB. No total da cobertura foram 1501 textos sobre os “escândalos do PT” e 82 sobre o único “escândalo do PSDB”.
http://jornalggn.com.br/noticia/folha-engrossa-campanha-anti-pt-em-meio-a-eleicao
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