quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Uso do volume morto faz sistema entrar em colapso, diz especialista


Coordenadora do Instituto Socioambiental, Marussia Whately, expõe erros do governo de São Paulo no Sistema Cantareira
 
 
Jornal GGN - "O uso do volume morto do Sistema Cantareira é uma medida questionável, que coloca em risco um dos maiores sistemas produtores do Brasil, e não necessariamente é uma solução. Ao contrário, mostra a falta de preparo do governo do Estado, da Sabesp ou mesmo do sistema de gestão de recursos hídricos estadual, e mesmo federal, para uma crise como essa", disse a especialista em recursos hídricos e coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA) Marussia Whately.
 
A entrevista foi concedida à ONG Greenpeace, que lançou há duas semanas sua revista online. A primeira edição trouxe a reportagem "Água: Crise e Colapso em São Paulo", concluindo que a atual situação da falta de água foi ocasionada pela omissão e descaso do governo de São Paulo e de gestores da Sabesp.
 
"São uma série de medidas que poderiam ser adotadas e não foram. Já em dezembro, o Sistema Cantareira estava em um nível baixo, já existiam projeções de clima para o período, para os três meses seguintes, e era muito possível se falar: 'olha, não vai chover nesse verão, então a gente precisa fazer a redução de consumo'. Isso nos teria dado um pouco mais de sobrevida no sistema antes de entrar no volume morto", defende Marussia Whately.
 
A especialista explica que o problema é também questão climática, por chover menos nos últimos três verões. Mas que, por isso mesmo, deveria ter preparo e gestão para lidar com essa "tendência daqui para frente", de falta de chuvas. "Se você for pensar que nos últimos 10 anos, desde que se fez a outorga do Sistema Cantareira em 2004, existia um compromisso de que a Sabesp diminuisse a dependência desse Sistema, e pouco foi feito nesse sentido", disse.
 
 
Whately afirma que, agora, quem pagará pelo descaso é a população. "A situação é realmente grave, no Estado de São Paulo, não só na Região Metropolitana. A maior gravidade na Região Metropolitana vai incidir sobre o abastecimento urbano, que não é o maior usuário de água na Bacia do Alto Tietê, então você tem a parte industrial, que usa bastante água, a própria diluição de esgoto, que é o Pinheiros, a Billings, Guarapiranga, essa conexão desses corpos d'água, acabam usando bastante água. Mas ao que parece, a conta vai cair no colo do consumidor".
 
Outro problema apontado pela coordenadora do Instituto Socioambiental foi a omissão do governo para a real crise em que se encontra o Sistema Cantareira. "A primeira [medida], a curto prazo, é que a situação seja colocada com mais transparência e que a sociedade, sociedade civil organizada, o setor industrial, os setores todos que utilizam a água sejam chamados a conversar. A garantia de água para o abastecimento humano é prioridade".
 
Ainda explica as consequências de se utilizar o volume morto, uma questão não discutida com a sociedade e que "resolve" momentaneamente a falta de água, mas sem prevenções e prejudicando a médio e longo prazo. "É importante a gente entender, o que é o volume morto? É a água morta para o abastecimento. Ela é uma água que precisa ficar lá para que o sistema não entre em colapso. Porque se você retirar aquela água, não só a represa seca, mas todo o entorno dela, os lençois freaticos e toda a capacidade que aquela represa vai ter de se recompor a hora que começar a chover fica muito comprometida", expôs.
 
Assista a entrevista completa:
 
 
A reportagem também traz relatos da população que está sofrendo com o racionamento. E conclui: "no último dia nove de setembro, Catarina de Albuquerque, relatora da ONU (Organização das Nações Unidas), declarou que a crise da água não pode ser justificada pela estiagem: cabe ao Estado prever e prevenir a população de circunstâncias como esta. Diante da crise, o recém-eleito governador Geraldo Alckmin continua negando a interrupção do abastecimento – praticada há pelo menos três meses – e descartou a necessidade de racionamento em 2014".

http://jornalggn.com.br/noticia/uso-do-volume-morto-faz-sistema-entrar-em-colapso-diz-especialista

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