quinta-feira, 23 de junho de 2011

O reino encantado de Neymar

A vida em família, as conquistas amorosas, os carros luxuosos, as mansões e os contratos milionários do maior esportista brasileiro da atualidade

por Amauri Segalla e Rodrigo Cardoso foto: Caio Guatelli/Nike


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MOLECAGEM
"Eu gasto o meu dinheiro com roupas e brincos"
Prodígio. Fantástico. Extraordinário. Espetacular. Mágico. Rei. Os jornais do Brasil e do Exterior não economizaram adjetivos para expressar o talento do paulista de Mogi das Cruzes Neymar da Silva Santos Júnior, que na quarta-feira 22 entrou para a galeria dos heróis do esporte brasileiro ao conquistar pelo Santos a Taça Libertadores da América, o torneio de clubes mais importante do continente americano. Aos 19 anos, Neymar repetiu, quatro décadas depois, o feito de Pelé, que venceu a competição contra o mesmo Peñarol, tradicional time do Uruguai. Assim como o maior jogador da história do futebol, Neymar foi o protagonista do espetáculo (ele fez o primeiro gol da vitória santista por 2 a 1) e confirmou a irresistível vocação para os holofotes. Mas a força de Neymar não se limita aos gramados. Além de um atacante excepcional e com potencial para se tornar o novo número 1 do planeta, ele é um astro pop por natureza. Estiloso no penteado e no figurino, farto em sorrisos, desinibido diante das câmeras, conquistador de mulheres, apaixonado por Porsches, Ferraris e mansões, habilidoso para fazer dinheiro, ágil nos negócios, Neymar é dotado daquela chama que diferencia os seres normais dos gigantes de verdade. Trata-se de uma celebridade por completo – papel que, com maestria, adora cultivar.

Neymar é um fenômeno desde cedo. Aos 14 anos, foi fazer uma espécie de estágio no galático time do Real Madrid, na capital espanhola, que tinha no elenco craques como Ronaldo e Robinho e o francês Zidane.
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INTIMIDADE
Perfumes, chocolates, cartas de fãs e um ursinho de pelúcia no armário compõem o
espaço do quarto que Neymar divide com Paulo Henrique Ganso no CT Rei Pelé
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A experiência acabaria por transformá-lo em um adolescente milionário. Sob o risco de perder seu futuro craque, a diretoria do Santos entrou em ação: pagou R$ 1 milhão ao jogador para que ele permanecesse nas categorias de base do clube. “Acertamos o valor e o pai do Neymar ligou para o filho pedindo para ele voltar ao Brasil”, diz Marcelo Teixeira, ex-presidente do Santos. “Fui tachado de louco.” Com o dinheiro, a família comprou o primeiro imóvel, um apartamento ao lado da Vila Belmiro, em Santos – que, dois anos atrás, foi trocado por uma cobertura triplex avaliada em cerca de R$ 1,5 milhão. Quando o jogador ainda não ganhava o suficiente para sustentar a família, ele, o pai, a mãe e a irmã moravam em um cômodo na casa da avó, na periferia de São Vicente. À medida que o adolescente crescia, o nível de vida da família melhorava. Aos 15 anos, Neymar ganhava R$ 10 mil por mês. Aos 16, R$ 25 mil. Aos 17, quando virou titular no time principal do Santos, vieram os primeiros patrocínios. Em abril de 2011, já como estrela da Seleção e um dos principais garotos-propaganda da televisão brasileira, adquiriu, por R$ 4 milhões, uma mansão no condomínio Jardim Acapulco, no Guarujá.

O salário atual de R$ 160 mil é baixo para os padrões brasileiros – Rogério Ceni, ídolo do São Paulo, recebe R$ 300 mil por mês; Ronaldinho Gaúcho, do Flamengo, R$ 700 mil. A diferença é que nenhum deles é capaz de atrair tantos patrocinadores quanto Neymar, que tem cinco contratos de publicidade vigentes (leia quadro ao lado). Sua imagem e seu potencial são tão fortes que empresas como a Nike querem tê-lo por perto durante muito tempo. O craque recebe cerca de R$ 1 milhão por ano da fabricante de materiais esportivos e o contrato vale até 2022, quando ele terá 30 anos. Detalhe: o valor pode ser multiplicado. Uma cláusula prevê remuneração para títulos conquistados e convocações para a Seleção Brasileira – algo que, convenhamos, deve acontecer com frequência. Se uma empresa quiser desembolsar uma quantia fixa, sem definir prêmios por desempenho, a fatura chega a R$ 1,5 milhão por ano. “Há uma fila de interessados em fazer publicidade com o Neymar”, diz o advogado Lissandro Silva Florêncio, que analisa todos os contratos antes de o jogador assiná-los. “Mas a maioria das propostas é rejeitada por não acrescentar nada à imagem dele.”
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OS AMIGOS
O pastor Lobato, da Igreja Batista Peniel, que recebe o dízimo de
R$ 40 mil do jogador, e o cabeleireiro Salles, autor do corte moicano
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Neymar é o símbolo acabado de uma tendência que começou com Ronaldo: a de atletas que parecem estrelas do rock e administram suas carreiras de maneira estritamente profissional. O Santos criou um departamento para cuidar apenas da imagem do jogador, hoje administrada pelo especialista em marketing Eduardo Musa. Além do advogado Lissandro Florêncio e do empresário Wagner Ribeiro (que cuida dos contratos ligados ao futebol), Neymar também tem seus passos acompanhados pela 9nine, a empresa de mar­keting esportivo recém-criada por Ronaldo. O craque santista está se preparando para brilhar sob os holofotes. Ele já fez três cursos de media training, como são chamados os treinamentos em que os participantes recebem dicas sobre como se comportar em uma entrevista e de respostas adequadas para cada tipo de situação. Uma vez por semana tem aulas de inglês e se consulta regularmente com uma fonoaudióloga, que busca melhorar sua dicção e ajudá-lo a enfrentar o assédio permanente de fãs e jornalistas.

Toda a equipe é comandada por Neymar da Silva Santos, que batizou o rebento com o mesmo nome e sobrenome. Ele não desgruda do filho. Não à toa, é chamado, entre amigos, de “mãe de miss”. Embora farto, o dinheiro é administrado com mão de ferro. Neymar pode gastar, para suas despesas pessoais, R$ 15 mil por mês, valor que fica disponível em seus cartões de crédito e débito. Acima disso, precisa consultar o chefe. A maior parte da mesada é desembolsada em restaurantes japoneses e no McDonald’s, compras no shopping Miramar e baladas em casas noturnas e shows de pagode. Mimos mais caros podem ser adquiridos, desde que com a devida autorização paterna. “O Neymar passou um tempão me enchendo o saco porque queria um carro novo”, afirma o pai. “Decidi fazer uma aposta, achando que ele não iria cumprir.” Os dois combinaram o seguinte: se Neymar fosse artilheiro, campeão sul-americano sub-20 e fizesse dois gols na final, ele, que já guiava um Volvo XC60, ganharia um Porsche Panamera turbo. “Depois que ele fez o primeiro gol contra o Uruguai, torci para que parasse por aí”, diz o pai. “Não teve jeito, o moleque fez o segundo gol e ainda tirou um sarro na comemoração.” Basta dar uma espiada no YouTube para confirmar a história: ao marcar pela segunda vez na vitória de 6 a 0 do Brasil sobre o Uruguai, Neymar imita o gesto de um motorista, como se conduzisse um volante de carro imaginário.
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A FAMÍLIA
O craque na infância, ainda sem ousar no penteado; entre a mãe, Nadine,
o pai Neymar e a irmã, Rafaela: sinuca é um dos passatempos
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Na quarta-feira 22, no mesmo dia da final da Libertadores, a reportagem de ISTOÉ fez uma entrevista exclusiva com Neymar horas antes do início da partida, passou a manhã com o pai e mentor do craque e teve acesso ao seu quarto na blindada concentração do Santos – algo raríssimo em tempos de máxima proteção aos jogadores. “Tenho só 19 anos e ainda muito o que aprender”, disse o craque na ocasião. Seu estilo de vida não é nada discreto. A começar pelo cabelo cortado ao estilo moicano que lembra os punks dos anos 1980. Neymar usa o penteado desde os 15 anos. Hoje, as madeixas recebem tintura loira, alisamento progressivo e gel fixador. “Ele ficou menos feio depois que eu passei a fazer moicano nele”, brinca Cosme Salles, 25 anos, o cabeleireiro oficial do craque que é requisitado pelo menos uma vez por semana. No Geométricos Cabeleireiros, um modesto salão com adesivos colados no espelho, colegas de Salles se referem a Neymar como “avatar”, apelido que pegou. “Eu não entendo: ele gasta mó nota no cabelo e continua feio? Parece uma cacatua”, diverte-se um dos funcionários do salão, que confidencia que o jogador sente ciúme da irmã Rafaela, hoje com 15 anos. “Ela é mó gatinha, bonita mesmo. A gente tira uma onda com isso e o Juninho fica no veneno.” Juninho é outro apelido de Neymar, usado apenas por familiares e amigos íntimos.

Os colegas cometem algumas inconfidências: o craque do Santos, garantem eles, depila as pernas, faz as unhas da mão e do pé e gosta sempre de “perfume exalando”. No quarto de número 22 do Centro de Treinamento Rei Pelé, em Santos, que Neymar divide com o parceiro de time Paulo Henrique Ganso, perfumes espalhados pela cômoda dividem espaço com chocolates, cartas de fãs e um urso de pelúcia. Tênis bom, roupas do momento e relógios – ele tem uma coleção – também são artigos inseparáveis. “No futuro, ele vai colecionar mulheres”, conta um funcionário santista. “A quantidade que ele atrai, muitas delas mais velhas, é impressionante. Outro dia, ele disse que elas gostam de beliscar a bunda dele.” A fama de garoto prodígio o colocou no foco feminino. Na época em que estudava no colégio Lupe Picasso, que frequentou até o segundo ano do ensino médio, Neymar já foi flagrado beijando garotas perto de um dos canais que demarcam a praia de Santos. Quando passou a ter carteira de motorista e a dirigir carros de luxo, seu esquema passou a ser outro. “Ele pegava uma menina num prédio, saía com ela e dali a pouco a trazia de volta”, diz um amigo próximo. “Minutos depois, ele encontrava uma outra garota duas esquinas à frente.”
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PRECOCE
Com a conquista da Taça Libertadores, Neymar soma
cinco títulos na curta carreira como profissional

Foram os hormônios em ebulição do adolescente Neymar que o colocaram em choque com Dorival Júnior, ex-técnico do Santos. Em maio do ano passado, Neymar e mais quatro jogadores rumaram para São Paulo para ver um show do rapper Cris Brown. De lá, emendaram uma festa particular em um hotel com dançarinas de um programa de tevê. A balada varou a madrugada. Resultado: Neymar e outros três jogadores chegaram atrasados à concentração. Dias depois, o craque se irritou durante um jogo, ao ser impedido por Dorival Júnior de bater um pênalti. O técnico suspendeu o craque por atos de indisciplina, mas quem acabou perdendo o emprego foi o treinador – a parte mais frágil da história, já que Neymar, com seu imenso talento, não poderia ser dispensado. Foi o período mais conturbado vivido pelo craque. Nessa época, até o pastor da Igreja Batista Peniel, que a família frequenta há 12 anos às quintas-feiras e aos domingos, entrou em campo para salvar o garoto. “O Neymar se perdeu um pouco quando brigou com o Dorival”, diz o pastor Belmiro Paiva Neto. “Ele procurou o nosso presidente do ministério, os dois conversaram e o Juninho pediu perdão.”

Nos cultos, o jogador, que foi batizado nas águas da praia do Gonzaguinha, em 2008, costuma sentar nas últimas fileiras. De boné para esconder o rosto, fica tímido e não gosta de dar seu testemunho no microfone. “Um dia peguei no pé dele”, diz o pastor Newton Glória Lobato. “Ele vai no Jô Soares, bagunça e aqui tem vergonha?” Presidente do ministério, Lobato avisou os subordinados e os fiéis que, durante o culto, se alguém incomodar o craque, ele imediatamente para a reunião. Desde os 12 anos Neymar deposita seu dízimo em um envelope. Hoje, sua oferta mensal, segundo pessoas próximas, é de R$ 40 mil. O boleiro tem tanta moral entre as lideranças religiosas que chegou a cometer a heresia de, em uma pelada realizada entre fiéis e pastores, aplicar um chapéu no pastor Neto. “Falar que levei um chapéu do Neymar é algo glorioso”, diverte-se ele.

O pastor Lobato espera em breve ter uma conversa com a ovelha mais valiosa de seu rebanho sobre a paternidade. No dia 8 de maio, horas antes da final do Campeonato Paulista contra o Corinthians, Neymar descobriu que uma de suas conquistas, uma garota de 17 anos de classe média de Santos (com que não mantém um relacionamento estável) estava grávida.“Chorei quando soube que seria pai”, disse Neymar à ISTOÉ. “No começo, senti medo. Depois, alegria.” A mãe de Neymar também foi às lágrimas ao saber da novidade. O pai ficou irritado. “Puxa vida, dei tantos conselhos e ele vacilou”, diz. “Meu filho contou que a camisinha estourou.” Para o pai, o correto seria que o craque, mesmo com preservativo, fosse mais cuidadoso na hora do clímax. Dezesseis dias depois de saber da gravidez, na véspera da semifinal da Taça Libertadores, contra o Cerro Porteño, no Paraguai, a mãe da criança informou Neymar sobre o sexo da criança: um menino. “É uma responsabilidade nova e agora estou curtindo”, diz o craque. “Estamos conversando sobre os nomes, não definimos nada.”

O assunto incomoda o pai de Neymar. “Quem sabe eles amadurecem e vão morar juntos.” Na manhã da quarta-feira 22, ele não conseguia parar de falar sobre o jogo que seria disputado horas mais tarde. “Estou mais ansioso que o time inteiro do Santos”, disse em um escritório na zona sul de São Paulo, enquanto atendia um rosário de ligações de amigos, parentes e pessoal do staff do craque. A conquista do título foi também uma realização para ele. Ex-atacante de times pequenos do interior de São Paulo, Neymar pai jamais brilhou nos gramados. “Se você nunca ouviu falar de mim como jogador, é que devo ter sido ruim mesmo.” Sua vida foi difícil. Atleta peregrino (“jogava três meses aqui, quatro meses ali”), teve a carreira abreviada por uma batida de carro, que deslocou sua bacia e quase o impediu de andar de novo. A tragédia poderia ter sido maior. Aos 4 meses, Neymar estava no banco de trás do automóvel, deitado no banco e nem sequer preso pelo cinto de segurança. O bebê rolou para o assoalho, mas não se machucou. “Foi um milagre ele ter saído ileso”, diz o pai. Neymar parece ser realmente um milagre em todos os sentidos.


“Chorei quando soube do meu filho”
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Em entrevista exclusiva ao repórter Rodrigo Cardoso concedida na quarta-feira 22, horas antes da final da Libertadores, Neymar fala sobre família, sonhos e, claro, futebol
ISTOÉ – Com o que você sonha quando dorme?
Neymar – Sonho todo dia, dormindo ou acordado. Normalmente sonho com alguma coisa relacionada a futebol.

ISTOÉ – Você acha que conseguiria morar sozinho fora do Brasil? Ou melhor: gostaria de morar sozinho?
Neymar – Sozinho? Nem no Brasil eu moraria sozinho. Não me vejo vivendo sem a minha família.

ISTOÉ – Do que você sente saudade do período em que morava na casa da sua avó, em São Vicente?
Neymar – De jogar futebol na rua.

ISTOÉ – Qual a última vez que você chorou?
Neymar – Quando soube que seria pai. No começo por medo. Depois, por alegria.

ISTOÉ – O que é ser pai aos 19 anos?
Neymar – É uma responsabilidade nova, mas estou curtindo.

ISTOÉ – Já pensou em um nome para o filho?
Neymar – Estamos conversando sobre nomes, mas ainda não definimos nada.

ISTOÉ – Qual sonho de consumo gostaria de realizar?
Neymar – Não sou muito de gastar.

ISTOÉ – Mas em que produtos você gasta seu dinheiro?
Neymar – Eu gasto meu dinheiro com roupa e brinco.

ISTOÉ – Que sonho realizou?
Neymar – O sonho que tinha era dar uma casa para minha família.Graças a Deus, já realizei.

ISTOÉ – Se hoje fosse seu último dia de vida, qual seria o último desejo?
Neymar – Ser campeão do mundo pelo Brasil.

ISTOÉ – Em relação à sua personalidade, em qual aspecto você precisa melhorar?
Neymar – Ah, em tudo. Tenho só 19 anos e ainda muito o que aprender. O que já aprendi é que a maturidade só vem com o tempo, não adianta forçar.
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